Quando Lidia Guerrero encontrou o Papa no ano passado, Francisco disse a ela que sabia tudo sobre seu filho que está há quase 20 anos no corredor da morte no Texas.
“Rezei muito por aquele jovem rapaz de Córdoba”, disse o Papa à Lidia ao referir-se à cidade de origem de Victor Hugo Saldaño, contou a argentina à Associated Press.
O rápido encontro com o Papa em fevereiro do ano passado deu mais esperanças a Lidia sobre o futuro do seu filho, que ela disse ser culpado de assassinato mas que foi levado à insanidade no corredor da morte.
O Papa é um grande crítico da pena capital. Assim como a maioria dos países latino-americanos, a lei argentina não prevê a pena de morte.
Opositores da pena de morte esperam que o Papa pressione os legisladores a aboli-la quando visitar os Estados Unidos no mês que vem, e Lidia está rezando para que o Papa intervenha em favor de seu filho.
Tais apelos feitos pelos pontífices ou políticos de outros países, contudo, frequentemente não são escutados e enfrentam grande oposição no Texas, o Estado que mais aplica a pena capital nos EUA.
Mesmo assim, após um apelo de São João Paulo II em 1999, o governador do Missouri, Mel Carnahan, concedeu indulto em favor de um detento no corredor da morte que teve sua pena convertida em serviço perpétuo na prisão sem liberdade condicional.
“Não tenho certeza que Francisco pedirá clemência pelo meu filho, mas eu tenho esperança”, disse Lidia, 67 anos.
Esperança que se alicerça em diversos fatores, desde o encontro com o pontífice até a luta legal acerca da pena de morte original de seu filho. Em 2002, a Suprema Corte dos EUA enviou a sentença de volta à Corte de Apelos Criminais do Texas para revisão porque a etnia hispânica de Saldaño foi um dos critérios que o júri considerou para decidir entre a pena de morte e a prisão perpétua.
Em 2004, Saldaño recebeu uma segunda sentença que não levou em consideração a sua etnia e mesmo assim recebeu novamente a sentença a morte.
“Dois diferentes juris afirmaram que Saldaño é um perigo futuro e deve morrer pelo seu crime”, afirmou à AP o procurador de Collins County, onde Saldaño foi condenado.
Lidia e seu advogado, Juan Carlos Vega, disseram ter mandado uma carta ao Vaticano sobre a situação de Saldaño em dezembro de 2013, e foram imediatamente convidados para ir a Roma. Desde o encontro, Vega diz ter providenciado a oficiais no Vaticano uma série de documentos sobre a batalha legal.
“Este não é apenas mais um caso de pena de morte”, disse Vega, que ajudou a apresentar o caso na Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Kenneth Hackett, embaixador do EUA junto à Santa Sé disse à Associated Press desconhecer o caso mas que parentes de condenados nos EUA com frequência apelam ao Papa. Hackett disse que Francisco é um grande crítico da pena de morte, e que poderá trazer o assunto à tona enquanto visitar o centro correcional na Filadélfia.
Lidia afirmou que seu filho saiu de casa com 18 anos, foi ao Brasil onde seu pai vivia, e depois passou por diversos países da América do Sul. Saldaño passou os anos seguintes viajando e fazendo trabalhos esporádicos cruzando a América Central até o México.
“Desde quando era menino, ele sempre desejou ver o mundo”, disse Lidia.
Em meados dos anos 1990, Saldaño entrou ilegalmente nos EUA ao passar a fronteira do México com o Texas. Após passar algum tempo em Nova Iorque, ele voltou a Dallas onde trabalhou em uma fábrica.
Lidia explicou que seu filho disse a ela que vivia em um bairro de alta criminalidade e que carregava uma arma para proteção.
Em novembro de 1995, Saldaño e seu amigo mexicano Jorge Chavez, bêbados e drogados de crack, foram vistos em um estacionamento ameaçando a mão armada Paul King que, mais tarde, foi encontrado morto a tiros em uma floresta. Quando Saldaño foi preso, ele usava o relógio da vítima e carregava a arma.
A data de execução de Saldaño não foi marcada.
“A pena de morte é algo perigoso”, finalizou Lidia. “E Victor já pagou pelo seu crime”.
Fonte: Rádio Vaticano