Eis-nos na Sinagoga de Cafarnaum num dia de sábado (Mc 1,21-18). O ofício desenrola-se normalmente. O chefe da Sinagoga convidou Jesus, o qual por ali se achava, para fazer o comentário dos textos bíblicos que acabavam de ser lidos em público. Tudo como normalmente sempre ocorria. De repente, todos ficaram maravilhados porque Jesus falava “como quem tem autoridade e não como os escribas”. Coincidentemente, porém, havia na Sinagoga um homem “possuído do espírito imundo”. Como este arguiu a Cristo, este demonstrou outra vez seu poder e deu duas ordens ao demônio: “Cala-te e sai deste homem”! Em primeiro lugar cumpre observar que a palavra de Jesus permite entrar em contato com Ele. Ele pregava com autoridade e esta palavra autoridade vem de “augere” que em latim significa fazer crescer. Jesus faz progredir em tudo aquele que O recebe. Daí o efeito de sua palavra onipotente, ou seja, levantar os obstáculos que paralisam a fé e impede que seu ensinamento seja acolhido com plena disposição pelo fiel. Estes efeitos admiráveis ocorrem porque tudo que vem de Jesus flui de sua pessoa divina. Como professamos no Credo niceno-constantinopolitano, Ele é ”Deus de Deus, Luz de luz”. No movimento vital eterno em Deus, é gerado por toda eternidade no seio do Pai, do qual exprime a essência na sua própria pessoa subsistente. É o Filho do Pai, seu igual em ser, sua imagem e seu reflexo. Eis porque falava com autoridade, pois sua natureza humana estava unida à natureza divina na Pessoa eterna idêntica ao Pai e ao Espírito Santo. Além disto, Cristo é, por isto mesmo, aquele que pela sua própria onipotência vence sempre as potências diabólicas. Ele era, realmente, “o Santo de Deus”. Podemos, entretanto, fazer todos os estudos teológicos, penetrar fundo na hermenêutica bíblica, na história do cristianismo, mas isto em si não significa que se conheça Jesus. Para melhor O conhecer será preciso uma união profunda com Ele, aprender a amá-lo e ser disponível a suas orientações e a todas as suas inspirações. Jesus deu uma ordem a satanás: “Cala-te”. Impôs silêncio ao demônio. O que se esquece muitas vezes é que o silêncio é necessário para poder receber as ordens divinas. O que, infelizmente reina em muitos é a desconcentração, sobretudo, nos momentos das preces. No contexto atual o bulício reina por toda parte. A evolução das mídias e a sua relação com os processos comunicativos impede que hoje o indivíduo pare, reflita, analise. Uma parafernália ruidosa em casa e fora de casa leva as pessoas para estarem longe de si mesmas. Adite-se que, se normalmente o silencio causa o medo, o temor de se encontrar consigo mesmo e com Deus, o ruído externo leva a uma fuga ainda maior deste recolhimento tão necessário para o crescimento humano de cada um. O silêncio possibilita vencer os demônios interiores para que o amor de Deus reine lá dentro do coração. Libera do relativismo reinante, do individualismo paralisante. Abre os olhos para a bondade e a misericórdia divinas. Assim é possível dar um basta à incoerência. Jesus falava com autoridade porque havia total e absoluta integração entre suas palavras e o que Ele fazia. Ele quer que esta coerência rebrilhe na vida de seus seguidores. Então estes estarão satisfazendo a sede da verdade que toma conta de tantos que desejam a água pura que jorra da sabedoria do Filho de Deus. Nada mais convincente do que palavras alicerçadas na vida realmente cristã do seguidor de Cristo. Este sabe que no coração daquele que promove um salutar silêncio em seu derredor Jesus faz maravilhas e estas se espalham por toda parte. Revestido da força de Jesus pode, como o Mestre divino, dar ordem ao espírito imundo e lhe dizer “Cala-te”. Quando surgem as fantasias sexuais e tudo mais que vai contra a Lei de Deus tem condições de expulsar a satanás. Com autoridade idêntica a de Jesus dará sempre ordem ao espírito maligno para que se afaste dele. É deste modo que se permite que Jesus atue com autoridade na vida de cada um operando maravilhas deslumbrantes, dele recebendo luz e salvação.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.