“Pessoas vagam pelas ruas de Homs conversando sozinhas, em uma atmosfera de solidão, medo e tristeza”, relata Dom Arbach
Após os massacres ocorridos no oeste da Síria durante a última semana, que, de acordo com relatórios e estimativas disponíveis, deixaram 1.000 mortos, o Arcebispo de Homs, Jean Abdo Arbach, disse à ACN – Ajuda à Igreja que Sofre que “não queremos mais derramamento de sangue. Apelamos à unidade e à reconciliação. Depois de 14 anos de guerra, não precisamos de outro conflito.” O arcebispo condenou os ataques que foram atribuídos a militantes do grupo HTS, atualmente no poder na Síria, que realizaram os ataques após uma emboscada às forças de segurança do governo. “Isso é muito doloroso. Peço justiça, porque assassinar mulheres e crianças não é uma coisa boa para a Síria”, disse o arcebispo.
O Arcebispo Arbach descreveu a difícil situação que a Síria enfrenta após a queda do regime de Assad: “As pessoas não têm empregos, há falta de comida e de remédios. Muitas pessoas estão perguntando quando isso vai acabar, não conseguem ver um futuro e querem sair”, disse.
Segundo o prelado, tornou-se comum ver pessoas vagando pelas ruas de Homs conversando sozinhas em uma atmosfera de solidão, medo e tristeza. O arcebispo pede o levantamento das sanções econômicas internacionais, que continuam a ter um efeito profundo em um país que ainda está em uma situação muito frágil.
Permanecendo na Síria
A Igreja síria enfrenta grandes desafios para atender às necessidades de seus fiéis. O Arcebispo de Homs explica que “estamos apoiando nossos fiéis em todos os sentidos da palavra: pagando aluguel, fornecendo medicamentos, alimentos e roupas, e também apoiando-os espiritualmente para que se sintam próximos de Deus, para encorajá-los a permanecer em sua terra, em seu país, e para preservar as raízes da Síria, que são os cristãos”. O Arcebispo Arbach agradece à ACN por todo o apoio que tem prestado à Igreja na Síria, para ajudar a comunidade cristã síria.
O líder da Igreja síria chama a atenção, mais uma vez, para o risco real de a população cristã no Oriente Médio desaparecer completamente. “Encorajo as pessoas a esperarem e a permanecerem firmes, porque sem os cristãos não pode haver futuro para a Síria. Os cristãos são as raízes da Síria e a Síria é o berço do cristianismo. Em Damasco ainda podemos encontrar os lugares onde São Paulo se converteu ao cristianismo no primeiro século. Ainda temos igrejas e mosteiros do primeiro século, e mantivemos vivo o aramaico, a língua que Jesus falava.”
Ataques indiscriminados
Os ataques indiscriminados ocorridos nos dias 8 e 9 de março, na região de Latakia e Tartus, no oeste da Síria, mataram mais de 1.000 pessoas, incluindo famílias inteiras. Os alauitas, um grupo minoritário muçulmano xiita, foram particularmente visados. Os ataques foram atribuídos a militantes do grupo HTS, que liderou a derrubada do governo sírio anterior.
A Síria está passando por um momento de grande incerteza desde a queda do regime de Bashar Al Assad em 8 de dezembro. O poder está atualmente nas mãos de um governo interino, liderado pelo presidente Ahmed Al Sharaa, que prometeu uma transição para novas eleições democráticas.
Arcebispo em “Noite das Testemunhas”
O Arcebispo de Homs participará da vigília “Noite das Testemunhas”, na Catedral de Almudena, Madri, no dia 14 de março. Esta vigília de oração e testemunho pelos cristãos perseguidos em todo o mundo será presidida pelo Cardeal José Cobo e acompanhada pelo Hakuna Group Music. A participação na vigília é gratuita e também pode ser acompanhada através do canal da ACN Espanha no YouTube.