Ministério da Reconciliação

                No senso comum, quando uma pessoa inocente é assassinada, consideramos que o problema está resolvido com a punição do assassino. Nos filmes de ação normalmente o malfeitor é morto pelas mãos daquele que foi injustiçado. É o nosso modo humano de pensar e agir. Diferente é o agir de Cristo ressuscitado. Depois de sofrer e ser morto, quando se reencontra ressuscitado com os discípulos, os saúda dizendo: “A paz esteja convosco”. A seguir, lhes concede um dom e uma missão: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados eles serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Atos 5,12-16, Salmo 117, Apocalipse 1,9-19 e João 20,19-31).

    São João Paulo II quis que no segundo domingo da Páscoa fosse celebrada a “Festa da Divina Misericórdia”. Ele viveu na Polônia sob dois regimes ditatoriais – o nazismo e o comunismo russo – que causaram violências extremas, fome, pobreza, destruição de famílias e de instituições. No meio disso, também experimentou a presença de forte de Deus. É testemunha que não basta derrubar uma ditadura, mas se faz necessária a misericórdia, o perdão para restabelecer a fraternidade e a paz.

    Jesus pregado na cruz concedeu o perdão ao ladrão arrependido e a quem o estava matando. É a maneira de Deus colocar limite ao mal e curá-lo. Ao ordenar que os discípulos exercessem o ministério do perdão, cortou pela raiz qualquer tentativa de cultivar vingança. Eles deveriam seguir os mesmos passos do mestre. Os próprios discípulos experimentaram, pela misericórdia do mestre, um novo começo. Pedro o havia negado e os outros se tinham dispersado. Agora recebem o Dom do Espírito Santo e o ministério de promover o perdão.

    Jesus delega de forma perene à Igreja, assistida pelo Espírito Santo, a missão de anunciar a realidade do amor misericordioso. É a terapia diária para curar pequenas e grandes feridas abertas pelo pecado. O Papa Francisco, falecido nesta semana, exerceu com propriedade o ministério da reconciliação. Em 11 de abril de 2015, na Festa da Misericórdia, proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia com a bula Misericordiae vultus – (Jesus) o rosto da misericórdia do Pai. “Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É a condição da nossa salvação” (N.2) “Que a palavra do perdão possa chegar a todos e a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente” (n.19). Pede insistentemente que a Igreja use todos os meios para exercer o ministério da reconciliação, seja pela confissão, indulgências, celebrações penitenciais. No término do Jubileu Extraordinário da Misericórdia escreve a carta Misericórdia e mísera exortando que o tema da misericórdia deve fazer parte da rotina da Igreja.

    Francisco, na carta encíclica Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social dedica todo capítulo “VII: Percurso dum novo encontro” ao tema do perdão entre as pessoas e nações. Guerras, conflitos, explorações abriram tantas feridas na história. “O perdão é precisamente o que permite buscar a justiça sem cair no círculo vicioso da vingança nem na injustiça do esquecimento” (n.252)

    Na bula de proclamação do Jubileu de Esperança, o Papa Francisco insiste no perdão. “Uma tal experiência repleta de perdão não pode deixar de abrir o coração e a mente para perdoar. Perdoar não muda o passado, não pode modificar o que já aconteceu; no entanto, o perdão pode nos permitir mudar o futuro e viver de forma diferente, sem rancor, ódio e vingança. O futuro iluminado pelo perdão permite ler o passado com olhos diferentes, mais serenos, mesmo que ainda banhados de lágrimas” (n.23).

    O grande fruto da misericórdia é a paz. Foi assim que Jesus ressuscitado saudou os discípulos: “A paz esteja convosco!” A Paz é dom que o Cristo deixou aos seus amigos, como bênção destinada a todos os homens e a todos os povos. Não a paz segundo a mentalidade do “mundo”, como equilíbrio de forças, mas uma nova realidade, fruto do Amor de Deus, da sua Misericórdia.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here