Rui Saraiva – Portugal
O ano 2024 entrega para o futuro a marca profunda que o Sínodo deixou em todos os que viveram intensamente o processo. Foram três anos de caminho em conjunto (2021-2024), num movimento que envolveu milhões de pessoas em todo o mundo.
No Jubileu iniciar processos sinodais
O fruto desse caminho são as conclusões condensadas no Documento Final do Sínodo publicado no dia 26 de outubro de 2024 e que foi aprovado nos seus 155 pontos.
Com o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e missão”, na segunda e última sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos em Roma participaram 368 membros com direito a voto, dos quais 272 eram bispos. E à imagem do que aconteceu na primeira sessão em 2023, mais de 50 votantes foram mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.
O tempo agora é de receção e aplicação das conclusões do Sínodo. O ritmo intenso da vida pastoral durante o Ano Santo de 2025 poderá ajudar ao desenvolvimento de um trabalho coletivo de reflexão e renovação das comunidades que inicie ou consolide processos sinodais nas dioceses. Um belo desafio para o Jubileu.
Uma iniciativa que pode ser inspiradora de dinamismos nas dioceses é a Assembleia Mundial “Párocos pelo Sínodo” que decorreu em Roma de 29 de abril a 2 de maio de 2024 sobre o tema “Como ser uma Igreja local sinodal em missão”.
Voltar à fonte que é Deus para evitar o clericalismo
Participou neste evento o padre António Bacelar, pároco na cidade da Maia em Portugal. Para o sacerdote “não há caminho sinodal, sem a contínua conversão de cada um”. “Irmos à fonte e a fonte é Deus”, afirma.
“O andamento do Sínodo é o andamento da Igreja, porque a Igreja é Sínodo e o Sínodo é Igreja. Aquilo que partilhei com os colegas que faziam parte do meu grupo é que não há Igreja, não há caminho sinodal, sem a contínua conversão de cada um. Isto é, sem o irmos à fonte e a fonte é Deus. No caminho sinodal toca-se algo, que às vezes pode ficar distante do nosso quotidiano, é que a Igreja é de Deus. E este de Deus não é um ornamento. É aquele que a conduz, que a inspira que a leva. E o caminho sinodal parece-me que traz este fruto: eu vejo sempre este reconduzir-nos à fonte e celebrar e construir a Igreja por Aquele que de facto a conduz e que é Deus. E isto desdobra-se na história, nas culturas diferentes, nas dificuldades que muitas vezes uma Igreja muito em volta da hierarquia e dos padres, pode constituir uma dificuldade. Quando se fala do clericalismo, fala-se da tentação por parte dos padres, mas também da parte dos leigos. Trata-se de uma conversão de mentalidade de que o Sínodo é um passo muito importante”, sublinha o padre António Bacelar.
Fazer harmonia na Igreja para que ninguém de fora
Recordemos que o Papa Francisco disse no seu discurso de encerramento do Sínodo em outubro de 2024 que a pluralidade das diferenças encontradas durante o caminho sinodal deve ser vivida em harmonia. Pediu que ninguém fique de fora, pois Deus é para todos.
“Todos, na esperança de que não falte ninguém. Ninguém fique de fora! Todos! E a palavra-chave é esta: a harmonia, que é obra do Espírito; a Sua primeira manifestação forte, na manhã de Pentecostes, é harmonizar todas aquelas diferenças, todas aquelas línguas, todas aquelas coisas… Harmonia!”, assinalou o Santo Padre.
Francisco apelou a uma Igreja sem muros. “Quanto mal causam os homens e mulheres da Igreja quando erguem muros! Não nos devemos comportar como ‘dispensadores da Graça’ que se apropriam do tesouro, amarrando as mãos do Deus misericordioso”, referiu o Santo Padre.
O Papa deixou mesmo uma indicação literária com a sugestão de um poema da escritora francesa Madeleine Delbrêl, “a mística das periferias”, sublinhando uma ideia: “acima de tudo, não sejas rígido”.
O Papa assinalou que a rigidez é um pecado que tantas vezes também afeta “os clérigos, os consagrados e as consagradas”. Uma chamada de atenção do Santo Padre para que o Documento Final desta assembleia sinodal seja acolhido com abertura.
Francisco anunciou a sua intenção de não publicar uma exortação apostólica, algo que acontece pela primeira vez, mas que está previsto na constituição apostólica ‘Episcopalis Communio’ sobre o Sínodo dos Bispos, publicada em 2018 pelo Papa Francisco.
Palavras e atos na receção do Documento nas dioceses
Entretanto, Francisco alertou os participantes no Sínodo para a necessidade de tornar acessível os conteúdos do Documento Final, em especial com o “testemunho da experiência vivida”. “A igreja sinodal para a missão precisa, agora, que as palavras partilhadas sejam acompanhadas de atos”, assinalou o Papa.
Abre-se, assim, um tempo novo no qual, tal como disse o Papa, as palavras partilhadas devem ser acompanhadas por ações. Ou seja, a receção das conclusões nas dioceses, que é a terceira fase do Sínodo, não deverá ficar apenas pela leitura e reflexão do Documento Final, mas será necessária uma reforçada criatividade na difusão da informação produzida nesta sessão sinodal.
Destaque especial para o método sinodal da “Conversação no Espírito” que no número 45 do Documento Final ficamos a saber que “a sua prática tem suscitado alegria, espanto e gratidão e tem sido experimentada como um caminho de renovação que transforma as pessoas, os grupos e a Igreja”, pode-se ler no Documento.
Documento Final faz parte do magistério pontifício
No passado dia 25 de novembro, o Papa Francisco pronunciou-se através de uma Nota de Acompanhamento do Documento Final do Sínodo, afirmando que este tem valor como “magistério” pontifício”. O Santo Padre sublinhou a necessidade da implementação do Documento Final do Sínodo nas comunidades católicas.
“O documento final faz parte do magistério ordinário do sucessor de Pedro [o Papa] e, como tal, peço que seja aceite. Ele representa uma forma de exercício do magistério autêntico do bispo de Roma que tem algumas características novas, mas que, de facto, corresponde ao que tive a oportunidade de apontar em 17 de outubro de 2015, quando afirmei que a sinodalidade é a estrutura interpretativa apropriada para entender o ministério hierárquico”, pode-se ler na nota.
O discurso a que se refere o Santo Padre foi por ele proferido no 50.º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos.
Em Portugal está marcado para o dia 11 de janeiro em Fátima, por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, um encontro nacional sobre o Sínodo.
Laudetur Iesus Christus