No Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum devemos ter presente a certeza de que Jesus nos coloca quando andamos em seu caminho: “Não tenhais medo!”(cf. Mt 10,26).
O Evangelho que escutamos neste Domingo é parte do capítulo décimo do Evangelho de São Mateus (cf. Mt 10,26-33), que traz o Discurso Apostólico de Jesus: aí, ele chama os Doze – como ouvimos no Domingo passado (cf. Mt 9,16-10,8), previne seus discípulos para as incompreensões e perseguições que sofrerão, exorta-os a não terem medo de falar, afirma claramente que ele mesmo, Cristo, é causa de divisão e, finalmente, renova o convite para segui-lo. Então, estejamos atentos, pois o Senhor nos está falando dos desafios próprios da missão de ser cristão, ontem como hoje!
Às vezes, encontramos pessoas angustiadas e atemorizadas pelas dificuldades que se agigantam quando só se conta com as forças humanas para enfrenta-los. Vemos também por vezes cristãos que parecem atenazados por um medo envergonhado de falar claramente de Deus, de dizer não à mentira, de mostrar, quando necessário, a sua condição de discípulos fiéis de Cristo; têm medo do que os outros podem dizer, de um comentário desfavorável, de chamar atenção em ambientes de costumes paganizados, em que os valores econômicos são muitas vezes os valores supremos?
Jesus diz-nos que não nos preocupemos demasiado com a calúnia e a murmuração, se nos chegam a atingir. Não temais, pois, porque não há nada de oculto que não venha a descobrir-se. Que pena se mais tarde se viesse a descobrir que tivemos medo de proclamar aos quatro ventos a verdade que o Senhor nos confiou! O que vos digo em segredo, dizei-o à luz, e o que vos digo ao ouvido, pregai-o sobre os telhados. Se alguma vez nos calamos, que seja porque nesse momento o mais oportuno é calar-se por prudência sobrenatural, por caridade; nunca por temor ou por covardia. Nós, cristãos não somos amigos das sombras e dos cantos escuros, mas da luz, da claridade na vida e na Palavra.
Não podemos ter medo de perder o brilho de um prestígio apenas aparente, ou de sofrer a murmuração ou até a calúnia, por não irmos contra a corrente ou contra a moda do momento. Pois todo aquele que me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante de meu Pai que está nos céus, diz-nos o Senhor. Esta promessa divina compensa de longe as incompreensões que possamos sofrer por vivermos a nossa fé com valentia e audácia santas.
Devemos ser fortes e valorosos diante das dificuldades, como é próprio dos filhos de Deus: Não tenhais medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perder a alma e o corpo no inferno”. Jesus exorta-nos a não temer nada, exceto o pecado, que tira a amizade com Deus e conduz à condenação eterna.
O temor de Deus é um dom do Espírito Santo que facilita a luta decidida contra aquilo que nos separa d’Ele e que nos move a fugir das ocasiões de pecar, a não confiar em nós mesmos, a ter presente a todo o momento que temos os pés de barros, frágeis e quebradiços. Os males corporais, e a própria morte, não são nada em comparação com os males da alma, com o pecado.
A filiação divina fortalece-nos no meio das fraquezas pessoais, dos obstáculos com que tropeçamos, das dificuldades de um ambiente afastado de Deus que às vezes se opõe agressivamente aos ideais cristãos. Mas o Senhor está comigo, como soldado forte, diz-nos o profeta Jeremias na primeira leitura da Missa (cf. Jr 20,10-13). É o grito de esperança e de segura confiança do Profeta, quando se encontra só, no meio dos seus inimigos. Meu Pai-Deus está comigo como soldado forte, podemos nós repetir sempre que vejamos o perigo rondar-nos e o horizonte fechar-se. O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?
Contudo, devemos manifestar a nossa fortaleza e valentia em situações menos transcendentes: recusando com bons modos, mas com firmeza, um convite para ir a um lugar ou para assistir a um espetáculo em que um cristão deve sentir-se mal; manifestando desacordo com determinada orientação que os professores querem dar à educação das crianças. Muitas vezes, são as pequenas covardias que refreiam ou impedem um apostolado de horizontes amplos. Paralelamente, são também as “pequenas valentias” que tornam uma vida eficaz.
Lembremos o que falou São Paulo (segunda leitura da liturgia – Rm 5,12-15), e que a Igreja não deve se acovardar diante das tentativas de calar a sua voz e ceifar a sua profecia: “A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre nós!” (cf. Rm 5,15). Por isso não tenhais medo de testemunhar o Ressuscitado neste mundo conturbado que vivemos, fiéis a promessa de Jesus: “aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, eu me declararei em favor dele diante de meu Pai”(cf. Mt 10,32).