Mais de dois mil anos de alegria

    A liturgia católica não permite que esse aniversário passe despercebido. Depois de quatro semanas de preparação (Advento), ela nos oferece a possibilidade de celebrarmos quatro missas, cada qual com suas leituras apropriadas. São a Missa da Vigília, a Missa da Noite, a Missa do Amanhecer e a Missa do dia de Natal. Dá-nos a impressão de que a mensagem deste dia é tão rica que apenas um jogo de leituras não será suficiente para explicá-lo. E o que é que se celebra?
    Algo bastante simples: o nascimento de uma criança. Nenhum jornalista de nossos dias definiria isso como um acontecimento histórico. Apenas uma criança? Será que isso é mais importante do que a chegada do homem à lua? Certamente que é. E é isto que é surpreendente neste dia. Um acontecimento tão pequeno, corriqueiro, comum, de todos os dias como é o nascimento de uma criança, é celebrado como um acontecimento transcendental que marca uma transformação profunda na história da humanidade. Para o povo que caminhava nas trevas, o nascimento dessa criança traz consigo a chegada da luz, tal como diz Isaías na primeira leitura da Missa da Vigília. Essa criança é o Des conosco. Representa a esperança da vida. É o amanhecer de um novo mundo. Hoje, mais de dois mil anos depois, continuamos celebrando com alegria seu nascimento. O dia já vai avançado. A escuridão já não nos rodeia (mesmo que, às vezes, fechemos os olhos à luz e prefiramos caminhar nas trevas) e Deus está presente em nossas vidas. Aquela criança foi o sinal claro e concreto de que Deus não nos abandona. Em Jesus, Deus se fez um de nós, começou a caminhar por nossos caminhos, nossas dores tornaram-se suas para sempre; compartilhou também de nossas alegrias e experimentou, em si mesmo, tudo aquilo que é a nossa pobre, limitada e sofrida vida. Mas proclamou a todos que Deus encontrava-se próximo, que Deus é nosso Pai que Deus nos ama, que Deus cuida de nós, que caminha conosco e nos vai abrindo caminhos de esperança. Jesus nos disse que, precisamente, sua presença era o sinal desse amor de Deus por todos nós.
    Por isso, hoje celebramos o nascimento dessa criança. Jesus nasceu, viveu e morreu. Mas a esperança que sua presença nos traz não morreu e segue animando nossas vidas. Esta festa, apesar de todos os pesares, faz o sorriso voltar ao nosso rosto, e nos saudar uns aos outros com renovada alegria. Ela nos faz recordar que, se Deus acredita em nós e nos ama, também nós podemos voltar a tentar amar, acreditar e confiar uns nos outros. Podemos continuar lutando para que nossa família viva unida, não haja pessoas marginalizadas, nem outras se sintam abandonadas. Que em nosso bairro e em nosso mundo reine a paz e que a violência seja esquecida. Celebrar o Natal nos faz recuperar a esperança e a vontade de trabalhar e de nos comprometermos em favor de um mundo novo, bem melhor, onde reine a amizade, a solidariedade, o amor, derrotando a ganância, o egoísmo, a violência, toda espécie de mal.

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