Benedetta Capelli- Vatican News
A Roma dos Césares e a Roma dos Papas, uma cidade toda renovada, impulsionada pelo crescimento econômico que marcou o pós-guerra, tradição e inovação que se uniram para oferecer ao mundo a edição mais “romântica” – como foi definida na época – dos XVII Jogos Olímpicos. Pela primeira vez no mundo a TV em preto e branco ofereceu as imagens das competições, entregando à história do esporte o rosto dos atletas de todos os cantos do mundo. Uma delas foi a de Abebe Bikila, etíope, que descalço conquistou a maratona, a rainha das corridas, reencenando a última façanha de Fidípides que correu da cidade de Maratona a Atenas para anunciar a vitória dos persas em 490 AC. Foram também os Jogos de Cassius Marcellus Clay, um boxeador de 18 anos de Louisville que ninguém conhecia e que ganhou a primeira medalha de ouro. Quatro anos depois, sob o nome de Muhammad Ali, ele se tornaria o mito do boxe de que todos ainda hoje se lembram.
João XXIII e os atletas
Um dia antes da abertura, os atletas de todas as partes do mundo se reuniram na Praça São Pedro para o encontro com o Papa João XXIII. Recordando a visita do Barão De Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos, ao Papa Pio IX e a aprovação pelo Papa de seu projeto, João XXIII convidou os atletas a darem um exemplo de competição saudável. “Nas competições”, disse o Papa, “sejam sempre serenos e joviais, modestos na vitória, objetivos e de bom humor na derrota, tenazes nas dificuldades. Como verdadeiros atletas vocês testemunham aos espectadores a verdade do antigo ditado: Mens sana in corpore sano“.
Roma pronta para viver emoções
Às 17h30 do dia 25 de agosto de 1960, a tocha olímpica faz sua entrada no Estádio Olímpico e o último portador foi Giancarlo Peris, que concluiu a viagem do símbolo das Olimpíadas. Roma estava pronta para viver os Jogos nos quais participavam seis mil atletas de 84 nações. Havia um clima de unidade e alegria, mas as tensões no mundo não faltavam: desde a Guerra Fria EUA-URSS até a mais interna na Alemanha que levaria à criação do Muro de Berlim, também Cuba que com Fidel Castro entraria na órbita soviética. Uma das medalhas de ouro da Itália (que conseguiu 13 naqueles Jogos) foi conquistada por Livio Berruti, 21 anos, em atletismo, foi o primeiro europeu a obter a medalha usando óculos escuros, uma novidade absoluta, mas não única.
Livio Berruti: erros que valem ouro
Aos 81 anos, Livio Berruti faz um balanço dessa experiência com a maturidade de um homem que admite erros e que também agradece o destino pelo que recebeu. “Lembro-me daquela atmosfera de alegria, amizade, serenidade, respeito, havia um desejo de falar uns com os outros, todos nos sentíamos iguais. Havia também uma grande participação do público e a sensação de fazer parte de um evento importante e belo”. Sobre a final dos 200 metros rasos, recorda o intervalo entre a semi-final e a final, fala sobre o recorde mundial que tinha conquistado e o fato de ter diminuído a velocidade antes de terminar a corrida. Sabia que tinha se esforçado demais antes da final e isso não foi bom. “Todos estavam treinando enquanto eu estava no vestiário descansando, e errei por isso”. Porém foi um erro que lhe valeu uma medalha. “Mas não se pode contar como regra”, salienta Berruti, “eu não tinha músculos poderosos, porém a sorte me ajudou”.
A foto que antecipa Luther King
No coração de Livio Berruti, os Jogos Olímpicos de Roma, além dos triunfos esportivos, estão ligados a “um amor platônico” por Wilma Rudolph, a atleta americana que seria a verdadeira dominadora dos Jogos: vencendo os 100, e 200 metros e a corrida de revezamento 4×100. A “Gazela Negra”, como foi chamada, tinha sofrido de poliomelite quando criança conseguindo derrotá-la. “Ela me propôs a troca de nossos abrigos – explica Berruti – e quando a encontrei, fiquei encantado”. Os olhos escuros da atleta nunca foram esquecidos, mesmo depois de 60 anos. “Tiraram uma foto nossa de mãos dadas na entrada da Vila Olímpica”, disse ele, “antecipamos três anos a frase de Martin Luther King que falava do sonho de ver pessoas brancas e negras de mãos dadas”. Esta é a prova de que o esporte está sempre à frente da política”. “Hoje – conclui Berruti – desejo a Roma e ao mundo, depois de 60 anos, que possam construir o futuro pensando nos outros, pondo de lado o individualismo, uma dos nossos maiores defeitos”.