Meu Deu, Meu Deus, porque me abandonaste

    Chegamos à celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Percorremos, durante quarenta dias, o tempo quaresmal, para a partir deste domingo iniciarmos a semana maior da nossa fé, que é a Semana Santa. Hoje, Jesus entra em Jerusalém para sofrer a paixão, morte e ressurreição. Durante o tempo comum, acompanhamos Jesus no caminho de subida para Jerusalém e hoje Ele entra na cidade Santa, aclamado pelo povo, esse mesmo povo que hoje o aclama, é o mesmo que dias depois vai pedir a sua condenação.

    Na celebração de hoje, somos convidados a aclamar o Senhor com os nossos ramos nas mãos, assim como o povo de Deus fez há cerca de dois mil anos. Mas temos que aclamá-lo com fé, amor e devoção. Não podemos aclamá-lo e depois, com nossas próprias atitudes, condená-lo diante dos irmãos de nossa comunidade, casa ou trabalho. Participemos com alegria e com fé da missa de hoje e continuemos nossa preparação para a Páscoa, que celebraremos em oito dias.

    Na missa de hoje, teremos dois grandes momentos. Inicia-se com todo o povo reunido na porta da Igreja ao lado de fora ou em outro local ou igreja e é proclamado o Evangelho que narra a entrada de Jesus em Jerusalém, montado num jumentinho e todo o povo o aclama, como o rei dos judeus. Após a proclamação do Evangelho, acontece a procissão e todo o povo aclamando os ramos adentram dentro da Igreja. Depois da procissão, a missa segue como costume e o Evangelho é a narrativa da paixão, já nos preparando para aquilo que vamos celebrar na Sexta-Feira Santa.

    O ato penitencial dessa missa é substituído pela procissão e benção dos ramos. A própria procissão tem o caráter penitencial e entregamos a Jesus os nossos pecados. A sua morte foi para nos resgatar do pecado e nos dar uma vida nova. Nessa semana que se inicia com a Missa de Ramos, ainda podemos realizar a nossa confissão sacramental auricular, para celebrarmos de maneira pura a Páscoa do Senhor.

    Após a procissão com os Ramos, o presidente da celebração profere a oração da coleta, pedindo, sobretudo, que a exemplo de Jesus possamos ressuscitar para uma vida nova. A primeira leitura dessa missa é de Isaías (Is 50, 4-7). Esse trecho da leitura de Isaías retrata o servo sofredor. Podemos comparar a figura do servo sofredor com Jesus. Pois assim como Jesus, o servo sofredor sofre em silêncio tudo o que fazem de mal contra ele. Apenas confiava em Deus. Essa mesma postura foi a que Jesus tomou. De igual modo, somos convidados a confiar em Deus, mesmo diante das dificuldades e acreditar que aquele momento difícil passará e logo chegarão os momentos alegres. Nenhum mal dura para sempre. Temos que passar pelo sofrimento, para podermos chegar às alegrias.

    O salmo responsorial diz em seu refrão: “Meu Deu, Meu Deus, porque me abandonaste” (Sl 21/22). O salmista se sente sozinho diante de seus inimigos, todos riem e caçoam dele e acha que até mesmo Deus o abandonou. Ele pede que Deus não o abandone e intervenha diante daquela situação. Deus não nos abandona, podemos nos achar num caminho sem saída e achar que Ele se esqueceu de nós, mas Ele é fiel, não nos abandona em meio às dificuldades e, se caímos, Ele nos ajuda a levantar.

    A segunda leitura dessa missa de Ramos é da Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl 2, 6-11). Paulo diz que Cristo se esvaziou totalmente e, mesmo sendo filho de Deus, não se negou entregar-se na cruz e sofrer a paixão. A partir desse ato de Jesus, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome. Dessa forma, ao nome de Jesus todo o joelho se dobre, seja no céu ou na terra e possamos proclamar que ao nome de Jesus todo joelho se dobre, seja no céu ou na terra. Ele é o filho e intercede por nós todos junto ao Pai. Peçamos ao filho que o Pai atende.

    O segundo evangelho dessa missa é a narrativa da Paixão do Senhor segundo Lucas, (Lc 22, 14-23, 56). Na Sexta-Feira Santa, também ouviremos a narrativa da paixão segundo João. A trajetória de Jesus até a morte de cruz, inicia-se com Ele entrando em Jerusalém e sendo aclamado pelo povo como rei, depois de entrar na cidade Santa. Jesus realiza a última ceia com os seus discípulos e faz o rito do lava-pés. Jesus realiza com os discípulos a última ceia para que a sua presença permanecesse para sempre com Eles. Toda vez que fossem realizar a ceia, lembrariam daquilo que Jesus fez por eles. Não estariam comendo somente pão e vinho, mas o seu corpo e seu sangue. Essa presença de Jesus se daria por meio do Espírito Santo. É o que fazemos até hoje em toda a celebração Eucarística, recordamos desse ato de Jesus e cremos que Ele está presente no meio de nós, através do Espírito Santo.

     Após isso, Jesus sente uma angústia muito grande, vai para o jardim das oliveiras e passa a noite em oração, até o momento em que é preso. Os discípulos o abandonam e Ele se sente sozinho, passa por julgamento de Pilatos e não encontrando nenhum crime em Jesus, Pilatos pede ao povo que escolha entre Jesus e Barrabás, quem deveria sofrer a morte de cruz. O povo escolhe que Pilatos solte Barrabás e condene Jesus à morte, esse mesmo povo que o aclamou como rei no Domingo de Ramos.

    Após a condenação, Jesus é açoitado, colocam N’Ele uma coroa de espinhos, manto vermelho e dão a cruz para que Ele carregue nas costas. Jesus faz o caminho do calvário até chegar ao local de sua morte. Jesus, ao carregar à cruz as costas, carrega todos os nossos pecados e ao morrer na cruz, morre para nos salvar. Ensina-nos que temos que carregar a nossa cruz do dia a dia e que para se chegar à glória da ressurreição, é preciso passar muitas vezes por sofrimentos. O sofrimento é passageiro, não dura para sempre e a glória da ressurreição se perpetuará na eternidade.

    Iniciemos junto com Jesus a sua trajetória rumo ao calvário e posterior ressurreição. Intensifiquemos durante essa semana a nossa oração, participemos dos momentos litúrgicos propostos e celebremos o Tríduo Pascal. Passemos pelo calvário junto com Jesus e que possamos ressuscitar para uma nova vida junto com Ele.

    Vamos retornando paulatinamente dos flagelos da pandemia da covid-19, retornando, com todo o cuidado possível para a participação das liturgias da Santa Semana. Uma feliz e abençoada Semana Santa para todos!

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