Jesus conduz ao pai

    Entre as confidências que Jesus fez aos discípulos estas palavras merecem uma reflexão profunda: “Eu sou o caminho! (Jo 14,6). Possuem uma significação intensa para a vida de seus seguidores. Trata-se de uma mensagem cheia de esperança, mas também de grandes exigências. Esperança, sim, porque quando Cristo falava aos seus discípulos eles estavam perturbados dado que os inimigos do Mestre divino ardilosamente tramavam com todos os meios contra sua missão e pensavam, inclusive, em eliminá-lo. Jesus, porém, acalma a seus epígonos: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também […] Eu sou o caminho [“…] Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Prometeu também claramente um lugar na casa do Pai. Assim como o amor a Ele e ao Pai pode transformar a vida, assim pode, igualmente, transfigurar a morte, pois onde Ele estaria, um dia, se achariam também os que lhe fossem fiéis. Através dos tempos as comunidades cristãs diante dos acontecimentos estariam continuamente perturbadas ante a luta contra as verdades pregadas pelo Filho de Deus. Perseguições de todo tipo: físicas e morais. Muitos haveriam de  duvidar se era mesmo conveniente acreditar em Jesus e se este não os estaria levando a um impasse. Ele que sempre conduz para a Casa do Pai onde há muitas moradas seria sempre a garantia mesma de uma felicidade perene após a trajetória terrena. Uma condição Ele estabelecia que era acreditar nele: “Quem acredita em mim fará as obras que eu faço e fará ainda maiores do que essas”. No atual contexto, entenebrecido por tantas doutrinas falsas, pelo hedonismo, pelos crimes mais hediondos. cumpre ao batizado se imergir nas palavras de esperança que lança Jesus: “Eu sou o caminho”. A existência cristã supõe então seguir pelas estradas de Cristo obstinadamente, todos envolvidos no amor. Afeto, ternura, devotamento ao próximo, combate pela justiça, luta contra tudo que signifique negação do que Jesus ensinou. Seu caminho é um caminho de vida e de vida eterna. Esta, contudo, não é algo a ser degustado apenas após a morte, mas deve começar neste mundo. É hoje, é agora que se deve seguir a Cristo, viver sua vida, colocando cada um seus passos nos passos de Jesus. A vida eterna é a vida já nesta terra vivida na dileção a Deus e ao próximo, salvando-a, como se diz na informática, para eternidade. A fé  não permitirá que jamais as forças do mal deletem o que está escrito no íntimo do coração que ama a Cristo. Isto supõe perseverança não obstante os sacrifícios de uma peregrinação terrena neste exílio. É preciso, além disto, indicar este caminho aos que não o conhecem ou se desviaram dele. Eis aí a responsabilidade do verdadeiro cristão, a missão mesma da Igreja. A fé cristã começa pelos pés, porque é preciso caminhar com Cristo e levar outros pelas estradas que conduzem ao céu através de uma dimensão nova na história de cada um. A relação do cristão com Jesus não é unicamente uma relação de obediência a obrigações e de disciplina, mas é a vivência em função de uma eternidade prometida por aquele que está no Pai e o Pai nele. Um repouso verdadeiro, final feliz junto daquele que Ele veio libertar do pecado e da morte. Pela sua paixão morte e ressurreição Ele obterve o perdão do Pai e abriu as portas do Paraíso. Entretanto, Ele não está passivamente aguardando seu discípulo na outra margem da vida, mas está ao lado daquele que o segue nesta peregrinação terrestre. Nele a existência cristã encontra sua essência. Mais do que uma mera filosofia de vida, mais do que uma doutrina ou um código ético, por mais importante que fosse, o cerne do existir cristão é estar com Jesus. Seja na participação na Missa dominical ou em outras Missas, ou nas preces fervorosas, ou na leitura da Palavra de Deus, ou na prática das virtudes, em casa, no trabalho, nos lugares de diversões sadias, nisto tudo estão os meios para se estar com Cristo, presente sempre no cotidiano de cada um. Eis porque se diz que o cristão é um cidadão do céu, peregrinando neste mundo rumo à eternidade. Esta não deve ser vista como um lugar de castelos deslumbrantes, de banquetes opíparos, mas de uma imersão existencial total na luz divina, na visão beatífica do Eterno. Muitos, já neste mundo, de tal forma vivem unidos a Deus que degustam, por vezes, momentos desta ventura suprema. Aliás, pelo Batismo já se entra em comunhão com o Senhor. É um amor que se inicia aqui na terra e terá sua plenitude na outra vida. Este amor deve, porém, crescer dia a dia, manifestado em obras luminosas da adesão total a tudo que Jesus ensinou, porque Ele não é simplesmente uma bússola, um norte, um itinerário, mas o caminho. Isto bem entendeu São Paulo que pôde afirmar: “O meu viver é Cristo” (Fl 1,21)

    * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.