Lições da assunção de Maria ao céu

    A solenidade da Assunção de Maria ao céu recorda, antes de tudo, que nela Deus encontrou a morada ideal, na qual nenhum recanto foi inacessível à presença da divindade. Desde o momento em que “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), Maria se tornou para toda a humanidade um ícone no qual resplandece a glória do Ser Supremo.  Ela que O acolhera plenamente, sendo a “cheia de graças”, após sua trajetória terrena, deveria mesmo ser imediatamente levada de corpo e alma para a visão beatífica da eterna Beleza. A sinceridade com que se entregou inteiramente a Deus lhe mereceu uma antecipada glorificação especial. Ela vem então lembrar que cumpre a todo batizado tornar inteligente sua fé. Jamais o mistério de Deus pode ser compreendido pela inteligência humana finita, limitada, mas a fé leva a acreditar em tudo que este Deus revelou e que ultrapassa a razão. Maria possuiu em plenitude esta virtude teologal, tanto que mereceu o elogio de Isabel: “Bem-aventurada tu que acreditaste” (Lc 1,45). Na escola de Maria o cristão precisa em tudo manifestar coerência com aquilo que proclama com os lábios ao recitar o Credo. Foi porque viveu completamente tudo em que acreditava que, Maria em momento algum, deixou de fazer a vontade do Pai e, ao morrer, logo ressuscitou e foi elevada ao céu, dado que nunca havia aderido a nada desta terra, toda voltada sempre para o seu Deus. Maria não foi um super-mulher. Ela simplesmente deixou Deus viver nela. Não permitiu nunca que a mínima recusa á vontade divina tivesse nela algum espaço. Era um ser humano que respondeu SIM a Deus apesar de ser uma mera criatura. Eis porque nela o pecado nunca encontrou abrigo. Foi, portanto, uma morada preparada para Deus e um exemplar para todos aqueles que o Redentor redimiria. Deixou uma lição maravilhosa, ou seja, o batizado deve ser uma casa bem trabalhada para que Deus possa nele viver. Foi o que lembrou São Paulo aos Coríntios: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3,16). Para um dia estar com Maria na glória eterna é preciso a seu exemplo observar os mandamentos, vivendo totalmente o Evangelho. Quando Maria retorna para junto de Deus de corpo e alma é toda a humanidade que tinha perdido o caminho da Casa do Pai encontra seu destino sublime. Todo batizado é, então, convidado a imitar Maria dizendo sempre SIM a Deus para um dia O contemplar face a face. Afim de que isto aconteça ela, que já está de corpo e alma no céu. de lá acompanha seus filhos neste vale de lágrimas para que não se extraviem na caminhada rumo à pátria verdadeira e possam, no dia da ressurreição final, estar com ela para o louvor perene ao Criador. A vida de quem é imita deve ser um dom contínuo ao Onipotente. Entretanto, para este final feliz de cada um cumpre imitar a fidelidade de Maria, que a levou a superar a morte, a exemplo de seu filho único. Ela foi a Virgem fiel na sua fé e associada à salvação de todos pelo Espírito Santo quando da vinda ao mundo de Jesus. Ela triunfou no combate contra as potências deste mundo, contra as forças do mal e protegeu o Divino Infante desde seu nascimento diante de seus perseguidores. Ela foi a primeira cristã engajada nos conflitos entre o pecado e a morte, a violência humana e o amor imenso de Deus. Foi, por isto, cumulada da graça de Deus. Ela desejou ardentemente a promessa feita a Abraão, se maravilhou com sua escolha, proclamou “o Poderoso fez em mim grandes coisas” e, sobretudo foi fidelíssima à missão que recebeu. Torna-se importante frisar este aspecto, porque é uma das maneiras de se festejar a Virgem elevada ao céu, que, nesta terra, preferiu sempre silenciosamente trilhar o caminho da cruz de seu Filho e, assim, pôde participar da vitória dele sobre a própria morte. São João Paulo II deste modo se expresso na encíclica Redemptoris Mater – Mãe de Redentor (n. 18): “Como  é grande, como é heróica a obediência da fé da qual Maria fez prova diante dos decretos insondáveis de Deus! Por uma tal fé, Maria se uniu perfeitamente a Cristo no seu despojamento”. Assim tem sido a Igreja, assim deve ser todo batizado fiel a sua fé, não obstante os grandes conflitos entre a fidelidade e as paixões violentas da história. Na solenidade de sua Assunção Maria está mostrando aos fiéis o valor imenso da obediência da fé para que os frutos do Espírito Santo sejam cultivados e colhidos por todos. Deste modo se dá a vitória da vida diante dos múltiplos ataques do maligno, das destruições da maldade e das gloríolas mundanas. O fundamento da fidelidade de Maria foi sua profunda humildade. Maria então conheceu a plenitude da esperança na vida eterna, uma vez que “Deus resiste aos soberbos , mas dá sua graça aos humildes”(2 Pd 5,5) . Um dia terão a mesma felicidade eterna os que viverem as lições da Virgem elevada ao céu.

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.