Salvatore Cernuzio – enviado a Ulan Bator (Mongólia)
O cardeal Giorgio Marengo sorri de satisfação com a visita recém-concluída do Papa à Mongólia, da qual ele é um dos artífices, que produziu “grandes resultados” para o presente e o futuro do país. E não só. Resultados que, além do mais, foram “inesperados” para uma Igreja sem números ou meios que se viu obrigada a organizar um evento que marcou a primeira vez na história: a viagem de um Pontífice à terra de Gengis Khan, uma charneira da Ásia Central espremida entre a Rússia e a China, casa de uma “Igreja criança” com pouco menos de 1.500 batizados.
Prefeito apostólico de Ulan Bator desde 2020, protagonista no Consistório de 2022 por causa de sua idade – 49 anos – que o torna o membro mais jovem do Colégio cardinalício, Marengo esteve ao lado do Papa em todos os eventos que marcaram a visita: desde sua chegada ao aeroporto Chinggis Khan, de onde partiu um aplauso espontâneo à vista do A330 da ITA Airways, até a inauguração, em 4 de setembro, da Casa da Misericórdia, durante a qual apresentou a Francisco os doentes e pessoas com deficiência ali acolhidos, que cantaram uma canção para o Papa. Muito procurado entre telefonemas e visitas repentinas à Prefeitura, o jovem pastor dessa jovem Igreja recebeu a mídia vaticana na Prefeitura Apostólica, a residência do Papa Francisco durante os dias da viagem. Um prédio de tijolos vermelhos no distrito de Bayanzurkh, entre uma garagem, um supermercado e mais um prédio em construção. Em seu interior, ainda há brasões, bandeiras, placas da visita papal e uma fascinante cronologia gráfica da chegada e do desenvolvimento da Igreja católica na Mongólia.
Cardeal Marengo, ou melhor, “padre Giorgio”, como todos o chamam aqui. Começemos com sua avaliação pessoal da viagem recém-concluída do Papa Francisco à Mongólia…
Bem, eu realmente diria que foi uma graça total, não sei como defini-la de outra forma, um imenso presente que recebemos e, como todo presente gratuito, no sentido de que foi muito além de nossas esperanças, de nossas expectativas. Todo o trabalho, a fadiga também da preparação, porque – precisamente – nossa realidade é tão pequena que não tínhamos os meios e as pessoas adequadas para tal evento. Depois, foi superado pela alegria de ter o Santo Padre conosco, pelo seu testemunho tão humilde, simples e próximo, que imediatamente criou uma sintonia com o povo, com pessoas de todas as origens possíveis.
O coração dessa visita foi o encontro com a comunidade católica, mas para o restante da população – os não crentes ou de outras confissões, ou seja, a maioria – o que significou ver esse personagem universal vir aqui, falar, se tornar conhecido e mostrar seu papel?
Recebi vários comentários muito positivos de pessoas, a maioria não ligada à Igreja, sobre como o Papa conseguiu destacar a beleza, a originalidade desse povo; seus discursos realmente continham elementos que faziam com que as pessoas se sentissem orgulhosas de serem quem são, porque foi dado muito espaço para a beleza, a riqueza desse povo, suas tradições, sua história. Então, ver um líder religioso de renome mundial chegar aqui fisicamente, mesmo com o elemento de fragilidade que o caracteriza com sua saúde debilitada, e trazer essa mensagem desarmante de fraternidade, cooperação, harmonia, certamente criou uma brecha no coração dessas pessoas. E finalmente contribuiu para um conhecimento de sua pessoa e do que ele representa que, até a véspera de sua vinda, não era tão profundo, mas talvez um pouco superficial.
O Papa não apenas enfatizou a beleza e a história da Mongólia, mas também relançou o papel da Mongólia no tabuleiro de xadrez internacional para a paz mundial e, a partir daí, também enviou mensagens aos dois países vizinhos, Rússia e China. O que isso significou para vocês? Isso ofuscou um pouco a visita ou deu, de fato, um novo ímpeto precisamente em virtude do papel global que o Papa pede para a Mongólia?
Penso que o testemunho de paz do Papa, de mensageiro da paz, ou como ele mesmo se chamou repetidamente de peregrino, um viandante da paz, o fato de se apresentar dessa forma certamente contribuiu para criar uma perspectiva. O próprio lema “Esperar juntos” significa que há uma esperança, que nem tudo é determinado apenas pela lógica do cálculo, do poder, da prevaricação, do interesse, mas que existe um mundo espiritual genuíno, um mundo moral, fundado em relacionamentos autênticos que podem criar as condições para uma paz duradoura. E também esse colocar-se do Papa como mensageiro da paz de maneira muito simples e direta, creio que tenha contribuído para ler a visita com olhos certos, sem apresentar argumentos que talvez nem estivessem nas intenções, mas abrindo-se para a mensagem como tal, ou seja, como cada povo – para além de seu tamanho e peso relativo – tem a responsabilidade de construir a paz. E os mongóis têm uma experiência disso com a Pax mongolica, como o próprio Santo Padre mencionou. Foi uma realidade e talvez pudéssemos de fato aprender com essas experiências para o nosso presente.
O Papa também fez um convite à liberdade religiosa, ao respeito pelos direitos e à coexistência pacífica entre as religiões. Em sua opinião, essa visita pode realmente levar a esses resultados ou corre o risco de permanecer um pouco cristalizada em um grande evento como um fim em si mesmo?
Todos nós esperamos que essa semente lançada pela visita do Papa Francisco cresça, crie raízes e se torne cada vez mais uma realidade. Que essas mensagens transmitidas com coragem, parresia e franqueza também se tornem programas concretos de vida e colaboração. Temos boas esperanças de que tudo isso realmente se torne um percurso, um caminho concreto, porque sabemos como este país também cumpre suas promessas. Portanto, estamos confiantes de que haverá resultados positivos.
E para a pequena Igreja, que resultados o senhor, como pastor, espera?
Em primeiro lugar, o crescimento, o aprofundamento da fé, que é fundamental, a redescoberta sempre nova da beleza da fé, que certamente se transformará em um enraizamento mais profundo e efetivo e, portanto, na capacidade de expressar essa fé e vivê-la como cidadão de seu próprio país. É uma dádiva e também uma responsabilidade para todos nós.
A Igreja criança se tornando adulta…
Sim, mas esperemos que ela permaneça sempre naquela infância espiritual que não é infantilidade, mas é um olhar voltado para o Senhor que então se concretiza na confiança, no abandonar-se, na capacidade de perdão e reconciliação.