No dia seguinte à Festa da Exaltação da Santa Cruz, a Igreja celebra a memória de Nossa Senhora das Dores. É a presença de Maria junto à cruz do seu filho. Como nos recorda São Bernardo no Ofício das Leituras deste dia: “Verdadeiramente, ó Santa Mãe, uma espada transpassou tua alma. Aliás, somente transpassando-a, penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma.”
Maria nos acompanha em todas as etapas da vida. O Santo Padre, o Papa Francisco, finalizou o Ângelus no domingo da Festa da Exaltação da Santa Cruz deste anjo recordando: “A Ela, confio o presente e o futuro da Igreja, para que todos sempre saibamos descobrir e acolher a mensagem de amor e de salvação da Cruz de Jesus”.
“Quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o Seu Filho, nascido de mulher… para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). Constantemente, na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é escolhida para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído.
Maria é a Mulher do “sim”. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos, e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.
A devoção à Virgem Maria, Mãe de Deus é, sem dúvida, uma grande força da nossa vivência cristã, porque, longe de desviar nossa atenção do Cristo, ela nos integra no plano de salvação proposto por Deus e realizado por seu Filho único, Jesus Cristo, que se encarnou e veio ao mundo por meio dela. Nós celebramos Maria porque é Mãe de Deus, porque nos deu o Salvador. E foi Deus quem assim o quis. Foi Deus que, em sua infinita sabedoria e bondade, estabeleceu que a redenção da humanidade acontecesse através de seu Filho único, nascido de uma virgem; e a virgem escolhida foi Maria. Ora, se Deus, o Senhor de todas as coisas, o Infinito e o Absoluto, não se envergonhou de escolher Maria e a fez Cheia de Graça para ser a Mãe de seu Filho, por que haveríamos nós, simples mortais, de recusar-nos a ter para com ela uma devoção toda especial?
É bom lembrarmos ainda que a nossa devoção a Maria deve fundamentar-se principalmente na imitação de suas virtudes e no seguimento de Cristo. Quando Cristo disse: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga” (Mt 16,24), Ele se colocou como o primeiro e principal modelo a ser seguido. Se imitarmos Maria em sua fidelidade, no seu amor a Deus e aos irmãos, com toda a certeza ela nos conduzirá pelos caminhos de seu Filho Jesus.
Ao lermos a Bíblia, os Evangelhos nos mostrarão que Maria, como a primeira cristã, viveu bem as virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade. Antes de trazer o Filho de Deus em seu seio já o trazia no desejo de seu coração, pois como mulher do povo de Deus esperava e acreditava que Deus um dia enviaria o Messias. Como modelo de Caridade deixa sua casa e vai servir Isabel, sua prima, de idade avançada que está grávida, permanecendo com ela os três meses finais (Lc 1,36;56) e ainda estando presente com a Igreja que está nascendo e sendo perseguida (At 1,14).
Foi modelo de um olhar de Fé e de Esperança, sobretudo quando na tormenta da paixão do Filho conservou no coração uma fé total Nele e no Pai. Enquanto os discípulos, envolvidos pelos acontecimentos, ficaram profundamente abalados na sua fé, Maria, embora provada pelo sofrimento, permaneceu íntegra, na certeza de que se realizaria a predição de Jesus: “O Filho do Homem… ao terceiro dia, ressuscitará” (Mt 17, 22-23). Com este olhar de fé e de esperança, Maria encoraja a Igreja e os cristãos a cumprirem sempre a vontade do Pai, que nos foi manifestado por Cristo e que, através de sua intercessão, sejamos homens e mulheres da Fé, da Esperança e da Caridade.
“A Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo. Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (Lc 1-2) e no fim (Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (Jo 2) e no nascimento da Igreja (At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3)”.
Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante, onde o povo eleito dá nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte, e se torna perto da nova árvore da vida, a mãe dos vivos (Laurentin, 1965).