Cristãos leigos e leigas formados para atuarem em realidades sociais e políticas que precisam com urgência da presença da Igreja. Este foi o objetivo apresentado pela diocese de Alto Solimões (AM) ao Conselho Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para ter acesso aos recursos da Campanha da Fraternidade 2019. A contribuição favoreceu a realização do 3º Módulo do projeto Cidadania em ação, do qual participaram 50 lideranças das oito paróquias da diocese.

Plenária com participantes e coordenadores do curso de formação em políticas públicas | Foto: diocese de Alto Solimões/arquivo FNS
“É um curso que objetiva preparar leigos e leigas com sólida formação cultural para serem o sal da terra e luz do mundo”, informa a diocese. O resultado pretendido é que as lideranças formadas estejam comprometidas com as causas sociais, a defesa da vida e a conquista dos direitos, “capazes de fazer incidência política nas esferas governamentais de suas localidades para melhorar a qualidade de vida das pessoas e populações em seu conjunto”, explica a missionária leiga marista Verônica Rubi, uma das coordenadoras do projeto.
Localizada no extremo oeste do Brasil, na fronteira com a Colômbia e o Peru, a diocese de Alto Solimões acompanha em seus municípios a implementação deficitária das leis e das políticas públicas, o mal funcionamento dos órgãos governamentais e a ocupação dos cargos públicos por pessoas que nem sempre tem como princípio que as políticas públicas existem para defender e promover a dignidade das pessoas em todas as etapas da vida. A população, por sua vez, não exerce a cidadania plena, reivindicando seus direitos, exigindo justiça e realizando o controle social que deveria. É neste contexto, que o Curso de Formação em Políticas Públicas se mostrou urgente para a realidade local.
Diante da dificuldade de transporte das lideranças até Tabatinga (AM), sede da diocese, os recursos do FNS contribuíram com os gastos das viagens, na hospedagem e na alimentação desses agentes da diocese. “Agradecemos ao FNS por nos ajudar. E nos satisfaz muito mais porque é um dinheiro da própria Igreja que torna possível a realização destes cursos”, disse o bispo diocesano de Alto Solimões, dom Adolfo Zon Pereira.
A formação
O curso foi oferecido pelo Instituto Agostín Castejón, sediado em Brasília, e com larga experiência em desenvolvimento de ações de Formação Política de Lideranças; ação cultural voltada para as populações tradicionais; ações de cidadania para a promoção e protagonismo das lideranças populares e sociais.

Cidadania em Ação em Alto Solimões | Foto: diocese de Alto Solimões/arquivo FNS
A metodologia da formação teve como uma das atividades a investigação do funcionamento de vários conselhos de direitos da região, na perspectiva proposta pela Campanha da Fraternidade 2019, cujo tema foi “Fraternidade e Políticas Públicas”. Os participantes do curso visitaram os conselhos de Meio Ambiente; de Assistência Social; Saúde; do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb); de Alimentação Escolar; e dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Nas visitas, foram convidados a conhecer sobre a constituição destes espaços de participação popular, seu funcionamento e seus objetivos. Ao final da observação, deveriam participar dos conselhos inicialmente como ouvintes e depois como membros efetivos.
Continuidade

Dom Adolfo Zon Pereira visita participantes do curso | Foto: diocese de Alto Solimões/arquivo FNS
O bispo de Alto Solimões, dom Adolfo Zon, relata que o curso está nas iniciativas pastorais da diocese ao longo dos últimos três anos e que é uma prioridade com elementos importantes da evangelização. “Nós pretendemos continuar o que foi iniciado para nós como diocese. Inclusive seria bom com esta gente que fez os três anos, todos os módulos, criar uma equipe para passar nas paróquias e ir dando continuidade para que mais pessoas possam assumir a sua cidadania como cristãos”, deseja, recordando o Documento 105 da CNBB “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade”, que “nos impele para que os cristãos sejam sujeitos na sociedade”.
Em ano de eleições municipais, dom Adolfo reforça esta importância da formação dos cristãos para que tenham consciência do verdadeiro sentido da atividade política. “A política está desnaturalizada, não dá mais resultados. A finalidade não é tanto o bem comum, o que é melhor para a cidade, mas o interesse particular. Então, como resgatar o objetivo da política?”.
A formação também favoreceu lideranças indígenas e, segundo dom Adolfo, deve ter uma ação mais incisiva de formação para a cidadania.
“Hoje mais que nunca nosso Brasil está precisando de lideranças formadas em direitos humanos, cidadania, políticas públicas, participação social para fazer frente à crise que o país está atravessando, necessitamos lideranças sólidas com olhar crítico, com visão de conjunto e o mais importante com valores do Reino, com opção preferencial pelos mais pobres”, ressalta Verônica.