Igreja, povo de Deus

    Levar em conta a memória daqueles que não estão mais conosco, que partiram, que foram atingidos pela pandemia exprime, revela e representa aquele horizonte sonhado e esperançoso, dentro do mais profundo sentido da vida, segundo a vontade salvífica de Deus. Jamais esquecer de todas as pessoas, no anúncio luminoso da vida sem ocaso, lembrando aqui das vítimas da pandemia, homenageando-as, dentro do ângulo, ou enfoque, dos que passam pela dor da perda, não sendo possível ceder em paragens, ou em interrupções, tendo como garantia a esperança. Não é fácil o anúncio da esperança para uma realidade eclesial que não quer marcar presença no mundo do trabalho, da ciência e da cultura, com sua atenção um tanto quanto voltada para tudo que é moderno, mas no medo do aggiornamento (Igreja renovada ou rejuvenescida) de São João XXIII, também na pouca identificação com a Igreja, povo de Deus a caminho, do Concílio Vaticano II (1962-1965).

    Tudo por Deus e por seu santo nome, “ontem, hoje e por toda a eternidade”, ele que só pode ser amor, incontroverso e irrefutável. Daí os valores do Evangelho, imprescindíveis à realidade atual do mundo tão diverso, no arcabouço estrutural com seu conteúdo inconteste aos sinais dos tempos, a provocar em nós e nas futuras gerações, em meio ao assistencialismo exacerbado, aquela utopia pacifista e libertadora, tão cristalinamente proclamada por Dom Helder Câmara (1909-1999), pedindo licença para o denominar, no seu pacto proclamado pela reconciliação humana, de “pequeno grande”, aluno brilhante que foi do Seminário da Prainha, em Fortaleza-CE.

    Dom Helder bem que ajuda, quando se concebe uma Igreja parada, estática ou intimista, de cristãos batizados, dos que mais gostam da oração, da adoração, e não dispensam os sacramentos, com pouca incidência na vida concreta do mundo da sociedade. Também ao se imaginar, no saudosismo nostálgico, numa Igreja mais inclinada ao sagrado de outrora, longe de todo e qualquer compromisso social e transformador, estando ela de mãos dadas com as autoridades. Uma Igreja que percebe o demônio e dele quer se distanciar, quer ver facilmente seus filhos convertidos, sim, separada por quilômetros e quilômetros, no compromisso com as estruturas reais do mundo.

    Como Dom Helder Câmara honra e engrandece nosso bravo povo brasileiro! Como referencial, que nos ajude, no sentido de antever o que nos é reservado, sem jamais perder de vista a ansiada e almejada esperança futura, desígnio e intento das mulheres e dos homens de boa vontade. Que a Igreja seja sensível e inclusiva, na opção pelos menos afortunados e empobrecidos, aquela mesma que não quer fugir do mundo, mesmo com traços burocráticos e estruturais, sendo uma comunidade de fé viva e lúcida, no renovado ardor missionário. Assim seja!

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