Independência do Brasil: sob o manto de Nossa Senhora, construir a concórdia

    Celebrar a Independência do Brasil, neste 7 de setembro, é mais do que recordar um fato histórico que deu origem a nossa autonomia política. É reconhecer que somos um povo chamado a caminhar juntos, como irmãos e irmãs, na construção de um projeto comum de nação. O “grito do Ipiranga” ecoa até hoje como símbolo de liberdade, mas não pode se reduzir a uma lembrança distante. Ele precisa renovar em cada brasileiro a consciência de que independência é responsabilidade, serviço, cuidado com a vida e compromisso com a justiça.

    A Sagrada Escritura nos recorda que a verdadeira liberdade vem de Deus. O povo de Israel experimentou isso quando foi libertado da escravidão do Egito: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20,2). A independência do Brasil também precisa ser vista como dom e tarefa. Dom porque a vida e a história são graças de Deus; tarefa porque somos chamados a transformar essa liberdade em justiça social, fraternidade e compromisso com os mais pobres.

    Nossa história mostra que o caminho da liberdade sempre foi acompanhado pela fé. Não é por acaso que Nossa Senhora Aparecida, encontrada por simples pescadores, tornou-se a Padroeira do Brasil. Desde o Império, o país se confiou também à intercessão de São Pedro de Alcântara, patrono do Brasil, exemplo de oração, penitência e fidelidade ao Evangelho. Essas presenças espirituais nos recordam que uma pátria só se sustenta de pé quando é construída sobre valores sólidos: fé, solidariedade, respeito, partilha e amor ao próximo.

    Mas, infelizmente, ainda carregamos feridas abertas. A independência política não resolveu, por si só, a escravidão, a exclusão e as desigualdades profundas que atravessam os séculos e permanecem no presente. O profeta Isaías denunciava: “Ai dos que decretam leis injustas e dos escribas que registram opressões, para negar justiça aos pobres” (Is 10,1-2). A Palavra de Deus nos desafia a olhar para o Brasil de hoje e perceber que a verdadeira independência só se concretiza quando cada brasileiro tem acesso à dignidade, ao trabalho, à educação, à saúde e à paz.

    Outro desafio de nosso tempo é a polarização política que divide famílias, comunidades, cidades e até ambientes de trabalho. O clima de hostilidade e de intolerância ameaça a unidade nacional e enfraquece a democracia. Esquecemos que a Escritura nos convida a buscar o bem comum: “Se um reino se divide contra si mesmo, tal reino não pode subsistir” (Mc 3,24). Um país não se constrói em trincheiras, mas em mesas de diálogo, onde se escuta, se discute e se decide pensando no bem de todos.

    Neste dia 7 de setembro, faço um apelo à concórdia. Governantes, legisladores e juízes de todas as esferas têm a responsabilidade de colocar a nação acima de seus interesses pessoais ou partidários. Precisam da sabedoria que vem de Deus, como pediu o rei Salomão: “Dá ao teu servo um coração que saiba ouvir, para governar o teu povo e discernir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9). O poder político deve ser exercido como serviço, e não como privilégio. Que nossos líderes aprendam a escutar o clamor do povo e a se deixar guiar por princípios éticos que sustentem decisões em favor da vida, da justiça social e da paz.

    Mas também nós, cidadãos, temos parte nessa missão. O apóstolo Paulo nos lembra: “Vós fostes chamados à liberdade; não useis, porém, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pela caridade” (Gl 5,13). Não podemos usar a liberdade como desculpa para o egoísmo ou para a indiferença. Cabe a cada cristão e a cada família cultivar o diálogo, promover a reconciliação, valorizar o respeito mútuo. Se quisermos um Brasil melhor, precisamos começar em nossa casa, em nossas relações mais próximas, fazendo a diferença nos pequenos gestos que constroem a paz.

    Nossa Senhora Aparecida, mãe do povo brasileiro, nos ensina a humildade e a confiança em Deus. Dela aprendemos que as grandes mudanças começam na fé, na oração e no serviço humilde. São Pedro de Alcântara, patrono de nossa pátria, mostra-nos que a austeridade, a disciplina e a perseverança no bem são virtudes indispensáveis para qualquer governante e cidadão. Invocamos a intercessão deles para que o Brasil reencontre o caminho da concórdia e da unidade.

    Celebrar a independência é renovar o compromisso de ser uma nação livre, mas também solidária e justa. O grito de 1822 precisa se transformar em voz profética hoje, pedindo que nenhum brasileiro seja deixado para trás. Que nossa independência se traduza em políticas públicas que promovam a vida, em gestos cotidianos que semeiem a fraternidade e em um espírito de concórdia que una corações.

    Neste 7 de setembro, coloquemos o Brasil sob o manto de Nossa Senhora Aparecida e peçamos a graça de superar as divisões. Que o Espírito Santo conceda a sabedoria necessária a nossos governantes e a coragem de sermos, todos nós, construtores da paz. Só assim poderemos dizer, com verdade, que somos um povo livre e independente, capaz de caminhar junto como uma só nação.

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