Na Semana Mundial do Meio Ambiente, o arcebispo de Porto Velho (RO), dom Roque Paloschi, comenta sobre aspectos em debate quanto à relação da Igreja com o cuidado da Casa Comum, como ensina o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’. Dom Roque reforça que para a Igreja poder contar com agentes pastorais e ministros ordenados com sensibilidade socioambiental, como pede o Papa na exortação Querida Amazônia, é necessário um “árduo trabalho de formação em ecologia integral e, sem dúvida, o mais importante, precisamos passar por um processo de conversão ecológica, em nível pessoal e coletiva”.
Inserido na realidade amazônica e também muito próximo da realidade dos povos originários, uma vez que preside o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dom Roque recorda que a Igreja assumiu ser aliada dos povos originários e amazônicos, “com isso se compromete a escutar o grito dos pobres e da terra e fazer ressoar este grito, com denúncias das estruturas de morte, que exploram os povos da Amazônia”. Para o arcebispo de Porto Velho, “nossa missão é ser presença aonde a vida estiver mais ameaçada , voz que anuncia e denuncia e assumir a defesa da vida, da terra e dos direitos, reconhecendo e valorizando o protagonismo dos povos”.
Confira a entrevista na íntegra.
1. No Documento final do Sínodo para a Amazônia, os padres sinodais chamaram para uma transição energética radical e para a busca de alternativas. Aí em Porto Velho o senhor tem uma experiência de adaptação na catedral para energia solar. Este é um caminho que a Igreja e suas instituições podem seguir para cumprir com essa indicação? Comente um pouco.
A Amazônia com o clima que temos, oferece um potencial energético natural, que é a energia solar. Temos sol o ano todo, isso nos permite utilizar de forma sustentável, este recurso energético. Na arquidiocese, na catedral e no seminário, estamos começando esta iniciativa de fazer uso da energia solar. Nosso desejo é que todos os espaços da arquidiocese, fizesse uso da energia solar. Algumas casas religiosas na região de Porto Velho, já instalaram energia solar. Tudo seria mais fácil, se houvesse um maior incentivo e os custos econômicos fossem menor. O investimento em energia solar é algo que é rentável a médio e longo prazo, é sustentável e ecológico.
2. Também no documento final do Sínodo, fala-se em formação de agentes pastorais e ministros ordenados com sensibilidade socioambiental. Como alcançar esta meta?
Para alcançar a meta de agentes pastorais e ministros ordenados com sensibilidade socioambiental, somente um árduo trabalho de formação em ecologia integral e, sem dúvida, o mais importante, precisamos passar por um processo de conversão ecológica, em nível pessoal e coletiva.
Temos documentos que nos orientam, como a Encíclica Laudato Si, Querida Amazônia e outros que nos fazem aprofundar esta dimensão tão importante, para criar uma consciência de ecologia integral, onde tudo está interligado.
3. Resgatando a indicação da pergunta anterior, é o que o Papa fala na exortação apostólica “Querida Amazônia” de “ministros que possam compreender a partir de dentro a sensibilidade e as culturas amazônicas”?
O Papa Francisco nos interpela a todos no sonho eclesial, que possamos plasmar o rosto amazônico, na igreja da Amazônia, para isso volto a repetir, somente um processo de conversão pastoral, sinodal e ministerial, para de verdade anunciar a boa notícia do evangelho, considerando as riquezas das tradições culturais, religiosas e espirituais dos povos da Amazônia.
É preciso inculturar a liturgia, os ministérios, a estrutura mesmo da igreja, enfim, precisar crescer na cultura do encontro, rumo a uma ‘harmonia pluriforme’. É necessário escutar a sabedoria milenar dos povos que habitam a Amazônia.
4. Neste contexto em que celebramos os cinco anos da Laudato Si’ dias atrás e agora a Semana do Meio Ambiente, como levarmos as pessoas a compreender que “O Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar dos nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá de prenda cada dia”(QA, 41)?
A celebração de 5 anos de Laudato Si e agora a semana do meio ambiente, isso tudo é um forte apelo para que criemos consciência da grande necessidade de cuidar da nossa casa comum. Nós temos somente este espaço de moradia comum. Cuidar o bem comum, é se preocupar com o bem estar de todas as pessoas. Somos responsáveis por cuidar da terra, nossa casa comum, pois dela tiramos todo o nosso sustento. Se cuidarmos da terra, a terra cuida de nós, tudo está intimamente interconectado.
5. Gostaria que o senhor comentasse sobre uma realidade marcante neste tempo de pandemia: a natureza que se regenera no mundo, mas que sofre no Brasil.
Enquanto no mundo como um todo, com as consequências da Pandemia pelo covid-19, houve uma desaceleração da e consequentemente, a diminuição da emissão de dióxido de carbono na atmosfera. No Brasil, a realidade é bem diferente, nos primeiros quatros meses do ano, o desmatamento na Amazônia atingiu 1.202 km, com um aumento de mais de 55% do mesmo período do ano passado. Infelizmente os invasores, o crime organizado, estes não fazem quarentena. Temos ainda a retórica do governo brasileiro e de seus ministros, que incentivam a devastação da floresta amazônica e atlântica.
6. Diante desses desafios que se apresentam, como a Igreja pode fortalecer sua atuação para defender a criação e os filhos de Deus que estão inseridos nas realidades mais afetadas pela destruição do meio ambiente?
A igreja assumiu ser aliada dos povos originários e amazônicos, com isso se compromete a escutar o grito dos pobres e da terra e fazer ressoar este grito, com denúncias das estruturas de morte, que exploram os povos da Amazônia.
Nossa missão é ser presença aonde a vida estiver mais ameaçada , voz que anuncia e denuncia e assumir a defesa da vida, da terra e dos direitos, reconhecendo e valorizando o protagonismo dos povos.