Justiça baseada na solidariedade!

    Vamos encerrar o mês da Bíblia com a celebração do 25º Domingo do Tempo Comum que nos convida a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus.

    A primeira leitura – Is 55,6-9 – pede aos batizados que voltem para Deus. “Voltar para Deus” é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de forma a que os seus pensamentos e ações reflitam a lógica, as perspectivas e os valores de Deus. “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos” (Is 55,8). As medidas e as sentenças divinas, sempre misericordiosas, estão muito além do arbítrio e da compreensão dos seres humanos.

    O Evangelho – Mt 20,1-16a – diz-nos que Deus chama à salvação todos os homens, sem considerar a antiguidade na fé, os créditos, as qualidades ou os comportamentos anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a forma como se acolhe o seu convite. Pede-nos uma transformação da nossa mentalidade, de forma a que a nossa relação com Deus não seja marcada pelo interesse, mas pelo amor e pela gratuidade. Na parábola, os operários da primeira hora, no momento do acerto de contas, pensando com os critérios terrenos e humanos, reivindicavam receber mais que os outros todos. O Proprietário da vinha, o próprio Deus, bom para com todos, ordenou que chamassem a todos, mas que se começasse o pagamento pelos últimos até os primeiros convocados para o trabalho. Além disso, o pagamento fosse o mesmo para todos: uma diária, uma moeda de prata para todos, conforme combinado com os primeiros e o que fosse justo, prometido aos outros! “Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (Mt 20, 16a), pois ao fim, ao cabo, Deus bom e justo, não diferencia as pessoas em relação à quantidade de obras, mas pela adesão fiel à sua convocação. De outro lado, se lida em chave vocacional, a parábola nos ajuda a entender que Deus, por intermédio de seu Cristo, continua chamando “o dia todo”. Aqueles que responderam à vocação “na primeira hora da vida” não ficarão sem sua recompensa, mas não têm o direito de exigir mais para si em relação àqueles que responderam “à tardinha da vida”. Ao contrário, devem é se alegrar com o “sim” de tantos outros e com o “final feliz para todos”! Se chamados, cedo ou à tarde, o Senhor espera pelo sim e pelo empenho devotado de cada um na obra do Reino.

    A justiça de Deus iguala por alto, eleva à dignidade todos os seus filhos e filhas. E nos convida a uma lógica diferente, não baseada no mérito, mas na solidariedade que questiona, aproxima e inclui. Pois essa é a dinâmica do Reinado de Deus. Portanto, longe de nos indicar que somos merecedores diante de Deus, a justiça do Reino nos leva a superar preconceitos, a superar a lógica da simples retribuição, para permitir que os dramas alheios nos interpelem. Afinal, é assim que podemos experimentar de fato o agir daquele que é Bom!

    A segunda leitura – Fl 1,20c-24.27a – apresenta-nos o exemplo de um cristão (Paulo) que abraçou, de forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projeto. São Paulo questiona-nos sobre “aquilo que Deus quer” e “aquilo que eu quero” com base em sua experiência pessoal: diante do desejo de ver consumada a união total com Cristo, reconhece a necessidade de continuar a dedicar-se à comunidade, para que ela viva conforme o Evangelho. Como cristãos, enquanto vivemos, temos compromisso de amor e solidariedade com os outros.

    Neste dia da Bíblia vamos responder em oração o que significa estas duas belas expressões da segunda leitura: “para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” e “só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo!”. O Senhor continua sendo bom e misericordioso para com todos, está sempre perto dos que o invocam lealmente. Por isso, dispostos a acolher o convite para sermos trabalhadores de sua vinha, vamos receber seus dons e experimentar o amor que ele dedica igualmente a todos.

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