Neste quarto domingo do mês de agosto, ao celebrarmos o 21º Domingo do Tempo Comum no Ano B, a liturgia nos coloca diante de um momento crucial tanto na história do povo de Israel quanto no ministério de Jesus. É um domingo de decisões, de escolhas fundamentais que determinam o rumo de nossas vidas de fé.
Na primeira leitura, Josué 24,1-2a.15-17.18b, vemos o povo de Israel diante de uma escolha decisiva. Josué, o líder do povo, reúne as tribos em Siquém e lhes propõe um desafio: “Escolhei hoje a quem quereis servir” (Josué 24,15). Esta é uma pergunta que vai ao coração da aliança entre Deus e o seu povo. Israel deveria escolher entre os deuses estrangeiros ou o Senhor, que os libertou do Egito e os conduziu à terra prometida.
A resposta do povo foi clara e convicta: “Nós também serviremos ao Senhor, porque Ele é o nosso Deus” (Josué 24,18). Este momento é um marco na história de Israel, onde o povo reafirma sua fidelidade ao Deus verdadeiro, reconhecendo as maravilhas que Ele realizou em suas vidas.
O Evangelho de hoje é João 6,60-69 estamos diante de outro momento de escolha, desta vez no ministério de Jesus. Jesus havia acabado de ensinar sobre o “Pão da Vida”, uma doutrina profunda e difícil de aceitar. Muitos dos seus discípulos, ao ouvirem suas palavras, disseram: “Esta palavra é dura. Quem pode escutá-la?” (João 6,60). E muitos, a partir de então, abandonaram Jesus e não andavam mais com Ele.
Aqui, vemos a liberdade que Jesus dá a seus discípulos: Ele não força ninguém a segui-lo. Ao invés disso, pergunta aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?” (João 6,67). Essa pergunta não é apenas dirigida aos discípulos de então, mas a cada um de nós hoje. Diante das exigências do Evangelho, somos constantemente convidados a fazer a escolha de continuar seguindo a Cristo ou não.
Pedro, em nome dos Doze, faz uma bela profissão de fé: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus” (João 6,68-69). Esta resposta expressa a confiança e a certeza de que, mesmo diante das dificuldades, Jesus é o caminho, a verdade e a vida.
Caros irmãos e irmãs, assim como o povo de Israel e os discípulos de Jesus, nós também somos chamados a fazer escolhas diariamente. Escolhas que revelam em quem colocamos nossa confiança e a quem servimos de fato. A nossa fé não é algo que professamos apenas com palavras, mas que deve se refletir em nossas ações, em nossas prioridades e em nossa maneira de viver.
O mundo nos oferece muitas alternativas, muitas “divindades” que prometem felicidade e realização. Podemos ser tentados a seguir os caminhos do materialismo, do individualismo ou das falsas seguranças que o mundo nos apresenta. Mas, como cristãos, somos chamados a reafirmar, a cada dia, a nossa decisão de seguir a Cristo, mesmo quando suas palavras nos desafiam, mesmo quando o caminho se torna estreito e difícil.
A segunda leitura, Efésios 5,21-32, nos fala sobre o compromisso que a fé exige, especialmente no contexto da vida matrimonial. Paulo utiliza a relação entre Cristo e a Igreja como modelo para o amor entre marido e mulher. Esse amor é um reflexo do amor sacrificial de Cristo, que entregou sua vida pela Igreja. A escolha de seguir a Cristo implica viver esse amor em todas as nossas relações, com sacrifício, entrega e fidelidade.
Portanto, hoje, somos chamados a renovar o nosso compromisso com Cristo. Que, diante das dificuldades e desafios da vida, possamos repetir com Pedro: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna.” Que esta Eucaristia nos fortaleça e nos dê a graça de seguir sempre o caminho do Senhor, firmes na fé e na esperança.
Que Maria, Mãe da Igreja, interceda por nós, para que possamos ser fiéis em nossas escolhas e perseverar na fé até o fim.
+Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)