Independência, proteção de Nossa Senhora e a busca da concórdia para o Brasil

    Neste dia em que celebramos a Independência do Brasil, volto-me com gratidão e esperança para a nossa história, nossas raízes e nossa vocação como povo. A data de 7 de setembro não é apenas uma recordação de um momento político que nos constituiu como nação. É também uma oportunidade de renovarmos o compromisso de sermos um povo unido, solidário, fraterno, que busca o bem comum e se coloca sob a proteção de Nossa Senhora, Mãe e Rainha do Brasil.

    Ao olharmos para o passado, vemos que a independência foi fruto de lutas, negociações e da coragem de homens e mulheres que sonharam com um país livre, capaz de escrever sua própria história. O famoso “Grito do Ipiranga”, com todas as suas simbologias, representou um passo decisivo para que o Brasil pudesse se reconhecer como pátria soberana. Mas a liberdade política, por si só, não basta. Uma nação independente precisa ser construída dia após dia com justiça, solidariedade, respeito mútuo e concórdia. Não podemos nos contentar apenas com símbolos ou discursos: somos chamados a dar vida ao ideal de uma pátria justa, reconciliada e capaz de superar suas divisões.

    Na história de nosso país, a fé cristã sempre teve papel fundamental. Desde os primeiros passos da colonização até os grandes marcos de nossa vida nacional, o nome de Nossa Senhora esteve presente na devoção de nosso povo. É significativo que o Brasil tenha como Padroeira a Imaculada Conceição sob o título de Nossa Senhora Aparecida. A sua imagem, encontrada por humildes pescadores no rio Paraíba do Sul, tornou-se sinal da predileção de Deus pelos pequenos e excluídos, lembrando-nos de que o verdadeiro poder está no serviço e na solidariedade. Sob o seu manto, aprendemos a confiar e a buscar forças para enfrentar os desafios de cada época.

    Não podemos esquecer também a figura de São Pedro de Alcântara, antigo patrono do Brasil, cuja intercessão foi pedida desde os tempos do Império. Ele, que foi mestre espiritual de Santa Teresa d’Ávila, representa a austeridade, a fidelidade e a vida de oração que inspiram tantos fiéis. Sua memória nos recorda que uma pátria não se edifica apenas com riquezas materiais ou poder militar, mas sobretudo com virtudes humanas e cristãs que orientam os corações para o bem. Seu exemplo nos convida a olhar para a pátria com espírito de serviço e desapego, lembrando que a verdadeira grandeza não está no poder ou nas riquezas, mas na capacidade de viver para os outros, no amor fraterno que constrói pontes em vez de erguer muros.

    Hoje, quase dois séculos após a independência, continuamos a enfrentar grandes desafios. O Brasil é uma nação imensa, de riquezas naturais incomparáveis e de uma diversidade cultural admirável. No entanto, ainda carregamos feridas históricas de desigualdade, exclusão social e falta de oportunidades para tantos irmãos e irmãs. Além disso, vivemos um tempo de crescente polarização política, em que muitas vezes deixamos de dialogar para nos fecharmos em posições rígidas. Essa divisão, que tantas vezes penetra até dentro das famílias e das comunidades, ameaça à paz social e impede que avancemos juntos em busca do desenvolvimento humano integral.

    É por isso que, neste 7 de setembro, sinto-me chamado a pedir pela concórdia em nossa nação. A verdadeira independência não é apenas libertar-se de forças externas, mas também ser capaz de governar-se internamente com sabedoria, diálogo e fraternidade. Precisamos que nossos governantes, de todas as esferas e matizes, coloquem-se acima de interesses partidários ou pessoais e sejam guiados pela busca sincera do bem comum. A sabedoria é dom de Deus, e devemos rogá-la insistentemente, para que aqueles que têm responsabilidades sobre a vida pública possam tomar decisões justas e equilibradas.

    Da mesma forma, nós, cidadãos, não podemos ceder ao ódio ou à indiferença. Temos a responsabilidade de cultivar a fraternidade no cotidiano, nas relações de trabalho, nas convivências sociais e até nas redes digitais. Não podemos alimentar as divisões. Ao contrário, como cristãos e como brasileiros, somos chamados a sermos instrumentos de paz e reconciliação, lembrando as palavras do Senhor: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Se cada um de nós se comprometer a cultivar a escuta, a tolerância e o respeito, já estaremos dando um passo significativo para a cura das feridas de nossa sociedade.

    Celebrar a independência é, portanto, muito mais do que olhar para o passado: é comprometer-se com o presente e projetar o futuro. É acreditar que, apesar das dificuldades e crises, temos capacidade de construir juntos uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. É confiar que, sob o olhar materno de Nossa Senhora Aparecida e a intercessão de São Pedro de Alcântara, nosso país pode superar as barreiras que o dividem e caminhar rumo a uma nova etapa de sua história.

    Desejo que esta data seja vivida por todos nós como um convite à oração pela pátria. Rezemos pelas autoridades constituídas, para que governem com justiça e misericórdia. Rezemos pelo nosso povo, para que não perca a esperança diante das dificuldades. Rezemos especialmente pelas famílias, células vivas de nossa nação, para que sejam escolas de amor, respeito e fraternidade.

    Que Nossa Senhora Aparecida estenda seu manto sobre o Brasil e, com a força do Espírito Santo, nos ajude a viver como irmãos. Que São Pedro de Alcântara, antigo patrono de nossa pátria, interceda para que saibamos cultivar a simplicidade, a humildade e a perseverança necessárias para reconstruir os laços que nos unem.

    Neste 7 de setembro, celebremos com alegria a dádiva de sermos uma nação livre e independente. Mas celebremos, sobretudo, com o compromisso de sermos um povo reconciliado, que caminha unido em busca da paz e da justiça. Só assim honraremos verdadeiramente a nossa independência: quando formos capazes de pensar e agir como uma só nação.

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