Ele está vivo!

    Nesta semana, ao transitar a esmo por uma rede social, alguns vídeos me deixaram atônito. No primeiro deles, um jovem baleado agonizava ao lado de uma moto, tentando se levantar, mas perdendo rapidamente as forças. Então começou a lançar golfadas de sangue aos borbolhões, enquanto a plateia ao seu redor gritava palavras histéricas, como “Morre logo, desgraçado; levanta agora, se é homem; como é, vai morrer ou não; cadê sua valentia?” E o jovem sucumbiu com o rosto todo coberto pelo próprio sangue. Noutro vídeo, três jovens também baleados, morriam entrelaçados, um tentando segurar o outro, mergulhados numa poça de sangue única. Um deles ainda balbuciou: “Meus filhos!”. Mas as palavras da plateia eram quase idênticas às da outra cena. Compraziam-se na sede de vingança. Faziam justiça com as próprias mãos!
    Enquanto isso, outro vídeo dominava a rede. Era a cena de enforcamento de um assassino iraniano, também em praça pública. Com a corda no pescoço, o pobre réu clamava perdão. Então se aproximou do condenado uma senhora, mãe de sua vítima. Depois de lhe desferir um bem dado tapa no rosto, nos segundos finais, tirou-lhe a corda e o perdoou. Segundo as leis do País, só a família da vítima tem poder para perdoar um condenado à morte. E essa mãe o fez com galhardia, cara a cara, olho no olho, nos minutos finais… O que mais espanta não é o quase inusitado da cena, mas as primeiras palavras do ex condenado, após o perdão maternal: “Eu queria que alguém me tivesse esbofeteado no rosto, quando sai carregando uma arma”.
    Cenas de uma santa semana! Pouco difere dos acontecimentos do Gólgota, onde ladrões também eram justiçados pelo povo, ao som de muita ironia e gritos sarcásticos. Mas lá existia um inocente! O mesmo inocente que perdoou o ladrão arrependido, prometendo-lhe o paraíso. O mesmo inocente que suportou a injustiça humana para nos falar da justiça dos céus, da misericórdia divina. O mesmo inocente que, crucificado, morto e sepultado, superou o ódio, venceu a morte e voltou à carga com seu apelo constante: “Segue-me!”
    A Páscoa cristã nos lembra o quão patéticas são as tentativas humanas de se fazer justiça. Em meio ao purismo religioso de muitos estão os algozes do próprio Cristo, os insofismáveis guardiões das leis e dos bons costumes, capazes de longos jejuns e abstinências, de fidelidade ao dízimo até da hortelã, do cominho, de perfumes franceses e iguarias culinárias sofisticadas, mas que de nada entendem do perdão, da compreensão, de segunda oportunidade, de misericórdia… Então viva a lei do dente por dente, do olho por olho, da bala por bala, do desafio a ferro e sangue que grassam em nossas ruas! O mais incrível é ouvir o favoritismo crescente dos que se manifestam a favor da pena capital. Pior ainda: é saber que grande parte dos que defendem a pena de morte se diz cristãos. Cristãos nunca! Porque na lei do amor defendida por Cristo não há espaço para a vingança. Porque há sempre uma segunda oportunidade, um segundo bofetão, na vida pregressa dos que hoje estão à margem e são crucificados ao lado do próprio Cristo.
    Sua ressurreição aponta para uma nova etapa de vida: vencer a morte, o pecado. “Coragem, eu venci o mundo!” Essa é a compreensão maior do mistério pascal, a notícia mais alvissareira que ouvidos humanos puderam ouvir: “Não procurem entre os mortos aquele que é Senhor da Vida. Ele está vivo!” Esse é o maior tapa que as lógicas humanas receberam da vida de Cristo: na aparente derrota de um condenado resplandece a luz da vida nova! Se foi assim com Jesus, por que não com os redimidos por seu sangue, nós pecadores, cuja sede e fome de justiça vem de Deus, não dos homens? Eis que outra Senhora, só ela, nos tira uma corda do pescoço: “Façam tudo o que Ele vos disser” E o milagre da transformação acontece.