NAÇÃO DIVIDIDA

                “Todo reino dividido em grupos que lutam entre si, será arruinado. E toda cidade ou família dividida em grupos que lutam entre si, não poderá durar.” (Mt 12,25). Essa citação bíblica, proferida por Jesus em seu famoso discurso sobre o mistério do Reino que propunha como ideal, não poderia ser mais alentadora e alertadora no momento que atravessamos. Aliás, foi dessa mesma citação que Abraham Lincoln, presidente dos EUA, se utilizou para iniciar sua vitoriosa campanha de liderança política em seu país. Foi derrotado num primeiro momento. Perdeu sua indicação para a disputa ao Senado.

                Todavia, seu discurso tornou-se símbolo do perigo de desunião a que incorre um povo dividido entre escravocratas e libertários. Uma imagem quase poética das divisões que nos afetam. Liberdade ou escravidão? “Ou ficar a Pátria livre, ou….”  Todo e qualquer povo que se preze e possui uma visão ampla dos ideais que aspira, não ignora o perigo da subserviência escravocrata. Ninguém é simpático aos regimes ditatoriais, sejam estes bem definidos ou disfarçados em ideais libertários que iludam apenas.

                 Tanto que o famoso discurso de Lincoln, inspirado nas palavras de Jesus, deixou-nos um trecho assaz oportuno. Dizia: “Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer. Eu acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não espero a divisão da União. Eu não espero ver a casa dividida – mas espero que ela deixe de ser dividida. Ela terá que se tornar toda uma coisa ou outra”. Lincoln perdeu sua indicação momentânea, mas ganhou a simpatia popular unindo seu povo e conquistando posteriormente o título de grande estadista, tornando-se o mais popular dos presidentes norte-americanos.

                Não nos iludamos. O que está em jogo neste momento é uma disputa muito mais pragmática do que escolhas pessoais sobre esta ou aquela corrente político-partidária. Esquerda ou direita? Ou meia-volta, volver. A cegueira toma conta e os ânimos se alternam sem que possamos visualizar muitos dos perigos que rondam nossa soberania. O fato de este ou aquele grupo partidário ocupar ostensivamente nossas ruas e praças é apenas uma manifestação democrática, enquanto parte do jogo político, mas o será muito mais nocivo ao país se estender suas ações para a violência ou truculência de suas ações inconstitucionais ou antissociais. Neste jogo, a vitória de uma das partes só será legítima se respeitadas suas regras previamente estabelecidas.

                Fica difícil opinar em meio ao fanatismo de alguns. Todos fazem suas leituras tentando adivinhar seu lado, seu ganho, seus truques, suas estratégias, seus interesses… Fica difícil. Mas, observando a pregação cristã, constatamos que Ele sempre se dirigia a todos, “aos cegos e surdos”, aos que se faziam de desentendidos ou negligenciavam suas convicções, a todos que ouviam sua mensagem reconciliadora, mas preferiam a tese dos interesses próprios, da defesa empobrecida de opiniões pessoais, apequenadas em seus guetos de ambições ou poderes. Jesus não fazia acepção de pessoas ou grupos ou movimentos. Procurava um ponto comum para edificar e proclamar a vida e a liberdade de todos. Eis o que nos falta no momento. Uma visão maior do bem comum. Uma compreensão de que os ideais que nos unem são infinitamente maiores do que as arestas que nos dividem. Nada mais justo, no momento, do que abandonar esse sectarismo apaixonado por questões meramente transitórias e buscar a unidade na diversidade dos nossos ideais. Por isso, cinco minutos de oração, como nos pede a Igreja do Brasil nesta Semana da Pátria, talvez nos ajude muito mais. Não custa tentar.

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