Luz do Mundo

     

    Transcorridos quarenta dias depois do Natal, a Igreja celebra este sugestivo mistério gozoso que, de certa forma, antecipa o sofrimento da Sexta-feira Santa e a alegria da Páscoa. A tradição oriental denomina esta solenidade como a “festa do encontro” por que, no espaço sagrado do Templo de Jerusalém, tem lugar o abraço entre a bondade de Deus e a expectativa do povo eleito. Esse foi também o tema do Papa Francisco em sua homilia salientando o encontro entre as gerações dentro da vida consagrada.

    Nosso Senhor Jesus Cristo é o Esposo que vem cumprir a aliança nupcial com Israel. Muitas pessoas são chamadas, mas quantas estão efetivamente prontas a recebê-Lo com a mente e o coração vigilantes. Por isso, neste domingo, comemorando o acontecimento que nesse dia teve lugar em Jerusalém, também nós somos convidados a entrar no Templo para meditar sobre o mistério de Cristo, unigênito do Pai que, com a sua Encarnação e a sua Páscoa, se tornou o primogênito da humanidade redimida.

    Na belíssima introdução à benção das velas e à procissão, a liturgia lembra como Simeão e Ana, guiados pelo Espírito, vieram ao templo e reconheceram Cristo como seu Senhor. E conclui com o seguinte convite: “Unidos pelo Espírito, vamos agora à casa de Deus dar as boas-vindas a Cristo, o Senhor. O reconheceremos na fração do pão até que venha novamente em sua glória”.

    Refere-se claramente ao encontro sacramental, ao que a procissão serve de prelúdio. Respondemos ao convite: “Vamos em paz ao encontro do Senhor”; e sabemos que este encontro será na eucaristia, na palavra e no sacramento Entramos em contato com Cristo através da liturgia; por ela temos também acesso à sua graça. Santo Ambrósio escreve deste encontro sacramental em uma página insuperável: “Te revelaste face a face, ó Cristo. Em teus sacramentos te encontro”.

    Simeão, de fato, proclama Jesus como “salvação” da humanidade, como “luz” de todos os povos e “sinal de contradição”, porque revelará o pensamento dos corações (cfr. Lc 2, 29-35).  A vida deste velho Simeão se move pelo desejo da Luz, pela esperança da Salvação. E esta sua esperança tem agora um nome, um rosto e é uma pessoa viva: o Messias. No Menino que toma em seus braços, Simeão toca e abraça o mistério de Deus, feito carne frágil, corpo débil, criança que ali se oferece à mercê da sua ternura. Ele louva e bendiz o Senhor. Porque, na sua velhice, a estrela do desejo que o guiara se transformava em luz eterna, em salvação “em carne e osso”. Na verdade, Simeão exclama, por fim: “Agora, Senhor, segundo a vossa Palavra, deixareis ir em paz o vosso servo”.

    Na festa de Nossa Senhora da Apresentação, em que a Igreja, também celebra Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora da Apresentação ou Nossa Senhora das Candeias ou da Candelária, somos convidados a acolher a luz. Diz-nos Simeão sobre o menino: “luz para iluminar as nações”. A luz de Cristo inunda tudo. Mas certamente, na nossa vida, muitas são as escuridões que necessitam de um brilho dissipador: o medo, a incerteza, a depressão, o ressentimento, o desamor, o desalento, a violência, a perseguição, os ódios, a falta de acolhida, a rejeição… Todas estas trevas são dissipadas quando se acolhe o Cristo luz nos braços, com fé e esperança. Também nós que hoje acendemos nossas velas, devemos sair iluminados com a luz do Cristo. Esta luz deve ser o testemunho de nossa fé e alegria de discípulos. O mundo precisa deste brilho. Oferecer este brilho de cores é um grande presente a este mundo imerso nas trevas.

    São Beda nos ensina que: “Aquele homem recebeu o Menino Jesus em seus braços, segundo a lei, para demonstrar que a justiça das obras, que, segundo a Lei, estavam figuradas pelas mãos e os braços, devia ser substituída pela graça, humilde certamente, mas revigorante, de fé evangélica. Tomou o ancião o Menino Jesus, para demonstrar que este mundo, já decrépito, ia voltar à infância e à inocência da vida cristã” (Beda, in homil. Purificat.).

    “Porque meus olhos viram a tua salvação”… O que Simeão viu? Uma criança, nada, além disso, porém pelo Espírito Santo pode identificar nessa criança a presença de Deus, o mensageiro que, é presença de Deus em seu Templo, cumprindo a profecia de Malaquias: essa criança vem para iluminar nossa vida, solidário a nós, como sacerdote misericordioso do novo Templo de Deus. Jesus é o perfeito mediador, o perfeito sacerdote, pois nos liga perfeitamente à vida divina. Que as portas do Templo se levantem para que o sumo sacerdote misericordioso entre e nos salve.

    A Festa da Apresentação de Jesus no Templo é o momento da Igreja acolher o louvor reconhecido das pessoas consagradas e, com razão, é há 18 anos que se celebra precisamente nesta data a “Jornada Mundial da Vida Consagrada”. A imagem de Maria que no Templo oferece a Deus o Filho, fala com eloquência ao coração dos homens e das mulheres que fizeram total oblação de si mesmos ao Senhor, mediante os votos de pobreza, castidade e obediência pelo Reino dos Céus. Que possamos rezar pelos nossos consagrados, para que, em nossa Igreja Particular, possam ser os arautos da vivência e do testemunho da caridade.