Cidade do Vaticano (RV) – No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar no Programa de hoje Da Constituição Apostólica Gaudium et Spes.
No programa passado, vimos como muitos membros do Concílio Vaticano II manifestaram a solidariedade da Igreja com as linhas de desenvolvimento e os esforços da humanidade para superar os grandes problemas da atualidade: a paz, a fome, a igualdade, a liberdade, a violência. Preocupações estas, acompanhadas de orientações, que confluíram na elaboração da Constituição Apostólica Gaudium et Spes.
O Padre Gerson Schimdt introduziu também em sua reflexão, três elementos concretos que podem ser identificado neste precioso documento: a concepção de Igreja, que situa o documento no âmbito doutrinal; a relação entre história da salvação e a história dos homens e a missão da Igreja no mundo de hoje, título do documento conciliar.
“No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, continua a refletir sobre o primeiro elemento: a concepção de Igreja. Vamos ouvir:
“O mistério e ministério da Igreja está presente na Gaudium et Spes. A GS dá continuidade à Lumen Gentium e à Sacrosanctum Concilium, nas quais, em seu conteúdo básico, já se encontra formulada uma nova concepção de Igreja.
O teólogo Alberigo, a propósito, lembra que Sacrosanctum Concilium foi o primeiro documento a ser promulgado e, que, sobretudo em seus primeiros números do primeiro capítulo, já contém a enunciação de princípios teológicos fundamentais formulados com precisão e nitidez.
A recuperação de uma concepção mais complexa e articulada da Igreja, encaminhada pela Sacrosanctum Concilium foi aprofundada sobretudo pela Lumen Gentium. A Constituição sobre a Igreja retoma e desenvolve os elementos já postos em luz pela Liturgia, aprofundando de modo particular a natureza da Igreja como mistério e como povo de Deus. Ao mistério da Igreja faz referência explícita o número 40 da Gaudium et Spes, num contexto revelador. Diz assim o número 40 da Gaudium et Spes:
“Tudo quanto dissemos acerca da dignidade da pessoa humana, da comunidade dos homens, do significado profundo da atividade humana, constitui o fundamento das relações entre a Igreja e o mundo e a base do seu diálogo recíproco. Pelo que, no presente capítulo, pressupondo tudo o que o Concílio já declarou acerca do mistério da Igreja, considerar-se-á a mesma Igreja enquanto existe neste mundo e com ele vive e atua. A Igreja, que tem a sua origem no amor do eterno Pai (2), foi fundada, no tempo, por Cristo Redentor, e reúne-se no Espírito Santo (3), tem um fim salvador e escatológico, o qual só se poderá atingir plenamente no outro mundo. Mas ela existe já atualmente na terra, composta de homens que são membros da cidade terrena e chamados a formar já na história humana a família dos filhos de Deus, a qual deve crescer continuamente até à vinda do Senhor. Unida em vista dos bens celestes e com eles enriquecida, esta família foi por Cristo ‘constituída e organizada como sociedade neste mundo’, dispondo de ‘convenientes meios de unidade visível e social’. Deste modo, a Igreja, simultaneamente ‘agrupamento visível e comunidade espiritual’, caminha juntamente com toda a humanidade, participa da mesma sorte terrena do mundo e é como que o fermento e a alma da sociedade humana, a qual deve ser renovada em Cristo e transformada em família de Deus”.
Portanto, a Igreja não existe fora do mundo, com ele atua e nele vive. Nessa cidade humana, anuncia e constrói o Reino de Deus, o Reino que não é deste mundo. Fermento e a alma da sociedade humana. A sociedade deve ser transformada em família de Deus. A Igreja não é deste tempo, mas mergulhada nesse tempo, no temporal e terreno, caminha para outro tempo escatológico”.
Fonte: Rádio Vaticano