Morricone fala do último trabalho com Tarantino

Ennio Morricone marcou a história do cinema e da música e, em 2015, enfrentou um novo desafio ao assinar a trilha sonora do último filme de Quentin Tarantino: “The Hateful Eight”. Com este trabalho, o maestro venceu recentemente o Globo de Ouro e está novamente entre os favoritos ao Oscar, que o vê candidato pela sexta vez.

Alguns dos grandes filmes da história do cinema ficaram também conhecidos pela sua trilha musical, verdadeiras obras-primas. Ennio Morricone, aos 86 anos, entre lembranças e paixão, continua a ler roteiros e escrever partituras, dedicando-se, com inexaurível entusiasmo e muita humildade, à compor a trilha sonora de filmes. A última das quais, uma grande composição de quase meia hora encomendada por Quentin Tarantino para seu último filme, um western – gênero tão amado pelo diretor americano. O filme é ambientado no período pós-guerra civil estadunidense e gravado dentro de um grande depósito, rodeado por uma tempestade de neve, onde os oito personagens eliminam-se com engano e ferocidade.

Morricone trabalhou no filme, como não poderia deixar de ser, imprimindo seu próprio estilo, mas sem algumas referências às suas históricas colaborações com Sergio Leone, Duccio Tessari e Sergio Corbucci, como conta aos microfones da Rádio Vaticano:

“Espero que se perceba o estilo e a minha personalidade. Eu para Tarantino, tendo de fazer após tantos anos um filme western, devia cortar com o passado musical de Leone. Assim, cortei precisamente qualquer proveniência da minha ideia musical para um filme que eles dizem ser western, mas que para mim não é um western… É um filme de aventura, na neve, situado perfeitamente em uma condição histórica, pós-guerra da Secessão. Assim, me veio precisamente a ideia de fazer um filme completamente diferente em relação aos filmes que eu já havia feito e era muito necessário porque, falando com o diretor, ele ficou mudo: no sentido de que me deixou fazer aquilo que eu queria. Ele foi à Praga quando eu gravei, lhe agradou a música quando a ouviu e estava muito contente. Também eu fiquei contente quando vi o filme: me agradou muitíssimo!”.

RV: Maestro, o senhor sempre escolheu gêneros e diretores com muita atenção, tendo bem presente a importância da trilha sonora. O fizeste também desta vez com Tarantino….

“Quando aceito um encargo fico muito preocupado, porque é uma responsabilidade! Assim, quando vi o filme, fiquei muito contente. O considero um importante diretor, com grande técnica e também fantasia… Existe um pouco de desacordo, mas o que pode fazer um pouco de discordância? Começa o filme e a atriz já tem um olho roxo…”

RV: Para o filme do Tarantino, o que foi escrito exatamente?

“Eu escrevi quatro peças para o filme, quatro peças mais um brevíssimo de 30 segundos, um grande crescente… As outras peças são praticamente uma sinfonia”.

RV: Precisamente por esta trilha, o senhor venceu seu terceiro Globo de Ouro, último de uma série de reconhecimentos internacionais na sua longa carreira….

“O que eu pensei? Pensei ter ganho este Prêmio e… basta. Não é que sobe para cabeça. Este trabalho é feito de preocupações, podem imaginar… Quando eu aceito um filme, mesmo quando era mais jovem, o filme deve me agradar, a música deve me agradar, mas deve agradar também ao diretor e – coincidentemente – deve agradar também ao público, que não deve se sentir incomodado pela música…..Assim, todos estes problemas, são problemas que angustiam. Portanto, quando aceito um filme é uma responsabilidade”.

RV: Concorre também ao Oscar como melhor trilha sonora, depois daquele pela carreira recebido em 2007 e as cinco candidaturas, entre os quais por “Mission”. Aquela vez a estatueta foi precisamente subtraída de você. Como vive esta nova corrida que terminará na noite de 28 de fevereiro em Los Angeles?

“Mas eu já ganhei uma…Se me derem, bem; se não me derem, não deram…Não é que insista, gostaria! Até mesmo vou a Los Angeles….. Me agrada! Mas se não me derem, não posso tirá-la de quem vai ganhá-la”!

Fonte: Rádio Vaticano

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