Relatório mais recente da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre alerta para situação em países como o Iraque, a Síria, a China e a Coreia do Sul
Lisboa, 13 out 2017 (Ecclesia) – O novo relatório sobre a perseguição aos cristãos, da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, alerta para uma “situação aterradora” em países como o Iraque, a Síria, a Coreia do Norte e a China, e a Nigéria.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, a diretora da Fundação AIS em Portugal, Catarina Bettencourt, salientou que o documento mostra que os cristãos continuam a ser a comunidade religiosa “mais perseguida em todo o mundo” e que em algumas regiões, como o Médio Oriente, “poderá acontecer mesmo o desaparecimento da comunidade cristã” nos próximos “três anos”.
No caso do Iraque, só entre 2015 e 2017, o número de cristãos naquele país desceu dos 275 mil para os cerca de 200 mil.
Ao todo foram analisados 13 países que já estavam sinalizados pela Fundação AIS como focos de grave discriminação e violência sobre a comunidade cristã.
E desses “a situação só não se agravou na Arábia Saudita, porque também o contexto já é tão mau que pior não poderia ficar”, referiu Catarina Bettencourt.
O relatório 2017 da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, intitulado ‘Perseguidos e Esquecidos?’, foi apresentado esta quinta-feira no auditório da Rádio Renascença.
Este trabalho dividiu a perseguição aos cristãos sobretudo em duas áreas: pela ação de grupos extremistas como o Estado Islâmico ou o Boko Haram (Iraque, Síria e Nigéria por exemplo) e por intermédio dos próprios Estados (China e Coreia do Norte).
A sessão de apresentação contou com uma intervenção do bispo auxiliar de Lisboa, D. Nuno Brás, que realçou a responsabilidade que os governos mundiais devem assumir no sentido de responder a este problema.
Para o responsável católico, atualmente no plano político a perseguição religiosa “não está a ser tomada a sério” e “um exemplo gritante” está no caso da China.
Uma nação onde a discriminação aos cristãos é mais evidente e em que esse atentado aos direitos humanos passa depois em claro, nas opções políticas e económicas que se seguem a nível internacional.
“É raro hoje um país ocidental que não tenha uma boa relação com a China. Muitas das nossas grandes empresas estão na mão de empresários chineses, a começar por aí e a acabar no futebol. Não deixa de ser estranho que os nossos governos não ergam a sua voz à conta da liberdade religiosa”, apontou D. Nuno Brás.
Sobre o papel da Igreja Católica, o bispo auxiliar de Lisboa enalteceu a missão da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, um organismo dependente da Santa Sé, empenhado em denunciar e alertar para as injustiças que diariamente são cometidas não só contra os cristãos mas contra todas as comunidades religiosas do mundo.
Um trabalho que “não apresenta apenas estatísticas mas casos concretos, rostos concretos”, frisou.
“Cabe à Igreja Católica ajudar em primeiro lugar com a nossa ajuda material, depois com a nossa ajuda espiritual, mas também em termos de pressão política sobre os nossos governos e com a presença nas instâncias internacionais”, defendeu D. Nuno Brás, que chamou à responsabilidade os cristãos do Ocidente.
Da Europa e concretamente de Portugal, onde estas problemáticas ainda não acontecem de forma “tão declarada”, mas isso não significa que a liberdade religiosa seja um dado adquirido.
“Há sempre a tentação de achar que a liberdade religiosa é uma coisa secundária e não é. A seguir ao direito à vida vem o direito a professar a religião, qualquer que ela seja”, realçou o bispo, em declarações à Agência ECCLESIA.
Segundo D. Nuno Brás, realidades dramáticas como estas devem servir de exemplo e incentivar as comunidades cristãs a um maior compromisso na fé, a um maior empenho comunitário.
“Na Nigéria, os cristãos vão à missa todos os domingos sabendo que pode rebentar uma bomba, e que podem não regressar. Mas vão na mesma. E nós aqui, que temos toda a liberdade, deixamos de fazer isso. Não deixa de ser dramático e paradoxal”, completou.
Fonte: Agência Ecclesia