Fazer o bem

     

    Em tempos atuais marcados por relaxamento generalizado dos valores tradicionais da sociedade, ficamos inseguros quanto ao dizer o que fazemos de bem ou de mal. Dar esmola a quem pede pelas ruas e, com ela, consegue viver no anonimato social, será que estou fazendo o bem? Posso estar sendo conivente com o estado de dependência de quem mendiga.

    O assistencialismo, as campanhas esporádicas de agasalhos, gêneros alimentícios, sextas básicas, são entendidos como um bem. Sabemos que tem mais valor dar do que receber. Quem doa, partilha, mas pode não estar libertando e nem promovendo a quem recebe. Doar simplesmente pode significar contribuir para que a pessoa se acomode e não lute por sair de sua condição de dependente.

    Em outro momento é dito que devemos dar sem olhar a quem; uma mão não deve saber o que doa a outra. Numa visão cristã, tudo bem. Mas será mesmo tudo bem? A questão vai muito mais longe, com uma estrutura social totalmente arranhada, ou ferida por uma realidade de extremismos econômicos, revelando uma cultura de injustiça distributiva e de exclusão.

    A Palavra de Deus fala em “ser sal e luz” no mundo. Mundo de palavras brilhantes, discursos empolgantes, mas desconectados com um projeto de vida para todos. Atender ao projeto de Deus significa deixar-se guiar por ele e construir uma sociedade fraterna, que consiga superar a onda de violência que assusta a todos.

    O descuido em relação aos princípios do Evangelho tem levado as administrações públicas ao que chamamos de “beco sem saída”. O que fazer para conter hoje o nível de violência, de vandalismo em relação ao patrimônio público e a insegurança? É preciso encontrar um caminho inovador que conquiste a autoestima.

    O caminho renovador deve ser capaz de provocar conduta reta e prática de valores que elevam a dignidade das pessoas, diminuindo o sofrimento de quem tem muito e de quem não tem nada. São extremos que carecem de proximidade, de despojamento e de compromisso mais sério com o sentido da vida.