Em consequência da situação da sociedade nos dias de hoje, cada vez mais nossas casas se fecham. Não só elas, mas também nossos bairros, cidades e nações. A chegada de imigrantes em busca de trabalho gera desconfiança e insegurança entre os que já vivem no país. De modo geral, todo aquele que seja diferente, que se desvie do que é rotineiro, deixa-nos inseguros e ameaçados. Por isso, e não por outra razão, é que aumenta a violência. Responde-se à violência com mais violência – embora em algum caso seja em legítima defesa – e assim vai crescendo a espiral da desconfiança e da violência.
A proposta das leituras do décimo sexto domingo do Tempo Comum é bem diferente. Na linha da mensagem evangélica do Reino de Deus, fala-nos da hospitalidade. A primeira leitura do livro do Gênesis(Gn 18,1-10a) nos mostra Abraão, o patriarca, que não só acolhe os que lhe pedem hospitalidade, mas roga àqueles homens que fiquem em sua casa e participem de sua mesa. A hospitalidade, para aqueles povos, era um dever sagrado. O visitante deveria ser cercado de todo o respeito do mundo. Era como se fosse o próprio Deus quem os estivesse visitando. Ao texto do evangelho(Lc 10,38-42) se tem dado muitas explicações, mas geralmente nos esquecemos do mais simples: Marta e Maria receberam o Senhor em sua casa. Esse é o ponto de partida sem o qual aquela pequena discussão entre Marta e Maria nunca teria acontecido.
Hoje deveríamos recuperar a virtude da hospitalidade, seja dos vizinhos do andar ou do apartamento em frente, mas também dos vizinhos de outros países que batem às nossas portas pedindo um trabalho que lhes garanta o pão e o futuro a eles e a suas famílias. Também, ante os que não acreditam em nossa religião, os que não pertencem a nossa raça e os que não falam nossa língua. Todos somos irmãos e irmãs. Todos nós pertencemos à família de Deus. A encarnação de Jesus converteu cada homem – e cada mulher – no melhor e mais pleno sacramento da presença de Deus entre nós. Isso é uma obra concreta de misericórdia, a hospitalidade generosa, neste ano santo da misericórdia.
Recebê-lo, compartilhar com ele ou com ela aquilo que temos significa receber ao próprio Deus que nos vem visitar, tornar realidade o Reino em nosso mundo, dar cumprimento à vontade de Deus que quer que todos nos sentemos à mesma mesa para compartilhar a vida com a qual Ele nos presenteou. Apenas a hospitalidade – a acolhida sincera e aberta, a mão estendida – conseguirá unir o mundo dilacerado e dividido que parece ser capaz apenas de gerar desconfiança e violência.