Um pesquisador nos Estados Unidos afirma que a morte de George Floyd recorda a importância de que a polícia se forme na importância da santidade de toda vida humana.
No vídeo da detenção de Floyd, em 25 de maio, é possível ver um policial de Minneapolis pressionando um dos joelhos no pescoço do afro-americano que diz várias vezes: “Não consigo respirar”. O homem morreu logo depois.
O Police Executive Research Forum (PERF), uma organização independente de pesquisa sediada em Washington, publicou um relatório, em 2016, com 30 princípios para o uso da força e um guia de capacitação para a polícia.
“Em última análise, este relatório é sobre a santidade de toda a vida humana”, assinala a primeira linha do relatório.
Chuck Wexler, diretor executivo do PERF, enfatizou a importância deste tema, especialmente quando se trata de “colocar os outros antes que a si mesmo, reconhecendo que inclusive alguém que cometeu um crime merece ser tratado com decência e com respeito”.
O relatório não trata de situações nas quais o suspeito usa força letal como em um tiroteio, em cujo caso um agente policial deve agir para se proteger e proteger os demais.
Pelo contrário, refere-se a incidentes em que o suspeito está desarmado ou tem uma arma que não seja uma pistola. Na grande maioria dos casos, disse Vexler à CNA, agência em inglês do Grupo ACI, o suspeito tem uma doença mental, uma deficiência mental ou está sob a influência de álcool ou drogas.
Não houve tiros na prisão de Floyd, disse Wexler, comentando que “não era necessário usar a força como foi usada com ele”.
O especialista comentou também que há um “dever de intervir” em situações como “quando alguém está fazendo algo errado e há outros oficiais lá, os outros oficiais têm o dever de intervir, ou seja, tentar mudar o que aquele oficial está fazendo”.
Os policiais também devem receber treinamento para lidar com pessoas que se comportam de forma errada, manter uma distância segura e se comunicar o mais claramente possível com o suspeito.
Em seguida, Wexler explicou que se inspirou no exemplo da polícia da Escócia, onde menos de 2% dos policiais estão armados. Como parte de seu processo de formação de policiais nos Estados Unidos, ele levou 25 chefes de polícia para o país europeu para aprender suas técnicas.
O relatório também recomenda que os departamentos de polícia se coordenem com os profissionais de saúde mental para treinar policiais para lidar com pessoas com deficiência mental.
O relatório de 2016 contém uma série de recomendações para ajudar a reduzir o número de pessoas mortas pela polícia e também o número de policiais que morrem no cumprimento do dever.
Uma delas é não atirar em veículos em movimento, a menos que o suspeito use a força mortal. Essa disposição reduziu a morte de policiais e suspeitos na cidade de Nova York após sua implementação em 1972. Cidades como Boston, Chicago, Cincinnati, Denver, Filadélfia e Washington, DC, adotaram medidas semelhantes
Além de consultar centenas de chefes de polícia, o PERF solicitou a colaboração do Cardeal Timothy Dolan, Arcebispo de Nova York; que mostrou um grande apoio à linha de defesa da santidade da vida; e do Arcebispo de Chicago, Cardeal Blase Cupich.
O relatório também menciona que, no departamento de polícia de Seattle, onde seus policiais interagem com pelo menos 10 mil pessoas com doenças mentais por ano, eles raramente precisam recorrer ao uso da força.
Seattle tem um grande número de pessoas sem-teto e Wexler disse que treinar policiais para entender essa situação pode ajudar a superar conflitos.
O especialista comentou depois que espera que os vídeos sobre a prisão de Floyd sejam usados para entender o que deu errado e como esse incidente pode ser evitado no futuro.
“O infeliz vídeo em Minneapolis será um ‘vídeo de capacitação’, no sentido de que os policiais serão convidados a assistir e dizer ‘diga-me o que aconteceu aqui e o que deveria ter acontecido’. Isso que é diferente hoje, há uma sensação de que precisamos aprender com essas situações”, afirmou Wexler.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.