Emerson e Henrique Alves são irmãos gêmeos univitelinos que, no último dia 11 de dezembro, receberam juntos a ordenação sacerdotal, em Camaragibe (PE), e garantiram que um não influenciou o outro nessa caminhada vocacional; ao contrário, foi uma resposta “pessoal, autônoma e livre”.
Os neossacerdotes pertencem à Congregação dos Missionários de Nossa Senhora da Salette e a celebração foi presidida pelo Bispo de Caruaru, Dom José Ruy Gonçalves, na Paróquia de São Pio X.
“Quem não nos conhece pode até imaginar que um influenciou o outro, mas nós dois garantimos que o nosso processo de escolha foi pessoal, autônomo e livre. Meu irmão e eu nunca perguntamos um ao outro: o que você vai fazer? Nós simplesmente partilhamos o mesmo caminho”, contou Pe. Emerson ao final da celebração.
O sacerdote afirmou que muitos podem se perguntar: “O que aconteceu para que dois irmãos gêmeos escolhessem a mesma vocação?”. Segundo ele, o que houve foi “algo simples”.
“Cremos que o que aconteceu foi Cristo que estava passando e, quando Cristo passa, arrasta; e, quando passa, temos que estar atentos a Ele; e, por onde Ele passa, atrai, nos olha e nós o seguimos. Cremos que foi isso o que aconteceu, nada excepcional, nada extraordinário”, disse.
“Éramos dois jovens com sensibilidade suficiente para captar o chamado. E parece que quando Ele chamou, estávamos no mesmo lugar, no ventre de nossa mãe. Por isso, os dois responderam. Não porque somos gêmeos, mas porque, quando Ele nos chamou, estávamos no mesmo lugar e Ele quis os dois. Nós o buscávamos e o encontramos. Ou melhor, Ele nos encontrou”, acrescentou.
Em seguida, Pe. Emerson ressaltou que a família foi fundamental, acompanhando e sustentando ambos “por suas orações e incentivos”.
“Sei que estou onde Deus me colocou e tenho a graça de ter meu irmão ao meu lado, que entende perfeitamente a profundidade e a importância de tudo o que estamos vivenciando”, expressou o sacerdote e completou: “Revelo a força que nos une como irmãos gêmeos e agora como sacerdotes”.
Gêmeos pela alma sacerdotal
Por sua vez, durante a homilia, Dom José Ruy sublinhou a Pe. Emerson e Pe. Henrique que, “o que lhes torne gêmeos neste momento não são as aparências, não são as células oriundas daquela mesma e única célula que foi fracionada”, mas “o que lhes faz gêmeos são as almas que amam, desejam e querem a mesma coisa”.
“A identidade de vocês doravante ultrapassa a semelhança física, mesmo que as pessoas se encantem e se impressionem com isso”, disse o Bispo, ressaltando que ambos passar a ser “configurados a Cristo sacerdote”.
Em seguida, Dom Ruy refletiu sobre a importância da fé e declarou que a “crise de identidade não é o que pessoas gêmeas passa”, ao contrário, “é oriunda da crise de fé, porque sem Deus, criador e Pai, a criatura não se reconhece”. “Crise de identidade, portanto, é a crise que o mundo vive, excluindo Deus do seu horizonte”, disse.
Nesse sentido, afirmou que, quando a “preocupação de consagrados e de sacerdotes é maior com o mundo visível e menos com a realidade invisível, é porque nós estamos vivendo a crise de identidade, a crise de fé”.
“Fé viva, profunda e ardente – indicou – deve ser o pressuposto, a essência da vida de todos nós sacerdotes” e, portanto, “nossa vida será absurda e contraditória quando vivermos sem fé”.
Para Dom José Ruy, “é hora, e já passa da hora, de restituir a fé a um mundo que rejeita Cristo, que exclui Cristo do seu horizonte, um mundo descristianizado”.
Por isso, ao dirigir-se aos irmãos Emerson e Henrique, o Prelado declarou: “Vós sois a luz do mundo”.
“No Getsêmani, enquanto Jesus sofria a agonia do mundo, os discípulos dormiam. Padres, bispos, religiosos dormem enquanto Judas está acordado, enquanto Judas trama a morte e a exclusão de Jesus. Padres, Bispos, religiosos dormem, enquanto Judas faz com que o povo perca a sua fé”, advertiu o Bispo.
Por isso, exortou: “Vigiai, vigiai, é o clamor do tempo do Advento. Não durmam, não percam a identidade, porque não se mistura treva e luz”.
Segundo o Prelado, “não podemos nos intimidar, não podemos nos amedrontar ou acovardar em defender a nossa fé, propagar o verdadeiro amor”.
Nesse sentido, sublinhou que “a missão primordial do sacerdote é ir” a todos e ensinar “o Evangelho”. “Vão pelo mundo, ensinem a verdade, anunciem o amor, anunciem o seu Reino”, pediu o Bispo, o qual ressaltou ainda que a Igreja Católica existe “para salvar as almas”.
“Cantem a salvação de Deus, conforme rezávamos belamente no salmo de resposta: o Senhor os chamou, desde a eternidade, ainda no ventre materno, no mesmo ventre e na mesma célula, para que vocês, mais do que univitelinos, tivessem a mesma alma, a mesma alma sacerdotal, amando e querendo a mesma coisa e possuindo o mesmo desejo. Tudo isso, queridos filhos, lhes foi dado pelo Alto”, concluiu.