ILUSÕES DA PREPOTÊNCIA

                Um dos maiores entraves do seguimento cristão chama-se prepotência. A complexidade desse problema comportamental atinge a todos, mesmo aqueles que se julgam íntimos do mestre nazareno, a ponto de se sentirem detentores de privilégios pessoais. Quem nunca se sentiu assim, diante das graças recebidas e das atenções merecidas dos reservatórios dos céus? Quem nunca olhou para o comportamento dispersivo e anticristão do mundo e não se sentiu privilegiado diante de Deus? Senhor, eu não sou como estes, é a afirmativa quase inconsciente que bem define nosso padrão comportamental.

                Nesta via dos que se dizem maiores e melhores está o perigo da prepotência. O mal maior de muitos cristãos é julgar-se salvo antes da hora. É exigir privilégios diante do trono. É aproximar-se da mesa eucarística sem a humildade necessária para reconhecer a indignidade desse privilégio. Dizer-se seguidor de leis e princípios que não lhe servem como leis e princípios. Dizer-se digno de proferir a palavra, dela subtraindo pontos, vírgulas, interrogações e exigências mais. Olhar o próximo com suas fraquezas, mas ignorar as próprias. “Senhor, eu não sou digno!” – diria o centurião romano, mesmo diante dos muitos poderes de mando e desmando que sua autoridade lhe concedia. A este foi concedido o privilégio da presença e ação de Deus. Soube reconhecer sua pequenez e mereceu a graça.

                Os poderes terrenos ofuscam a grandiosidade da misericórdia divina. Ocupar privilégios no Reino de Deus não é para qualquer um. “É para aqueles a quem foi reservado”. Eis porque nossas definições de direitos e deveres ainda vagueiam no errôneo conceito de mando e desmando, poderes circunstanciais e transitórios, que nenhuma instituição humana sobrepõe à autoridade concedida do alto. “Nenhum poder lhe seria dado se não viesse de Deus”. Nenhum. Nem mesmo aquele que ilusoriamente pensamos possuir. “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas entre vós não deve ser assim” … (Mc 10, 42-43).

                Como seria, então? Servidão e submissão é a condição mínima para se obter bênçãos e graças diante de Deus. Não é ostentando nossa fé diante do povo, mas por primeiro nossa disponibilidade para servir esse povo com o verdadeiro espírito de servidão e humildade. Humildade capaz de reconhecer a própria indignidade. Ao contrário daqueles que se arvoram num sentimento de poder e prepotência e se tornam cegos diante do ridículo comportamento farisaico. A estes, somente a estes, se impede a visão da própria impotência. Pensam que agradam, mas ofendem. Sentem-se donos da verdade montados na mentira que vivem. Cuidado! Não seja você o palhaço num picadeiro das próprias ilusões. O palco da vida também possui artistas de primeira hora, que merecem muito mais os aplausos dos anjos do que o sorriso dos homens. Ocupar a direita ou a esquerda é indiferente aos olhos de Jesus, pois que seu trono dispensa privilégios, ilusões que nossa prepotência constrói.

                Quando a vida lhe der oportunidades de escolhas, vá com calma. Use sempre o critério da indignidade, pois, aos olhos da graça, os últimos serão os primeiros, pequenos, os maiorais. Uma só palavra basta, para bom entendedor.

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