Frei Cantalamessa: diáconos sejam rosto da misericórdia no meio do povo

Os diáconos são um recurso para a Igreja nos vários serviços oferecidos aos fiéis, e com suas famílias podem dar um precioso testemunho. Foi o que ressaltou o XXV Congresso Nacional dos Diáconos na Itália, realizado em Campobasso – sul da Península – em preparação para o Sínodo ordinário de outubro próximo, dedicado à família.

O Congresso, que teve como tema “A família do diácono escola de humanidade”, encerrou-se com uma conferência do Pregador da Casa Pontifícia, o frade capuchinho Pe. Raniero Cantalamessa.

Entrevistado pela Rádio Vaticano, Frei Cantalamessa destacou-nos os pontos por ele desenvolvidos em sua conferência “O diácono servidor de Cristo”:

Frei Cantalamessa:- “Insisti no fato que o diácono, antes de ser servo do pároco e dos homens, é servo de Jesus Cristo, e é justamente servindo a Cristo que serve aos irmãos. Em seguida, desenvolvi alguns aspectos particulares dos diáconos permanentes, de seu papel caritativo, do próximo ano da Misericórdia, do papel deles como meio da misericórdia, rosto da misericórdia da Igreja no meio do povo.”

RV: A figura do diácono é muito antiga, mas pouco conhecida. O que, hoje, o diácono pode oferecer à comunidade?

Frei Cantalamessa:- “É uma instituição que durante muitos séculos esteve ausente na vida da Igreja e que foi reintroduzida pelo Concílio Vaticano II e, portanto, é uma instituição em fase de integração. Não surpreende o fato de ainda não ter encontrado a colocação que – por exemplo – tem o clero, que têm os presbíteros. Trata-se, porém, de uma força dinâmica, uma novidade benéfica para a Igreja, porque – com a escassez cada vez maior de sacerdotes – esse ofício do diácono, como representante da Igreja, anunciador da Palavra, membro ativo nas obras caritativas da Igreja, é uma figura indispensável. Fala-se, em geral, sobre a promoção do laicato, mas creio que os diáconos permanentes são elemento qualificador dessa participação ativa dos leigos, embora – na realidade –, como categoria, eles pertençam mais ao clero do que ao laicato, mesmo que a vida deles de casados os coloque efetivamente a nível de leigos. Portanto, esse é um sinal dos tempos: a promoção dos leigos é, também este, fruto do Vaticano II.”

RV: Qual a colocação dos diáconos no contexto das comunidades cristãs?

Frei Cantalamessa:- “De certo modo, isso depende, e varia de um lugar para outro. Tenho mais experiência do diaconato no exterior do que aqui na Itália. Em alguns países tem uma forte presença e os diáconos desempenham uma função, por vezes, de primeiro plano; em certos países, por exemplo, são engajados no ecumenismo e muitas vezes são interlocutores do diálogo com cristãos de outras confissões. Nisso, muito depende da diocese, dos sacerdotes e dos párocos em dar-lhes espaço. Uma reclamação que ouço comumente é que muitas vezes os sacerdotes não querem dar espaço para eles, confiar aos diáconos atividades que não sejam simplesmente as tarefas inicias das missas, mas também atribuições – como vemos na figura de Santo Estêvão, o protodiácono – de anúncio da Palavra: Santo Estêvão foi eleito diácono, mas na realidade nos Atos dos Apóstolos aparece como pregador, pregador de Jesus. Portanto, creio que por parte do clero é necessário dar espaço e não ser cioso ao delegar ou confiar coisas que talvez os diáconos permanentes possam fazer melhor do que nós; da parte deles, diria que é preciso evitar um certo espírito de independência, evitar tomar iniciativas pessoais e não clericalizar-se, porque há também esse perigo e, consequentemente, de tornar-se uma repetição do clero, ao invés de uma nova figura.”

Fonte: Rádio Vaticano