Sejamos templos vivos do Senhor Ressuscitado!
Irmãos e irmãs,
Neste segundo domingo de novembro – dia 09 de novembro precisamente – a Igreja celebra uma festa muito especial: a Dedicação da Basílica de São João de Latrão, a Catedral do Papa, Bispo de Roma. Ela é chamada de “mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade e do mundo”, porque é o símbolo visível da comunhão de todas as comunidades cristãs com o sucessor de Pedro. Celebrar esta festa é renovar nossa unidade com o Papa e nossa consciência de que somos pedras vivas do edifício espiritual que é a Igreja de Cristo.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel – Ez 47,1-2.8-9.12 – tem uma visão admirável: “Vi sair água do limiar do Templo” (Ez 47,1), e essa água corria em direção ao deserto, levando vida por onde passava. Essa imagem profética anuncia o dom da graça de Deus que brota de Cristo e da sua Igreja. O templo, para Israel, era o lugar da presença divina; mas a visão mostra que a água viva não fica presa nas paredes — ela sai, espalha-se, fecunda e transforma tudo o que toca.
Assim também a Igreja, templo espiritual de Deus, não existe para si mesma: ela é chamada a derramar sobre o mundo a água viva da fé, da misericórdia e da esperança. Quando somos fiéis ao Evangelho, tornamo-nos canais dessa água que dá vida, curando o que está seco e renovando o que parecia perdido.
São Paulo, na segunda leitura – 1Cor 3,9c-11.16-17 –, recorda-nos que o verdadeiro templo de Deus não é feito de pedras, mas de pessoas: “Vós sois o edifício de Deus” (1Cor 3,9). E acrescenta: “O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” (1Cor 3,17).
Cada cristão, batizado e habitado pelo Espírito Santo, é parte desse edifício sagrado. Por isso, cuidar da Igreja não é apenas conservar seus muros, mas viver a fé com coerência, em comunhão e santidade. O zelo pela casa de Deus deve começar dentro de nós — no coração, que é o primeiro altar.
O Evangelho de São João – Jo 2,13-22 – nos leva ao coração da festa. Jesus, ao ver o templo de Jerusalém transformado em mercado, toma nas mãos um chicote e expulsa os vendilhões, dizendo: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio.” (Jo 2,16).
Este gesto profético revela que o verdadeiro culto a Deus não pode ser contaminado pela ganância, pela hipocrisia ou pela superficialidade. O templo é lugar de encontro com Deus, não de interesses humanos.
Mas o Evangelho nos conduz a um significado ainda mais profundo. Quando os judeus perguntam com que autoridade Jesus faz aquilo, Ele responde: “Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei.” (Jo 2,19). E João explica: “Ele falava do templo do seu corpo.” (Jo 2,21).
Aqui está o centro da nossa fé: Cristo é o novo e definitivo Templo, no qual Deus habita plenamente e onde todos os povos podem encontrar salvação.
O salmo de hoje proclama: “O Senhor dos Exércitos está conosco, o nosso refúgio é o Deus de Jacó.” (Sl 45,8).
Esse salmo expressa a confiança do povo que reconhece Deus como sua morada segura. E é por isso que Jesus, movido pelo amor ao Pai, purifica o templo. “O zelo por tua casa me consumirá” (Jo 2,17) é mais do que uma indignação; é a paixão ardente de quem deseja que Deus seja amado, respeitado e adorado em espírito e verdade.
Celebrar a dedicação da Basílica de Latrão é, portanto, muito mais do que lembrar um edifício antigo — é celebrar o mistério da Igreja viva, unida ao Papa e espalhada pelo mundo.
Cada Igreja que consagramos é um sinal visível dessa comunhão. Mas hoje somos convidados a olhar para o templo interior: nós mesmos. Somos morada de Deus, templo do Espírito Santo. Quando nos purificamos do egoísmo, do orgulho e da indiferença, tornamo-nos lugares onde Cristo habita e se manifesta.
Queridos irmãos e irmãs, que esta celebração nos ajude a redescobrir a beleza de pertencer à Igreja, essa casa onde todos têm lugar.
Peçamos ao Senhor que renove em nós o zelo por sua casa — por nossas comunidades, por nossa fé e por nossa própria alma.
E que de nós também possa brotar a água viva do amor de Deus, que cura, fecunda e dá vida ao mundo. “O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós.” (1Cor 3,17)
Que assim seja. Amém.



