Mãe das Dores – Mãe de todos nós!

    No dia seguinte à Festa da Exaltação da Santa Cruz, no dia 15 de setembro, anualmente, celebra-se com grande devoção a Festa de Nossa Senhora das Dores, tão querida e tão intimamente ligada às tradições religiosas brasileiras. Essa memória tem outros nomes, como, por exemplo, o de Nossa Senhora da Piedade.

    Narra o discípulo amado: “Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa” (Jo 19,25-27). Junto de Maria Santíssima e de São João estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José e Salomé.

    O Papa emérito Bento XVI resumiu bem o sentido dessa memória: “Hoje, ao celebrarmos a memória de Nossa Senhora das Dores, contemplamos Maria, que partilha a compaixão do Filho pelos pecadores”. Como afirmava São Bernardo, a Mãe de Cristo entrou na Paixão do Filho através da sua compaixão (Homilia do Domingo na Oitava da Assunção). Ao pé da Cruz, cumpre-se a profecia de Simeão: o seu coração de Mãe é transpassado (Lc 2, 35) pelo suplício infligido ao Inocente, nascido da sua carne. Tal como Jesus chorou (Jo 11, 35), também Maria terá certamente chorado diante do corpo torturado do Filho. Todavia, a sua discrição impede-nos de medir o abismo da sua dor; a profundidade desta aflição é apenas sugerida pelo tradicional símbolo das sete espadas. Como sucedeu com seu Filho Jesus, é possível afirmar que este sofrimento a levou, também, à perfeição (Hb 2, 10), de modo a torná-La capaz de acolher a nova missão espiritual que o Filho Lhe confia imediatamente antes de “entregar o espírito” (Jo 19, 30): tornar-Se a Mãe de Cristo nos seus membros. Naquela hora, através da figura do discípulo amado, Jesus apresenta cada um dos seus discípulos à Mãe, dizendo-Lhe: “Eis o teu filho” (Jo 19, 26-27). (Homilia de 15 de setembro de 2008).

    Maria sofredora. Nossa Senhora é a “Mater Dolorosa”. A morte de Jesus, sempre unida à ressurreição, significa a passagem para o Pai, o julgamento definitivo de Jesus sobre o mundo e suas forças destruidoras, o instante da glorificação plena de Jesus.

    Maria, mãe dos cristãos, em que fala da maternidade espiritual de Maria. Na Cruz, Jesus a entrega como mãe de todos os cristãos e mãe da Igreja. Maria, modelo de fé: Nossa Senhora é inquebrantável e modelar por sua fidelidade. Se sua adesão a Jesus se manifesta no sinal prototípico de Caná, ela encontra seu ápice no momento da cruz, quando desaparece todo sinal.

    Maria é mãe dos viventes: Maria, a mulher nova, marcada pela obediência radical até o sofrimento na cruz, resgata a desobediência de Eva. Nossa Senhora representa a nova Eva, mãe da nova humanidade redimida, correlata a Cristo, o novo Adão.

    Maria é discípula-mãe e imagem do povo de Deus: ao pé da Cruz, Maria representa o povo messiânico que dá à luz os seus filhos, a comunidade do discípulo-amado que continua a missão de Jesus. Maria simboliza a Igreja que gera novos filhos na fé. No quarto Evangelho, Maria seria, simultaneamente, personagem histórica que representa toda a comunidade.

    Sobre a Veneração de Nossa Senhora, ensina o Concílio Ecumênico Vaticano II que: “Exaltada por graça do Senhor e colocada logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de “Mãe de Deus”, e sob a sua proteção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades. Foi, sobretudo, a partir do Concílio do Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso” (Lc 1,48).

    Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e reta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e gloria fique o Filho, por quem tudo existe (Col. 1, 15-16) e no qual “aprouve a Deus que residisse toda a plenitude” (Col. 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos”. (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 66).

    O dia 15 de setembro torna-se cândida quadra em que nossos olhares se voltam para a Virgem das Dores, transformando-se em ocasião propícia para se reviver um momento decisivo da história da Salvação, e para venerar, juntamente com o Filho “exaltado na cruz, a Mãe que com Ele compartilha o sofrimento”. (Oração da coleta da Memória de Nossa Senhora das Dores).

    Procuremos contemplar nas dores de Maria Santíssima o que Seu Amado Filho Jesus sempre fez, que deve ser parte da nossa vida diária: se comover com os pobres e necessitados, como a viúva de Naim, acolher os doentes, como os dez leprosos e o cego, todas estas pessoas que Jesus teve compaixão. Jesus, no sermão da planície, pede que os discípulos sejam misericordiosos como o Pai (Lc 6,36). Nisso reside a perfeição dos discípulos de Jesus. A bondade absoluta do Pai, que na parábola do bom samaritano, o protagonista move-se de compaixão (Lc 10,33) pelo homem ferido na estrada. Ele se fez próximo dele, porque “usa de misericórdia” (Lc 10,37). Toda a misericórdia deve vir acompanhada da conversão, que provém da bondade radical de Deus.

    Se Jesus é cheio de amor para com o perdido, o fraco, o pobre, seu amor recria, perdoando e dando nova vida, como Jesus faz com tantos homens e mulheres, como a pecadora (Lc 7,36-50) e o paralítico (Lc 5,17-25). O perdão e a remissão dos pecados, incondicional da parte de Deus, tem seu reverso no pedido de conversão: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, à conversão” (Lc 5,32). Peçamos à Virgem Maria, Mater Dolorosa, que sejamos anunciadores da Misericórdia Divina e que, mesmo no sofrimento, encontremos a luz de Cristo para caminharmos na concórdia e na caridade!

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here