O filme vencedor do Oscar Conclave, lançado em 2024, não apresenta uma imagem muito espiritual da eleição do Papa. Ao escolher o cardeal Prevost, que se tornou Leão XIV, os 133 cardeais, porém, responderam involuntariamente ao longa-metragem de sucesso: a graça supera a natureza.
Reflexão engraçada de um dos dois irmãos mais velhos do Papa Leão XIV. Em uma entrevista no canal americano NBC, John Prevost relata uma conversa que teve com seu irmão Robert Francis antes do conclave iniciado em 7 de maio: “Perguntei-lhe: ‘Você está pronto para tudo isso?’ e eu disse a ele: ‘Você viu o filme Conclave saber como se comportar?” Ele tinha acabado de assistir e concluiu: “Então ele sabe como se comportar.” Como podemos entender tal afirmação? Certamente, os detalhes e cenários concretos do filme de Edward Berger, lançado em 2024, são bastante fiéis à realidade e permitem-nos entrar na atmosfera deste momento único para a Igreja.
Mas o sucesso do longa-metragem certamente vem de outra coisa. Além das 8 indicações e uma premiação no Oscar, o filme foi um dos mais assistidos nas plataformas após a morte de Francisco. Uma ficção realista, com belas imagens e que fala de um universo secreto com muitas reviravoltas: nada melhor para um filme ser aclamado.
O invisível faz parte da realidade
A melhor resposta ao filme, em última análise, é o próprio conclave, aquele que decorreu sob o olhar dos meios de comunicação de todo o mundo reunidos em Roma entre 7 e 8 de maio. Enquanto o conhecimento e a curiosidade de um grande número de pessoas foram aguçados pelo cenário vencedor do Oscar, e certamente por eles próprios, os 133 eleitores demonstraram que Edward Berger tinha obscurecido uma parte significativa da realidade, porque o invisível faz parte dela. Em quatro votações – e quase três, segundo alguns disseram – dois terços dos cardeais, vindos de 71 países diferentes, concordaram com um nome.
Sem que o presidente do conclave, o Cardeal Parolin, tenha que realizar a sua própria investigação no exterior para se proteger de problemas futuros. Sem que as agendas políticas se confrontassem num confronto binário, o prazo era demasiado curto. E as conversas na Igreja não se reduzem aos assuntos sociais que estão mais na cabeça do diretor. Porque estes também esqueceram que as congregações gerais permitem discussões sobre fé, eclesiologia, paz… enquanto o próprio conclave é antes de tudo uma liturgia, manifestada por esta solene procissão durante a qual os cardeais entram na Capela Sistina invocando os santos.
No coração da Igreja reside o Espírito Santo
Apostemos que não são estas as maquinações e os conflitos latentes que o Cardeal Prevost apreciou e que fizeram o seu irmão dizer que sabe “como se comportar”. Esperemos que ele não tenha apreciado estes arranjos políticos e estas paixões demasiado humanas que levam os eleitores para a mediocridade. Eles existem, pois são homens. Mas Edward Berger perdeu uma coisa: dar uma olhada sobrenatural nesses atos humanos, abrindo espaço para a graça agindo através e superando a natureza. E, precisamente, quem escolheram os cardeais? Um deles bastante conhecido, mas pouco citado, um homem cujo caminho não revela uma ambição devoradora, um bispo missionário ao mesmo tempo comovido e sereno. Um religioso da ordem de Santo Agostinho, um “agostiniano” como ele se definiu loggia da Basílica de São Pedro. A sua espiritualidade provém, portanto, de Santo Agostinho, a quem a tradição chama precisamente de doutor da graça. Por um piscar de olhos da Providência, o Espírito Santo é colocado no coração da vida da Igreja.
Neste conclave que alguns cardeais descreveram como “harmonioso”, onde todos tiveram que enfrentar o Último Julgamento de Michelangelo e de sua própria consciência, o sobrenatural superou o natural. Ou, dito de outra forma, os cardeais viveram a experiência de Confissões do Bispo de Hipona: “Deus é mais íntimo do que as partes mais íntimas de si mesmos, e mais alto do que os picos de si mesmos”.
