Francisco: as mudanças na Igreja sem oração não são mudanças na Igreja. São mudanças de grupo

“A Igreja é uma grande escola de oração. Muitos de nós aprendemos a silabar as primeiras orações enquanto estávamos no colo dos pais ou dos avós. Talvez conservemos a memória da mãe e do pai que nos ensinavam a recitar as orações antes de dormir. Estes momentos de recolhimento são frequentemente aqueles em que os pais ouvem algumas confidências íntimas dos filhos e podem dar os seus conselhos inspirados pelo Evangelho”, frisou o Pontífice em sua catequese.

Mariangela Jaguraba – Vatican News

“A Igreja mestra de oração” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (14/04), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

“A Igreja é uma grande escola de oração. Muitos de nós aprendemos a silabar as primeiras orações enquanto estávamos no colo dos pais ou dos avós. Talvez conservemos a memória da mãe e do pai que nos ensinavam a recitar as orações antes de dormir. Estes momentos de recolhimento são frequentemente aqueles em que os pais ouvem algumas confidências íntimas dos filhos e podem dar os seus conselhos inspirados pelo Evangelho”, frisou o Pontífice.

A seguir, o Papa recordou que “no caminho do crescimento, há outros encontros, com outras testemunhas e mestres de oração”.

A vida de uma paróquia e de cada comunidade cristã é cadenciada pelos tempos da liturgia e da oração comunitária. Aquele dom, que na infância recebemos com simplicidade, compreendemos que é um patrimônio grande e muito rico, e que a experiência da oração merece ser aprofundada cada vez mais. O hábito da fé não é engomado; desenvolve-se conosco, até através dos momentos de crise e ressurreição. Aliás, não é possível crescer sem os momentos de crise. A crise faz crescer. Entrar em crise é uma maneira necessária para crescer.

“O sopro da fé é a oração: crescemos na fé tanto quanto aprendemos a rezar. Depois de certas passagens da vida, compreendemos que sem fé não poderíamos ter bom êxito e que a oração foi a nossa força. Não só a oração pessoal, mas também a dos irmãos e irmãs, e da comunidade que nos acompanhou e apoiou”, sublinhou Francisco.

Tudo na Igreja nasce na oração

“Também por este motivo na Igreja florescem continuamente comunidades e grupos dedicados à oração. Alguns cristãos sentem até o chamado de fazer da oração a ação principal dos seus dias. Na Igreja existem mosteiros, conventos e eremitérios onde vivem pessoas consagradas a Deus e que muitas vezes se tornam centros de irradiação espiritual, comunidades de oração que irradiam espiritualidade. Pequenos oásis em que se partilha uma oração intensa e se constrói a comunhão fraterna dia após dia. Trata-se de células vitais, não apenas para o tecido da Igreja, mas para a própria sociedade. Tudo na Igreja nasce na oração, e tudo cresce graças à oração. Quando o Inimigo, o Maligno, quer combater contra a Igreja, o faz primeiro procurando secar as suas fontes, impedindo-as de rezar”, disse ainda Francisco, acrescentando:

Por exemplo, vemos isso em certos grupos que concordam em realizar reformas eclesiais, mudanças na vida da Igreja, organização, e os meios de comunicação que informam. Mas a oração não se vê, não se reza. Devemos mudar isso, temos que tomar decisões um pouco fortes. É interessante a proposta. É interessante! Somente com discussão, somente com a mídia. Mas onde está a oração? A oração abre a porta ao Espírito Santo que inspira a ir adiante. As mudanças na Igreja sem oração não são mudanças na Igreja. São mudanças de grupo. E quando o Inimigo – como eu disse – quer lutar contra a Igreja, o faz primeiro tentando secar suas fontes, impedindo-as de rezar e fazer outras propostas.

“As mulheres e os homens santos não têm uma vida mais fácil do que os outros, pelo contrário, também eles têm os próprios problemas para enfrentar e, além disso, são frequentemente objeto de oposições. Os santos, que muitas vezes contam pouco aos olhos do mundo, na realidade são aqueles que o sustentam, não com as armas do dinheiro e do poder, mas com as armas da oração”, frisou o Papa.

Lâmpada da fé acesa enquanto houver o óleo da oração

No Evangelho de Lucas, Jesus apresenta uma pergunta dramática que nos faz sempre refletir: «Quando vier o Filho do Homem, encontrará fé sobre a terra?» ou encontrará apenas organizações, como um grupo de empresários da fé, todos bem organizados, que fazem beneficência, muitas coisas ou encontrará fé? “Podemos concluir que a lâmpada da fé estará sempre acesa na terra, enquanto houver o óleo da oração“, disse ele.

É o que leva adiante a fé e leva adiante a nossa vida pobre, frágil e pecadora, mas a oração a leva adiante com certeza. Uma pergunta que nós, cristãos, devemos nos fazer é: eu rezo? Rezamos? Como rezo? Como papagaio ou rezo com o coração? Rezo com a certeza de que estou na Igreja ou rezo um pouco de acordo com minhas ideias e faço com que minhas ideias se tornem oração? Esta é uma oração pagã, não cristã. Repito: podemos concluir que a lâmpada da fé estará sempre acesa na terra enquanto houver o óleo da oração.

“Esta é uma tarefa essencial da Igreja: rezar e educar para rezar. Transmitir de geração em geração a lâmpada da fé com o óleo da oração. A lâmpada da fé que ilumina, arruma realmente as coisas como são, mas só pode ir adiante com o óleo da fé. Ao contrário, se apaga. Sem a luz desta lâmpada, não poderíamos ver o caminho para evangelizar; não poderíamos ver os rostos dos irmãos dos quais nos devemos aproximar e servir; não poderíamos iluminar a sala onde nos encontramos em comunidade. Sem fé, tudo se desmorona; e sem a oração, a fé se extingue. Por isso a Igreja, que é casa e escola de comunhão, é casa e escola de oração”, concluiu.

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