Geórgia: o país que o Papa visita

Cidade do Vaticano (RV) – Mas que país é hoje a Geórgia, ex-república soviética independente desde 1991? E sobretudo, como as autoridades veem a chegada de um segundo Pontífice depois de São João Paulo II em 1999? A Rádio Vaticano conversou com Marilisa Lorusso, pesquisadora e perita da área do Observatório Bálcãs e Cáucaso:

R. – Certamente é um país que cresceu: viveu um período inicial muito turbulento, com duas guerras de secessão, uma guerra civil, grandes lacunas de capacidade de soberania e um colapso econômico completo, devido, como muitos outros países pós-soviéticos, à crise da estrutura econômica da URSS. Sobre os índices de crescimento que tinham superado 8% ao ano, agora estamos em 3% em relação ao PIB. Portanto, é um país que, com grande dificuldade, está procurando propor-se como um agente econômico, de explorar a sua posição seja do ponto de vista do turismo, seja da diferenciação da produção, seja industrial que agrícola, em um contexto que não é fácil. De fato, existem tensões entre os países vizinhos que geram dificuldades de transporte e comunicação; entre outras coisas, toda a Região do Mar Negro está sofrendo, e ainda mais por causa da crise na Ucrânia. Então, entre mil dificuldades, a Geórgia está procurando uma estabilização seja econômica, seja política.

P. O Papa chega a poucos dias das eleições: o que o país, e o povo também, esperam dessas eleições? O que as pessoas pedem?

R. – O que se espera segundo as pesquisas é que o governo atual seja bem ou mal confirmado. Existe um verdadeiro debate político: não temos mais o poder esmagador de um partido, por isso são eleições realmente discutidas e debatidas. No que concerne às questões reais que interessam ao povo, em primeiro lugar está o desemprego. Se esta estabilização política continuar, poderá incentivar os investidores estrangeiros a expandirem sua presença no país. Por isso, é muito provável que não se registrem grandes mudanças nas estratégias econômicas; assim é improvável que estas eleições tragam mudanças do ponto de vista de orientação, não só na política interna, mas também naquela exterior. A Geórgia parece bastante atrelada a um caminho euro-atlantista. O reconhecimento pela Rússia das suas duas repúblicas separatistas depois de 2008 – Abcásia e da Ossétia – na verdade, criou uma profunda divisão em relação à Rússia, que ainda não foi normalizada do ponto de vista diplomático, entregando assim a Geórgia a uma orientação pró-ocidental, já no pensamento do país desde a independência.

P. Como os políticos georgianos olham para a visita do Papa? Recordamos que quando São João Paulo II visitou o país estava ali o seu amigo Shevardnadze: portanto a situação era diferente…

R. – Certamente a visita do Papa é uma reafirmação da identidade europeia para a Geórgia. Depois, há planos relativos à política interna georgiana: acolher o representante de outra confissão cristã no seu próprio território é também, em certo sentido, um ato de superação de formas de nacionalismo que tendem então, eventualmente, a minar a coesão social. Isto aplica-se não só às minorias cristãs, mas também àquelas muçulmanas. Há também a questão das relações bilaterais: esta será, entre outras coisas, a primeira visita do Papa depois que a Geórgia reconheceu a presença de outras Igrejas no seu território, não como associações, mas como “Igrejas”; então certamente este é um dado importante. E, em geral – em nível internacional – a visita a um país que tem uma forte ligação entre a Igreja nacional e o Estado de um líder estrangeiro, é um desejo de reiterar o caminho de paz e de diálogo inter-religioso, que no Cáucaso é mais do que nunca necessário, em um momento em que toda a área é abalada pela onda do conflito sírio.

 

Fonte: Rádio Vaticano

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