Não tenhais medo

    Para encorajar seus discípulos Jesus deixou uma mensagem consoladora: “Não tenhais medo” (Mt 10,26-33). Aqueles que O haveriam de testemunhar vivendo sua doutrina e proclamando sua divindade passariam por muitas provações exteriores e interiores, mas deveriam ter confiança para assim serem vitoriosos. Para aqueles, porém, que O confessassem perante os homens Ele seria o grande intercessor diante do Pai que está nos céus. Seus autênticos seguidores teriam a força e a confiança de uma fé que luta contra os que querem matar o corpo e a alma, os inimigos mortais. Combate contra tudo que pode mandar para a perdição na geena, lugar de um castigo eterno. Trata-se, portanto, não de temores passageiros, mas do medo que pode tomar conta do cristão quando tem que proclamar sua fé e seu engajamento em Cristo e em tudo que Ele ensinou. Ele deixou o exemplo, dado que foi perseguido e condenado à morte, mas ressuscitou imortal e impassível e com Ele e por Ele seu seguidor também triunfa do mal. O que encoraja o cristão e o imuniza contra o medo é o próprio Mestre divino. Ele deixou uma garantia, pois “não há nada encoberto que não se deva tornar conhecido, nem oculto que não se venha a saber”. De fato Deus acompanha o testemunho de seus filhos e filhas e quer para eles uma recompensa eterna, pois no dia do juízo final todas as boas ações virão a lume para glória dos que foram, realmente, fiéis. Àqueles que se tornaram um reflexo entre os homens da bondade divina será patenteado um reino de felicidade perene. Nem a violência dos poderosos, nem as doutrinas de falsos profetas os impediram de penetrar os segredos de Deus. Nele encontraram a fonte da verdadeira vida e pela Sua luz depararam luminosidade inefável. É que Deus envolve em graças aqueles que O servem e que Lhe oferecem sua vida em sacrifício santo numa adoração verdadeira. Clocaram em prática o que exortou São Paulo, ou seja, não tomaram como modelo o mundo presente, mas se transformaram e fizeram sempre a vontade de Deus. Procuraram tudo que é bom, que Lhe agradava e que era perfeito (Rm 12,1-2). Portanto, aqueles que são portadores de tudo que Deus revelou, nada têm a temer nem da opressão física, nem da solidão, nem das transformações culturais. Com a graça divina o seguidor de Cristo é invencível. O cristão possui, isto sim, o temor de Deus, não dos homens. O temor de Deus, no sentido bíblico, é o respeito e a afeição profunda ao Criador de tudo. É a reverência à sua majestade infinita e uma espontaneidade filial para obedecê-lo. É a delicadeza humana em resposta à amabilidade de seu Senhor. Ele se ocupa de cada um de seus filhos e conta até todos os cabelos de sua cabeça, como afirma Jesus no Evangelho. O amor reverencial a Deus bane o temor dos que querem matar o corpo e a alma e podem lançar nas trevas eternas. Não obstante suas limitações e suas fraquezas os que temem a Deus se declaram por Ele diante dos homens em qualquer circunstância. O combate é contínuo alerta Jesus, mas enraizado nele o cristão não desvanece jamais. O testemunho, porém, que o discípulo de Cristo oferece ao mundo não é nem agressivo, nem constrangedor, mas não cede a nenhuma tentação de impaciência. Lança, porém, por toda parte uma mensagem de doçura, envolta na mesma misericórdia que flui do Coração amabilíssimo do Filho de Deus. Quem nele confia nada tem a temer das forças do mal, perante as quais não se inquieta. É preciso proclamar corajosamente as maravilhas de Deus sem recear a hostilidade de tudo que conspira contra a salvação eterna do cristão. Nada o deve paralisar na conquista da felicidade perene junto de Deus. Cumpre não duvidar da potência da Palavra deste Deus, apesar das invectivas de seus inimigos. Esta Palavra permanece e permanecerá sempre viva, atual, salvadora para os que não se deixam levar pelos embustes da perversidade. Quem guarda a fé exorciza os fantasmas do medo perante as calamidades causadas pelos profetas do erro e seus sequazes. A verdade que vem de Deus liberta e salva.  Com razão, porém, Jesus está a dizer a seu seguidor: para se acautelar contra o Adversário de sua alma, o Tentador, o Inimigo do Bem que conduz à perdição eterna. Nenhuma tentação, contudo, levará de vencida quem é fiel a seu Senhor, que não permitirá que quem deseja lhe pertencer seja tentado acima de suas forças. Assim sendo, nada de medo, pois o seguidor de Cristo mora na casa da confiança e da esperança e foge, isto sim, de todas as ocasiões que podem conduzir à geena. Então cada um pode afastar todo temor e exclamar com São Paulo: “Se Deus é por nós, quem estará contra nós?” (Rm 8,31). Louvores, portanto, a este Deus que garante a vitória de todos que o temem e amam.

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