Um dos frutos do Sínodo dos Bispos sobre a Vida Consagrada, realizado de 2 a 9 outubro de 1994, na cidade de Roma, sob o tema: a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no Mundo, foi a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, “Vita consecrata”, promulgada pelo Beato João Paulo II a 25 de março de 1996. A partir do ano seguinte, 1997, a cada dia 2 de fevereiro, festa da Apresentação do Senhor, temos a Jornada Mundial da Vida Consagrada, instituída pelo mesmo Romano Pontífice; desse modo, celebramos a XVIII Jornada que, ao mesmo tempo nos conduz ao desejo do Papa Francisco de fazer do Ano da Graça do Senhor de 2015 o Ano da Vida Consagrada.
A Jornada da Vida Consagrada é celebrada na festa em que se faz memória da apresentação, que Maria e José fizeram de Jesus no Templo “para o apresentarem ao Senhor” (Lc 2, 22).
Nesta cena evangélica, revela-se o mistério de Jesus, o consagrado do Pai, que veio ao mundo para cumprir fielmente a Sua vontade (cf. Hb 10,5-7). Simeão aponta Jesus como “Luz para iluminar as nações” (Lc 2,32) e preanuncia, com palavra profética, a oferta suprema de Jesus ao Pai e a sua vitória final (cf. Lc 2,32-35).
Assim, a Apresentação de Jesus no Templo constitui um eloquente ícone da total doação da própria vida, para todos os que foram chamados a reproduzir na Igreja e no mundo, mediante os conselhos evangélicos, “os traços característicos de Jesus casto, pobre e obediente” (Exort. Apost. Vita consecrata, 1). Maria associa-se à apresentação de Cristo.
A Virgem Mãe, que leva o Filho ao Templo para que seja oferecido ao Pai, exprime bem a figura da Igreja, que continua a oferecer seus filhos e filhas ao Pai celeste, associando-os à única oblação de Cristo, causa e modelo de toda a consagração na Igreja.
A Vida Consagrada na Igreja se apresenta em dois tipos fundamentais: a vida consagrada religiosa (institutos religiosos) e a vida consagrada secular (institutos seculares). A Vida Consagrada Religiosa se caracteriza por votos públicos, vida fraterna em comum e separação do mundo. A Vida Consagrada Secular se caracteriza por promessas ou vínculo sagrados, secularidade (sem obrigação de vida comum) e Apostolado in saeculo et ex saeculo.
Em 29 de novembro de 2013, dirigindo-se aos Superiores Maiores dos Institutos de Vida Consagrada Religioso, num diálogo fraterno, o Papa Francisco começou dizendo que ele é um religioso, também, e que, portanto, sabe da experiência sobre a qual estavam falando. O último papa que pertenceu a uma ordem religiosa foi o beneditino camaldulense Papa Gregório XVI, eleito em 1831. Ele então fez referência explícita a Bento XVI: “Disse que a Igreja cresce através do testemunho, não do proselitismo. O testemunho que pode, realmente, atrair é aquele associado a atitudes não habituais: generosidade, desapego, sacrifício, esquecimento de si próprio no intuito de ajudar os outros. Eis o testemunho, o ‘martírio’, da vida religiosa. Para as pessoas isso ‘soa como um alerta’. Os religiosos falam às pessoas com sua vida: ‘O que está acontecendo?´ Estas pessoas estão me dizendo alguma coisa! Elas vão além de um horizonte mundano. ‘Portanto – continuou o papa citando Bento XVI – a vida religiosa deve promover um crescimento na Igreja através da atração. Portanto, a “Igreja deve ser atraente. Despertem o mundo! Sejam testemunhos de uma forma diferente de fazer as coisas, de agir, de viver! É possível viver neste mundo de forma diferente. Estamos falando de uma perspectiva escatológica, dos valores do Reino aqui encarnados sobre esta terra. Trata-se de deixar todas as coisas para seguir ao Senhor. Não, não quero dizer ‘radical’. A radicalidade evangélica não é apenas para os religiosos: ela é exigida de todos. Porém, os religiosos seguem ao Senhor de forma especial, seguem-no profeticamente. É este testemunho que espero de vocês. Os religiosos e as religiosas deveriam ser pessoas capazes de despertar o mundo”.
Ao se referir à missão da Vida Consagrada, o Papa convidou os Religiosos a saírem de si, deixando o ninho que os mantém na zona de conforto. “Deus nos pede para deixarmos o ninho que nos acomoda e irmos às fronteiras do mundo, evitando a tentação de domesticá-las”, acenou.
Para o Pontífice, a profecia não é outra coisa senão reforçar aquilo que é institucional, ou seja, o carisma na vida consagrada, e não confundi-lo com a singular obra apostólica. “O primeiro permanece, a segunda passa, afirmou. “O carisma permanece porque é forte”. “Às vezes, se confunde carisma e obra. O carisma é criativo, busca sempre novos caminhos. O testemunho carismático deve ser realista e incluir também o fato de nos apresentarmos como testemunhas pecadoras: todos nós erramos. Devemos reconhecer a nossa fraqueza. E admitir que somos pecadores faz bem a todos”.
A relação entre os Religiosos e as Igrejas particulares também foi tema da conversa do Papa com os Superiores. O Papa afirmou conhecer por experiência os possíveis problemas: “Nós, Bispos, devemos entender que as pessoas consagradas não representam somente uma ajuda material, mas são dons que enriquecem as dioceses. Os carismas enriquecem as dioceses. As dioceses precisam dos vossos carismas. A inserção diocesana das comunidades religiosas é tão importante como é importante que o Bispo reconheça e respeite os carismas delas. Os conflitos em geral surgem quando falta o diálogo”, sublinhou. E a este propósito, o Papa fez referência a algumas das experiências vividas por ele, sejam negativas ou positivas, quando era Bispo na sua diocese.
Neste diálogo fraterno e nesta troca de experiências, a vida consagrada, que é presente nesta amada Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, se reuniu na tarde do sábado, dia 01 de fevereiro, na Igreja da Candelária, no Centro da cidade, vésperas da Apresentação do Senhor, para rezar em coro as vésperas solenes do nosso dia, o dia do religioso consagrado, e rezar por todos os que seguindo os conselhos evangélicos gastam a sua vida para testemunhar Jesus Cristo e viver o seu seguimento.
“Em sua homilia do dia da “jornada da vida consagrada”, o Papa Francisco recordou o encontro entre a observância e a profecia e disse:” Jesus vem ao nosso encontro na Igreja através do carisma de fundação de um Instituto: é bonito pensar assim a nossa vocação! O nosso encontro com Cristo tomou a sua forma na Igreja mediante o carisma de uma testemunha sua. Isto sempre nos surpreende e nos faz dar graças”, disse ainda Francisco.
“Na vida consagrada também se vive o encontro entre os jovens e os anciãos, entre a observância e a profecia. Não vemos isto como duas realidades contrapostas! Deixamos que o Espírito Santo as anime e o sinal disso é a alegria: a alegria de observar, de caminhar numa regra de vida; e a alegria de ser guiados pelo Espírito, nunca rígidos, nunca fechados, mas sempre abertos à voz de Deus que fala, que abre e conduz.”
O Papa disse ainda que “faz bem aos anciãos comunicar a sabedoria aos jovens; e faz bem aos jovens acolher este patrimônio de experiência e de sabedoria e levá-lo adiante, para o bem das respectivas famílias religiosas e de toda a Igreja”.
Em minha experiência de vida monástica, seguindo a Regra de São Bento, na qual se convida a viver na “Escola do Serviço do Senhor” que é o Mosteiro, essa escola, sem dúvida alguma, me ajudou e me ajuda até hoje a viver o meu ministério episcopal, aprendendo a ouvir a todos, servir a todos, pois, como lembra São Bento: “tendo ouvido a opinião dos irmãos, considere consigo mesmo e faça o que julgar mais acertado. Motivo de ordenarmos serem todos chamados ao conselho é porque muitas vezes Deus revela ao mais jovem o que é melhor” (Rb 3).
A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica com a carta Alegrai-vos pretende dar início a um percurso comum, lugar de reflexão pessoal, fraterna, do instituto, quando nos encaminhamos para o ano de 2015, que a Igreja dedicará à vida consagrada. O Cardeal Prefeito dessa Congregação, João Braz de Aviz, que estará conosco nesta semana no Curso para os Bispos, recordou, em artigo publicado no jornal “L’Osservatore Romano”, que é necessário sempre retornar aos critérios do Decreto Conciliar “Perfectae caritatis”: “retorno às fontes da vida cristã, retorno à inspiração primitiva e original dos institutos e adaptação às condições do tempo.”
Que neste dia em que tantos comemoraram o dia de sua profissão religiosa e no qual a Igreja contempla o grande serviço que a vida consagrada presta à Igreja pelo seu testemunho, neste tempo de tantas esperanças não nos esqueçamos de todos aqueles que na vida consagrada nos conduziram ao encontro pessoal com Cristo.