Missionário e indígena mortos em 1976 têm causa de martírio iniciada
No último dia 15 de julho, foram celebrados os 40 anos da morte de padre salesiano Rodolfo Lunkenbein e do indígena Simão Cristino Koge Kudugodu (Simão Bororo), assassinados por causa da luta pela demarcação da reserva de Meruri, em Mato Grosso. A Inspetoria Missionária Salesiana de Campo Grande (MS) e outros integrantes da Congregação, representantes de entidades eclesiais e da sociedade que trabalham em defesa dos indígenas participaram de celebração na reserva indígena Meruri, a cerca de 450 km de Cuiabá (MT), na diocese de Barra do Garças (MT).
A celebração foi presidida pelo bispo local, dom Protógenes Luft. O presidente da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), padre Gildásio Mendes dos Santos, fez a homilia da missa, e destacou a importância da memória do martírio para toda a Igreja, no contexto do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. “Neste ano tão importante que o papa Francisco nos convida para celebrar e abraçar a misericórdia, o testemunho de fé em Jesus Cristo do padre Rodolfo e a aliança de sangue entre o sacerdote e o indígena, convidam-nos para renovar profundamente nosso amor a Jesus Cristo e sermos discípulos-missionários para os outros, como viveu e testemunhou nosso pai dom Bosco”, ressaltou.
Com participação de pessoas da comunidade indígena que conheceram pessoalmente padre Rodolfo e de familiares de Simão Bororo, a celebração foi realizada em dois momentos. Até o Ato Penitencial, aconteceu no cemitério onde o missionário e o indígena foram sepultados. Em procissão, os participantes seguiram até a Praça dos Mártires. Após a missa, a comunidade Bororo apresentou danças típicas e interpretou o “Hino da caminhada dos mártires”, do bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), dom Pedro Casaldáliga, e o “Hino Rodolfo e Simão, vidas pela vida”, escrito pelo padre Osmar Bezutte, salesiano.
Processo de declaração de martírio
Por ocasião da celebração, a Missão Salesiana realizou pedido de abertura de processo para a causa de martírio dos dois memorados à congregação religiosa. O reitor-mor dos salesianos, padre Ángel Fernández Artime, confirmou o início do processo, assumindo as responsabilidades morais e econômicas junto à competente diocese de Barra do Garças e a Congregação das Causas dos Santos, em Roma.
Revista
A memória dos 40 anos da morte de padre Rodolfo e do índio Simão Bororo incentivou a elaboração de uma revista especial por parte da Inspetoria Salesiana de Campo Grande. A publicação possui artigos, depoimentos, cartas, fotografias e textos escritos por padre Rodolfo, além de crônicas dos fatos de Meruri que tornam possível a compreensão do contexto histórico e social da época.
Um dos depoimentos da revista é de dom Pedro Casaldáliga sobre a atuação do padre Rodolfo como missionário. “Eu tenho a impressão clara, convicta, de que o padre Rodolfo foi o missionário Ad Gentes completo e, concretamente, missionário Ad Gentes do Terceiro Mundo, dos pobres, dos povos indígenas. Ele se doou totalmente; se encarnou e doou todas as suas capacidades espirituais, técnicas, o seu jeito, o seu sorriso, o seu olhar transparente, o coração grande, como o próprio corpo. Uma dedicação sempre esperançada. O padre Rodolfo não conhecia o desânimo, não conhecia rupturas na sua dedicação”, escreveu dom Pedro.
Histórico
Padre Rodolfo Lunkenbein, lembrado como o primeiro a dar a vida pela causa indígena, nasceu em 1º de abril de 1939, em Döringstadt, na Alemanha. Ainda adolescente, despertou o desejo de ser missionário ao ter acesso a publicações salesianas.
No Brasil como missionário, fez o noviciado em São Paulo (SP) e o pós-noviciado em Campo Grande, sendo designado para a experiência de aprendizado em Meruri, local onde permaneceu até 1965. Voltou à Alemanha para estudar Teologia e outros cursos que facilitassem a continuação de sua missão no Brasil.
Lunkenbein foi ordenado sacerdote em 29 de junho de 1969, quando pôde voltar a Meruri, onde foi recebido com muito carinho pelos índios Bororos, que lhe deram o nome de Koge Ekureu (Peixe Dourado). O padre foi um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972. Lutou pela demarcação da reserva de Meruri, conquistada no ano de sua morte (1976).
O índio Bororo, Simão Koge Ekudugodu, amigo e companheiro de padre Rodolfo Lunkenbein, nasceu em Meruri, em 27 de outubro de 1937 e foi batizado em 7 de novembro do mesmo ano. Simão era integrante de um grupo de Bororos que acompanharam os missionários padre Pedro Sbardellotto e irmão Jorge Wörz na primeira residência missionária entre os índios Xavantes, na missão de Santa Terezinha, entre os anos de 1957 e 1958. Era o mais jovem do grupo.
Entre 1962 e 1964 participou da construção das primeiras casas de alvenaria para as famílias Bororo de Meruri. Tornou-se pedreiro prático e dedicou o resto de sua vida a este ofício, colaborando na aldeia e na missão entre os seus.
Simão foi assassinado ao tentar defender a vida do padre Rodolfo Lunkenbein, no dia 15 de julho de 1976. Recebeu os últimos sacramentos no hospital de Meruri enquanto recebia também os primeiros socorros da enfermeira irmã Margarida Abatti. Faleceu no avião que o conduzia para ser tratado na cidade, na mesma data.
A sede central do regional do Cimi de Mato Grosso, na Chapada dos Guimarães, recebe o nome de Simão Bororo. A Igreja de Rondonópolis (MT) honra-o na Caminhada dos Mártires, feita anualmente pelas ruas da cidade. Em Meruri, todos os anos é solenemente celebrado o aniversário de seu martírio, junto com o do padre Rodolfo Lunkenbein.
Com informações e foto da Missão Salesiana de Mato Grosso e da Inspetoria Salesiana de Campo Grande
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Fonte: CNBB