De acordo com o pastor dos empobrecidos, DOM Helder Câmara, “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu”.1 É exatamente esta afirmação que faz refletir um pouco sobre São Francisco Xavier (1506-2006), considerado o Apóstolo do Oriente, “o gigante da história das missões”. Ele um sonhador, cheio de ambição e vaidade! Homem talentoso e de inteligência privilegiada, estudante da Universidade de Paris, doutorando-se em 1526. Ao iniciar sua vida acadêmica em Paris, logo conheceu Inácio de Loyola, com quem estabeleceu uma sólida e estreita relação de amizade. E foi justamente essa amizade, no diálogo e nas constantes conversas, como também uma intensa vida oração, que o transformou por completo, passando de sonhador e idealista para uma realidade concreta, na sua opção pelo projeto de Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo não à glória do mundo, vaidades e riquezas.
Deus entrou em cheio na sua vida e foi mais forte, através de seu colega Inácio de Loyola, estudante muito especial daquela referida Universidade, a qual ele integrava, um recém-convertido, que sonhava formar um grupo de irmãos corajosos para dilatar o Reino de Deus. Aquele que ficou conhecido como o grande mestre dos exercícios espirituais, foi ao encontro do jovem Francisco Xavier, seu conterrâneo e futuro pai espiritual, a fim de ganhá-lo, no seu grande desejo de contribuir na edificação do Reino de Deus. Assim Francisco Xavier colocou o amor para si: “Parou de dar volta ao redor de nós mesmos como se fosse o centro do mundo e da vida”.2
Seus sonhos e projetos eram antagônicos. Contudo, o mestre e fundador da Companhia de Jesus, na sua fé e confiança inabalável, insistentemente suplicou a Deus Pai, até seduzi-lo. “Que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” (Mt 16, 26). A frase do Mestre e Senhor, dita por Inácio de Loyola foi penetrante e incisiva, marcando profundamente a mente e o coração do jovem Francisco Xavier, dobrando sua resistência e entregando-se inteiramente a Deus, a ponto de tê-lo por seu incondicional e fiel discípulo, compreendendo sua decisão como um mistério insondável, na assertiva de Dom Helder: “Missão é partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los”.3
Mas para Francisco Xavier missão foi deixar sua terra e partir: “E, se para encontrá-los e amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo”,4 porque a Índia o esperava, na catequese de crianças e adultos, os quais sempre em número elevado acorriam para receber os sacramentos. Levou por toda parte por onde passou a mensagem do Evangelho. Visitou Ilhas longínquas, penetrou no Japão, formando lá sólidas comunidades de fé, de tal modo, que sua vida se caracterizou no imperativo de enviado do Pai, quando mesmo disse: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Também no lema da Campanha Missionária deste ano 2013: “A quem eu te enviar, irás” (Jr 1, 7). Seu inigualável ardor missionário chegou a ponto de se consumir em favor do anúncio do Evangelho, que num curto espaço de tempo (10 anos), visitou países e catequizou em diversas nações, tornando-se quase impossível imaginar tal prodígio e façanha nos dias de hoje. Podemos contemplar maravilhados e agradecidos, aos olhos da fé, seu trabalho de gigante.
Antes de morrer, aos 46 anos, no dia 03/12/1552, escreveu a Inácio de Loyola assim: “São muitos os que não se tornam cristãos, simplesmente por falta de evangelizadores e missionários”, tendo na mente e no coração o que o Apóstolo Paulo anunciou com grande esperança: “Como poderiam ouvir sem pregador? E como poderiam pregar se não forem enviados?” (Rm 10, 14-15). Queria ir pelas Universidades e por toda parte, gritando como um louco e sacudindo as consciências daqueles que se comportam e agem mais pela razão do que pela fé, clamando: “Como é enorme o número dos que são excluídos do Reino, por vossa culpa!”. Ele era considerado o missionário da China pelo seu ardente desejo e vontade de anunciar o Evangelho aquele povo, chegando a dizer, “se eu não encontrar um barco para ir à China, vou nadando, mas eu vou”.
Agradecemos ao nosso bom Deus, por São Francisco Xavier, padroeiro das Missões juntamente com Santa Teresinha do Menino Jesus. Ele, criatura de Deus, apaixonado pelo Reino, com uma disposição interior para o trabalho missionário, no seu jeito de viver e testemunhar a fé que professou, ao plantar a semente do Evangelho no Oriente. Que a Igreja, sacramento de salvação, continue corajosamente, com grande sabedoria e ardor, a anunciar o Evangelho por ele anunciado aos homens hodiernos por toda extensão da terra. Deus seja louvado por este irmão querido, considerado maior missionário de todos os tempos!