Roma, 05 Abr. 17 / 11:00 am (ACI).- “Em geral, na Europa, os muçulmanos têm mais liberdade para usar símbolos religiosos ou seguir suas convicções do que os cristãos”. Assim afirmou o historiador austríaco Martin Kugler, fundador do Observatório contra a Discriminação dos Cristãos.
Em entrevista concedida ao Grupo ACI, Kugler explicou que, em alguns países da União Europeia, “as elites políticas estão mais abertas a permitir os símbolos do Islã na vida pública do que a cruz e os valores cristãos”.
No velho continente, assinala, há uma ofensiva laicista contra os cristãos, o qual significa que “a política europeia tem diferentes critérios quando se trata de cristãos ou muçulmanos”: mostram aceitação com o véu islâmico enquanto tentam erradicar as cruzes dos lugares públicos.
Kugler citou o caso de garçonetes e enfermeiras repreendidas, ou até mesmo despedidas, por usar pequenas cruzes; ou as tentativas de limitar a presença de presépios nos colégios e nos lugares públicos durante o Natal.
“A justificativa é a separação entre a Igreja e o Estado, mas em minha opinião isso é uma desculpa. O secularismo radical europeu pretende, em nome da tolerância e da neutralidade do espaço público, impor uma ideologia que supõe a expulsão dos cristãos da vida pública”.
O especialista em liberdade religiosa reconheceu que está acontecendo um auge do Islã na Europa por razões demográficas. “É um grande desafio para a cultura cristã, mas acho que o secularismo agressivo é mais perigoso para os cristãos na Europa”, disse.
“Se os cristãos tiveram liberdade para se mover livremente seguindo a sua consciência – continuou –, com suas escolas e seus direitos, seria mais fácil enfrentar o auge da cultura muçulmana”.
Recordou as palavras que a Chanceler alemã, Angela Merkel, pronunciou a respeito deste assunto: “Não precisamos de menos islamismo, precisamos de mais cristianismo”. Para Martin Kugler, “é interessante que Angela Merkel fizesse esta declaração, porque ela não é uma cristã muito praticante”.
Também destacou a importância de uma maior formação dos cristãos europeus. Por exemplo, “muitos cristãos alemães não sabem explicar aos muçulmanos a mensagem da Bíblia, ou o significado das celebrações cristãs, como a Páscoa. Não sabem explicar a doutrina da Igreja. Há uma falta de formação e de coragem dos cristãos europeus”.
“Muitos cidadãos cristãos ou ‘conservadores’ se comportam como uma ‘maioria irritada’ em vez de agir como uma ‘minoria criativa’, esquecendo que os cristãos praticantes na Europa chegaram a ser uma minoria”.
A liberdade de consciência
A grande luta contra a ofensiva do secularismo mais agressivo se centra no reconhecimento do direito à liberdade de consciência e religiosa.
Martin Kugler explicou que se nota “um desenvolvimento preocupante em relação ao nível de intolerância e ao nível de discriminação” contra os cristãos nas sociedades europeias. A intolerância e a discriminação “são duas coisas diferentes, embora estejam relacionas, porque primeiro ocorre uma pressão social e, em seguida, isso transcende na legislação dos Estados”.
No trabalho em favor da liberdade de consciência e religiosa “deve-se distinguir entre o nível jurídico-legal, que seria a discriminação mediante leis que tentam limitar a liberdade de consciência – por exemplo, na vida profissional –, e o nível social, ou seja, a marginalização, a intolerância com os cristãos, aos quais tentam submeter a uma grande pressão através de uma opinião publicada hostil e uma educação estadual reduzida”.
“A liberdade religiosa na Europa está ameaçada a estes níveis”, destacou.
Especialmente crítica é a situação da liberdade de consciência na Europa, que estaria sendo seriamente ameaçada, “pois muitos políticos e intelectuais não entendem ou não conhecem o conceito de lei natural ou, como dizia o Papa Bento, a ‘ecologia do homem’”.
“Há limitações em relação à bioética, à ética profissional nos hospitais e nas faculdades de medicina, mas também com a liberdade de expressão”.
Citou como exemplo os casos das parteiras despedidas nos países europeus como a Suécia, o Reino Unido, a França ou a Alemanha, por não querer participar nos abortos, porque consideram que a sua profissão é ajudar no parto e não em um aborto. “As autoridades não reconhecem o seu direito à objecção de consciência”.
“É um direito humano central, mas a cultura laicista não o respeita”, lamentou Kugler, ao assinalar que alguns hospitais católicos também têm problemas para poder agir segundo o seu ideário religioso.
Martin Kugler concluiu a entrevista citando o Papa Francisco que falou várias vezes de uma perseguição contra os cristãos de maneira “cortês”, “disfarçada de cultura, modernidade e progresso”.
Kugler assegura que “o secularismo radical prejudica a democracia, porque remove tudo o que é transcendental do espaço público e sugere uma suposta neutralidade do Estado que não existe”.
O secularismo radical “é um perigo para a convivência pacífica das pessoas, porque as pessoas querem ter as suas tradições e que respeitem os seus princípios. É um desafio para a democracia o surgimento de todos esses movimentos populistas”.
Fonte: Acidigital