A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou, na tarde de ontem, 28 de junho, seu apoio à mobilização dos povos indígenas na luta pelos territórios. O bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, falou aos indígenas acampados na Esplanada dos Ministérios e ressaltou que “resistir é preciso, é preciso garantir direitos”, questionando os destinos do país que não garante a proteção prevista na Constituição Federal.
“Se nós não somos um país que pode confiar sequer na garantia e na proteção dada pela sua lei maior, onde é que nós vamos?”. Dom Joel ressaltou que a proteção aos povos indígenas não é algo próprio de um governo ou de outro, “mas é uma questão de Estado, é uma questão de país. Que Brasil, afinal de contas, nós precisamos, queremos e pelo qual batalhamos?”, indagou o bispo, motivando que as lideranças e comunidades não desanimem.
Também participaram da visita o arcebispo de Porto Velho (RO) e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dom Roque Paloschi; o bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) e secretário da Comissão Especial sobre a Mineração e a Ecologia Integral da CNBB, dom Vicente de Paula Ferreira; a secretária executiva da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil), irmã Maria Irene Lopes dos Santos; e o assessor político da CNBB, padre Paulo Renato Campos.
Ao lado da vida
Dom Vicente Ferreira ressaltou e quis renovar o compromisso por nenhuma gota a mais de sangue indígena derramada pela terra. O bispo destacou a necessidade de lutar e garantir os direitos dos povos indígenas, e acabar com as violações.
“Se usarmos ou pisarmos no sangue de vocês, nós vamos ter que prestar contas a Deus. E, nesse momento, onde os projetos de morte são muito claros, e os de vida também, não tem como a gente ficar em dúvida na hora da opção. Deus vai exigir de nós ‘de qual lado vocês estiveram, da vida ou da morte?’. E por isso que estou em paz aqui, porque estar com vocês é estar do lado da vida”, destacou dom Vicente.
O bispo também criticou a atuação governamental ao incentivar, com o discurso da geração de emprego e do desenvolvimento, a mineração, o garimpo ilegal e conflitos, “simplesmente para acabar com vocês e com a nossa mãe terra”.
A importância do território
Principal pauta nas mobilizações indígenas na capital federal, a luta pelos territórios, por meio das demarcações e garantias, foi destaque na fala de dom Roque Paloschi. “Sem o vosso território, tudo fica perdido na vida e nos sonhos e na esperança dos povos”, salientou.
Dom Roque recordou a atuação do Cimi ao longo dos seus 49 anos, caminhando como parceiros na luta cujos protagonistas são os povos originários do Brasil. “Somos aliados nessa busca de construir o bem-viver e um outro mundo possível. Por isso nos alegramos muito porque a CNBB nas horas de decisão nunca se omitiu de estar do lado dos povos indígenas”, destacou agradecido pela “grande comunhão da nossa Igreja”.
No desejo de assumir continuamente a causa indígena, dom Roque lembrou o aprendizado em relação ao respeito à casa comum, a partir do exemplo das comunidades indígenas e sua relação respeitosa e amorosa com a criação.
“E é por isso que nós temos essa preocupação muito grande com esses projetos que abrem para a monocultura, que abrem para a mineração, que abrem para a degradação do meio ambiente, e, sobretudo, querem tirar de vocês a única coisa que vocês têm, que são as terras, para não os oferecer nada a não ser o caminho, cada vez mais, da invisibilidade e da exclusão”, disse dom Roque Paloschi.
O presidente do Cimi agradeceu novamente pelo caminho de resistência dos povos indígenas, motivando-os a ter a consciência de que, sem essa mobilização, “não se chega a lugar nenhum” e lamentou que as demarcações de terras estão ameaçadas pelo Governo Federal e pelo Congresso Nacional com suas ações anti-indígenas.
Mulheres indígenas
A assessora da Comissão para a Amazônia da CNBB e secretária executiva da Repam-Brasil, irmã Maria Irene Lopes, parabenizou todas as mulheres e recordou a atuação feminina nas comunidades. “As mulheres são a força das comunidades e são elas que também cuidam da casa comum. Fico encantada de ver a presença das mulheres nas comunidades indígenas. Que vocês continuem tendo essa força e essa coragem”, salientou.
O assessor político da CNBB, pe. Paulo Renato, finalizou o momento pedindo força para que a Igreja continue firme apoiando a vida e lutando por ela para ser coerente com o Evangelho.
Levante pela Terra
Mais de 850 indígenas, de 48 povos de diversas regiões do país, realizam, desde o dia 8 de junho, o Acampamento Levante pela Terra em Brasília, onde protestam contra a agenda anti-indígena do governo e do Congresso Nacional.
Entre as principais pautas estão a luta contra o Projeto de Lei (PL) 490/2007, aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) na última quarta-feira (23), contra a tese ruralista do “marco temporal”, que será votada no Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 30, e pela proteção dos povos indígenas que vêm sendo ameaçados por ataques de garimpeiros, fazendeiros, madeireiros e outros grupos que atuam ilegalmente em seus territórios.
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Com informações e fotos de Repam-Brasil e Cimi