Jesus nos sacia da fome da vida plena!

    O nosso caminho de todos os dias é feito, tantas vezes, entre privações e carências que nos deixam um travo de insatisfação e de desencanto. Tudo parece tão precário e insatisfatório… Quem saciará a nossa fome de Vida verdadeira e eterna? As leituras deste domingo dizem-nos: Deus sempre fará tudo para saciar a nossa fome de Vida; Ele prepara e distribui por nós o “pão” que nos alimenta no caminho e que “dura até à Vida eterna”.

    A primeira leitura e o Evangelho de hoje estão em íntima relação: a partir de um fato miraculoso narrado nas páginas do Antigo Testamento – Deus que sacia a fome do povo no deserto –, Jesus o leva à plenitude e se dá a si mesmo como alimento às pessoas que o seguiam. Com este versículo, aproximamo-nos do centro do discurso do “pão da vida” proferido por Jesus.

    Na primeira leitura – Ex 16,2-4.12-15 – conta-se como Deus distribuiu ao seu Povo o maná, o alimento diário de que o Povo necessitava para enfrentar as dificuldades da caminhada entre a terra da opressão e a terra da liberdade. Esse “pão”, além de satisfazer a fome física do Povo e de lhe permitir sobreviver no deserto, também o ajudou a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a encarar a vida com fé e confiança em Deus. No livro do Êxodo, o povo libertado da escravidão caminha no deserto em direção à terra prometida. Contudo, fazem muitas murmurações diante dos desafios que se apresentam. A partir de um fenômeno, Moisés sensibiliza o povo a reconhecer a presença e a ação do próprio Deus.

    O Evangelho – Jo 6,24-35 – garante-nos que Jesus é o “pão de Deus que desce do céu para dar a Vida ao mundo”. É em Jesus e através de Jesus que Deus responde à fome dos homens e lhes oferece a Vida em plenitude. Para que esse “pão” nos alcance, nos alimente e nos transforme, temos de “acreditar” em Jesus. O povo – no Evangelho – que ainda não compreende o sinal operado por Jesus, anteriormente – escuta o próprio Senhor que, revisitando a tradição do Antigo Testamento, revela-se como o enviado de Deus, descido do céu, que dá a vida ao mundo. Diante da multiplicação do pão, o povo viu apenas fartura material e satisfação das necessidades físicas imediatas, mas não reconheceu o que estava por trás do sinal, o que este quis revelar. Os sinais apontam para uma realidade mais profunda, não se detêm no gesto em si. O povo procura Jesus para que ele resolva sozinho o problema da fome da humanidade. A pedagogia de Jesus é partir de um gesto concreto para revelar-se a si mesmo como o verdadeiro alimento vindo de Deus. O acesso a esse alimento é a fé em Cristo, dom de Deus. O pão do céu é o que desce do Pai e dá a vida ao mundo. Com frequência, procuramos Jesus apenas nas horas de dificuldades e desafios, esquecendo-o logo em seguida, quando o problema é resolvido.

    A segunda leitura – Ef 4, 17.20-24 – diz-nos que a adesão a Jesus implica o deixar de ser homem velho e o passar a ser homem novo. Aquele que aceita Jesus como o “pão” que dá vida e adere a Ele, passa a ser uma outra pessoa. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo. São Paulo nos convida a viver em contínua renovação, deixando nosso “velho ser” para nos transformamos em “pessoas novas”, que assumem a justiça e a santidade de Deus. Somente assim seremos sua “imagem e semelhança”. Mais difícil do que mudar hábitos e comportamentos é mudar de mentalidade.

    Há um sentido na vida que ultrapassa a satisfação do estômago. Infelizmente, grande parte da humanidade vive com fome e até morre de inanição. Isso clama aos céus e é fruto da ganância de muitos. Jesus mostra que é possível à comunidade resolve o problema da fome. Ele deu o exemplo, para mostrar aos que têm o poder de administrar os bens da terra que é preciso fazê-lo com urgência e responsabilidade. A comida é necessária para atender a uma necessidade fisiológica básica. Saciada em necessidade, há outro alimento a que a alma humana aspira: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome e, o que crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Jesus é o pão que se faz dom e se parte no altar para nos alimentar.

    Verdadeiro pão descido do céu, Jesus sacia nossa fome de vida, tornando-nos mulheres e homens novos, em conformidade com a verdade que está nele. Ele nos convida a buscar sempre esse alimento que nos fortalece na caminhada.

    Neste domingo queremos rezar pelos pais, como os meus, que já estão junto de Deus. Rezamos pelo seu eterno descanso e agradecemos a Deus o testemunho eloquente de sua fé católica. Aos pais vivos nossa proximidade espiritual e votos de que Deus continue iluminando a sua missão de transmissores da fé e de testemunhas do Evangelho! Deus abençoe todos os padres!

     

    + Anuar Battisti

    Arcebispo Emérito de Maringá, PR

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