Hosana nas alturas

    O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor abre a Grande Semana da nossa fé, a Semana santíssima, que culminará com a Solenidade da Páscoa, Domingo próximo. Considerando os condicionamentos de isolamento social em que estamos vivendo este Domingo de Ramos será um pouco diferente, sem a procissão de Ramos e, em geral, as celebrações serão assistidas através dos meios de comunicação. Em nossas portas, portões fixaremos os ramos para anunciar que chegou a grande semana e nessa casa residem pessoas que aclamam Cristo como Senhor. Neste dia fazemos a memória da Entrada do Senhor Jesus em Jerusalém. Ele é o Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que vem tomar posse de sua Cidade Santa. É um Messias humilde, que entra não a cavalo, mas num humilde burrico, sinal de serviço e pequenez. Seu serviço será dar a vida pela multidão. Ele é Rei, mas rei coroado de espinhos e não de humana vanglória. Acolhamos o Senhor em nossas vidas aclamando-O com a vida, e reconhecendo-O como nosso rei, rei pobre e humilde. Tê-lo seguido é nos dispor a segui-lo nas pobrezas e humildades da vida, dispondo-nos a participar de sua paixão e cruz para ter parte na glória de sua ressurreição.

             O meio que Deus escolheu para nos salvar não foi o que é grande e vistoso, tão apreciado pelo mundo. Ao invés, o Pai nos salvou pela humilde obediência do Filho Jesus. Reconheçamos na voz do Servo sofredor da primeira leitura (cf. Is 50,4-7) a voz do Filho de Deus: “O Senhor Deus me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para arrancarem a barba. O Senhor é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, porque sei que não serei humilhado” (cf. Is 50,4-7).

             O Filho buscou humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou força e consolo, encontrou a certeza de sua vida. São Paulo, na segunda leitura deste domingo (cf. Fl 2,6-11), confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo, existindo na condição divina, esvaziou-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (cf. Fl 2,6-8). Em Cristo, neste mundo que nos tenta para sermos os donos da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e seus planos para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres realmente, somente então viveremos de verdade!

             O Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº 22, diz: “De certo modo, o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de Maria Virgem, fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado.”

             A entrada triunfal de Jesus (cf. Mt 21,1-11) foi bastante efêmera para muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? O grande monge que foi São Bernardo comenta: “Como eram diferentes umas vozes e outras! Fora, fora, crucifica-o e bendito o que vem em nome do Senhor, Hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e lançam a sorte sobres elas”.

             Os ramos significam que reconhecemos Jesus como o Messias de Israel, prometido por Deus. Significam também que nos dispomos a segui-lo como o Servo que dá a vida na cruz. Devemos guardá-los num lugar visível durante todo o ano, para recordar nosso compromisso de seguir o Cristo num caminho de humildade e despojamento; segui-lo ainda quando não compreendermos bem os desígnios de Deus para nós.

             A Igreja, Mãe e Mestra, nos lembra que a entrada triunfal vai perpassar todos os passos da Paixão de Cristo. Depois da proclamação do Evangelho da entrada de Jesus em Jerusalém, mergulha-se no mistério da Paixão de Jesus Cristo: Em Is 50 4-7 descreve o Servo sofredor, na esperança da vitória final. Vemos nele a própria pessoa de Jesus Cristo. Em Fl 2,6-11 temos a chave principal de todo o mistério deste Domingo de Ramos: Jesus humilhou-se e por isso Deus o exaltou! Nestes tempos de pandemia, de recolhimento social, poderíamos refletir, lendo, relendo e meditando várias vezes a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Mt 27,11-54, na fórmula breve ou a paixão completa Mt 26,14-27,66)

             Somos convidados a iniciar com fé a grande Semana, diferente, sim, porém é a Semana Santa, pois vivenciamos os grandes mistérios na vida de Cristo. Como vivemos o contingenciamento social esta Semana tem tudo para ser mais santa, se como Igreja Doméstica, nos coloquemos na escuta e na vivência dos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Caminhemos com Ele, para com Ele, pedindo perdão dos nossos pecados, possamos viver uma vida nova, de ressuscitados. Ao olhar para cada um deles, possamos crescer na fé, no amor e na humildade. São dons que precisamos exercer a cada dia de nossa vida, e nada melhor que aprender com Jesus.

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