Após tanta violência, ainda há um ar de desconfiança do povo. Mas aos poucos Qaraqosh voltará a uma vida normal. Após tanta violência, ainda há um ar de desconfiança do povo. Mas aos poucos Qaraqosh voltará a uma vida normal.
Nesta quarta-feira, 19 de outubro, após dois anos da invasão da planície de Nínive, no Iraque, tomada pelo grupo Estado Islâmico (EI), o presidente executivo da Fundação Pontifícia ACN (Ajuda à Igreja que Sofre), Johannes Heeremann, informou a libertação da cidade de Qaraqosh, realizada pelas forças armadas locais na região. “Qaraqosh está livre. E aparentemente parte das comunidades vizinhas de Bartella e Karamlesh também foram libertadas”, disse Heeremann, após receber um comunicado emitido pela organização CAPNI (Christian Aid Program Nohadra – Iraq), que informava que os combatentes do EI deixaram o local sem qualquer resistência.
A planície de Nínive foi invadida pelo EI no dia 6 de agosto de 2014. Foi o começo de um tempo de exílio para mais de 100 mil cristãos que viviam na região. Uma semana depois, representantes da ACN visitaram a capital do Curdistão, Erbil, onde muitos desses cristãos tinham procurado refúgio. Lá, eles encontraram muitas pessoas de Qaraqosh, a cidade mais populosa da planície de Nínive, com cerca de 50 mil habitantes, em sua maioria cristã. As pessoas tiveram que abandonar tudo e fugir para salvar suas vidas.
Aded, que perdeu um filho e um sobrinho naquele dia – ambos mortos por uma granada que caiu no jardim da casa deles – fugiu para a França com sua esposa e filha, que está passando por um tratamento médico. Por conta disso, ele teve que esperar dois anos, enquanto o resto de sua família e seu pais permaneceram em Erbil. “Hoje, todos os cristãos que moravam na região estão muito felizes, mas ainda preocupados com o futuro. As pessoas estão com medo de voltar para suas casas e, como lá não tem forças internacionais para protegê-los, eles não vão retornar”, relatou Aded à ACN.
Martin era seminarista quando teve que fugir de Qaraqosh para Erbil, no campo de refugiados mantido pela ACN. Algumas semanas atrás ele foi ordenado sacerdote e a notícia chegou até ele durante uma visita que fazia à Bagdá. Em contato com a ACN, o agora padre Martin demonstrou sua esperança: “a primeira coisa que eu queria fazer é dar graças a Deus. Estou tão feliz. Eu sempre acreditei que isso aconteceria um dia, eu mal posso esperar para ver a cidade. Quando eu soube da notícia, pensei: o bem triunfou sobre o mal. Deus não quer mais ver seu povo infeliz; Ele quer que sejamos felizes. Nós estamos muito felizes e estamos rezando para poder voltar para nossas casas. Agora, os olhos de todo o mundo se voltam para a região”.
O Patriarca Católico Caldeu, Rafael Louis Sako, compartilhou, de Berlim, sua reação com a ACN, onde participa de um grupo de trabalho para discutir sobre o futuro do Iraque e, em particular, de suas minorias. “Eu tenho esperança que a libertação da planície de Nínive, que está em andamento agora, será bem sucedida. Isso é um sinal de esperança para nós”, disse o Patriarca.
Um momento de grande alegria e esperança, mas ao mesmo tempo de incerteza, já que não é difícil prever o desafio que será para um retorno bem-sucedido dos cristãos para seus lares. O Patriarca Louis Sako alertou sobre o fato em sua apresentação, em Berlim, para o ex-embaixador dos EUA no Iraque, o diplomata Ryan Crocker: “Após a libertação e do final desses conflitos, os governos ocidentais envolvidos devem ajudar os refugiados a voltarem para suas casas; proteger áreas de conflito; proporcionar proteção total para eles; restaurar seus direitos e propriedades, contribuindo para a reconstrução dos vilarejos e cidades; compensar os danos causados e ajudar na restauração do patrimônio cultural e religioso de todos os seus habitantes.”
Johannes Heeremann compartilha a preocupação do Patriarca Caldeu. “A libertação de uma cidade tão significativa como Qaraqosh nos enche de grande alegria e esperança, contudo é somente o primeiro passo. Será uma longa e difícil jornada, uma vez que a segurança deve ser garantida e a paz consolidada. De nossa parte, a ACN deve continuar a trabalhar e ajudar os cristãos iraquianos como tem feito ao longo das etapas anteriores da crise”, reforçou o presidente executivo da ACN.
Desde 2014, a ACN enviou mais de 60 milhões de reais em ajuda para os cristãos do Iraque, proporcionando ajuda emergencial e financiando projetos de escolas, alimentação e moradia para os refugiados.
Fonte: ACN