O texto escolhido para a segunda leitura do sexto domingo da Páscoa está bem sintonizado com o Evangelho. Em apenas quatro versículos, o autor emprega dez vezes a palavra ágape, que significa amor solidário, amor fraterno. Daí nós podemos afirmar que é da prática do amor que dependem o cristianismo, a religião e o mundo novo. Amar ou não amar, eis a questão. Sem o amor, nada existe.
O Autor da carta esclarece a opinião de alguns grupos separatistas que se diziam conhecedores de Deus, mas não levavam a sério a prática do amor fraterno. Ele afirma que o amor vem de Deus; só quem ama é que pode se considerar filho de Deus. Só quem ama é que conhece a Deus, isto é, só amando é que podemos fazer a experiência de Deus.
Era muito cômodo para esses grupos dissidentes sustentar o conhecimento teórico de Deus, pois isso os isentava de compromissos com as pessoas e comunidades. João garante que ninguém poderá amar a Deus sem amar o povo, sem solidarizar-se com seus problemas e angústias.
Para provar que o amor é compromisso solidário, João apresenta a prova da encarnação: Deus envia seu Filho único ao mundo para que, por meio dele, tenhamos vida. A encarnação-redenção prova, sem sombra de dúvida, que amar é doar-se para que todos possuam a vida.
O versículo 10 prova que o amor não é teoria. O autor está para definir o que é amor: “Nisto consiste o amor”, Nós esperaríamos bela conceituação abstrata. Mas ele não diz o que é o amor, e, sim o que Ele fez, ou melhor: diz o que é o amor através daquilo que realizou em favor das pessoas: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados”. Na ótica divina, amor se traduz em fatos concretos, geradores de vida nova e plena. Se foi Deus quem começou a amar, nossa vida de amor nada mais é do que resposta à iniciativa dele. Amando, experimentaremos quem Ele é.