A nossa vida cristã é feita de cosmética, de aparência, ou é uma vida com fé operosa na caridade?”. Esta pergunta foi feita pelo Papa Francisco ao final da homilia da Missa celebrada esta manhã, na Casa Santa Marta.
A fé não precisa “aparecer”, mas “ser” – disse o Papa, comentando o Evangelho do dia, em que o fariseu fica admirado com o Mestre, o qual não cumpre as abluções prescritas antes de comer:
“Jesus condena esta espiritualidade da cosmética, parecer bons, belos, mas a verdade interior é outra! Jesus condena as pessoas de boas maneiras, mas de maus hábitos, aqueles hábitos que não se veem, mas são feitos escondidos. Mas a aparência é boa: essas pessoas que gostam de passear nas praças, mostrar-se rezando, ‘maquiar-se’ com um pouco de fraqueza enquanto jejuam…. Por que o Senhor é assim? Reparem que usa aqui dois adjetivos que estão relacionados: rapina e perversidade”.
“Túmulos disfarçados”, disse a eles Jesus, como no análogo trecho do Evangelho de Mateus. “Antes, dai o que tendes em esmola”, rebate Cristo. “A esmola – recordou o Papa – sempre foi, na tradição da Bíblia, seja no Antigo, seja no Novo Testamento, uma balança da justiça”. Também Paulo, na Leitura do dia, discute com os Gálatas pelo mesmo motivo, de ficar preso à lei. O resultado nos dois casos é idêntico – insistiu o Papa –, porque a lei sozinha não salva”:
“O que conta é a fé. Qual fé? A que se torna ‘operosa por meio da caridade’. O mesmo discurso que Jesus faz ao fariseu. Uma fé que não é somente recitar o Credo: todos nós acreditamos no Pai, no Filho e no Espírito Santo, na vida eterna…. Todos acreditamos! Mas esta é uma fé imóvel, não operosa. O que conta em Jesus Cristo é a operosidade que vem da fé, ou melhor, a fé que se torna operosa na caridade, ou seja, na esmola. Esmola no sentido mais amplo da palavra: distanciar-se da ditadura do dinheiro, da idolatria do dinheiro. Toda ganância nos afasta de Jesus Cristo”.
Francisco evocou um episódio da vida do Padre Arrupe, Prepósito dos Jesuítas nas décadas de 1960-1980. Um dia, uma rica senhora o convidou a um lugar para doar-lhe dinheiro para as missões no Japão, pelas quais Padre Arrupe se empenhava. A entrega do envelope ocorreu praticamente na porta e diante de jornalistas e fotógrafos. Padre Arrupe contou que sentiu “uma grande humilhação”, mas aceitou o dinheiro “pelos pobres do Japão”. Quando abriu a carta, havia dez dólares”. O Papa então concluiu questionando se a nossa vida cristã é feita de cosmética, de aparência ou é uma vida cristã com a fé operosa na caridade”:
“Jesus nos aconselha isso: ‘Não tocar trombone’. O segundo conselho: ‘Não dar somente o que nos sobra’. E nos fala daquela idosa que deu tudo o que tinha para viver. E louva aquela senhora por ter feito isso. E o fez um pouco escondido, talvez porque se envergonhava de não poder oferecer mais”
Fonte: Rádio Vaticano
Local: Cidade do Vaticano