Eis o Cordeiro de Deus

    João Batista num momento de pulcra inspiração contemplou algo muito representativo no divino Redentor, do qual lançou um ícone perfeito. Com efeito, ele “viu Jesus aproximar-se dele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29-34). A imagem do Cordeiro remete logo àquele do Êxodo que é oferecido e anuncia a libertação. Uma brisa de liberdade flui desta imagem. O Precursor havia visto o Espírito descer sobre Jesus no dia do Batismo no Jordão e este Espírito é aquele que emancipa o ser racional, tornando-o livre das cadeias do mal.  Este Cordeiro é também aquele do profeta Isaias, o Cordeiro imolado, o servo sofredor. Surge então a efígie de Cristo na sua cruz, uma vida dada para que todos tenham a vida eterna. Eis aí como João contemplava Jesus, o Cordeiro de Deus. Jesus dirá mais tarde: “Eu vim para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância”(Jo     10,10). João viu em Jesus este Cordeiro de Deus, o cristão deve ver no próximo a figura de Jesus que disse: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,4).  Quando se valoriza uma pessoa é a Jesus que se está valorizando. Isto torna cada ação luminosa, porque a qualquer momento se está sempre a serviço de alguém  no qual se deve servir o Cordeiro de Deus. Entretanto, antes é preciso, de fato, ter olhos de João Batista para ver o próprio Jesus não tanto no sentido físico, mas contemplativo e místico. Ele deve ser a esperança daquele que nele crê, porque é Ele quem tira o pecado do mundo. João Batista fala do pecado no singular, o qual este Cordeiro vem apagar. Este pecado é a recusa do ensinamento que Jesus veio transmitir ao mundo da parte de Deus, recusando o plano teológico do Messias, plano exposto no Evangelho. Cumpre seguir sempre o Cordeiro de Deus, manifestando-O ao mundo, impregnando a sociedade com sua mensagem sublime. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez homem para se tornar este Cordeiro que repara a injúria da criatura ao seu Criador. Isto porque grande foi o amor de Deus para com a humanidade prevaricadora. O amor, realmente, custa caro e no Calvário o Cordeiro divino foi imolado. Cumpre então aos que foram resgatados com seu sangue preciosíssimo amá-lO de preferência ao pecado e a tudo que se opõe aos preceitos do Ser Supremo tantas vezes desprezados. É preciso uma luta sem tréguas contra tudo que foi causa do sofrimento de Jesus, combatendo a hipocrisia e desmascarando as falsidades que campeiam na mídia, todos os erros que se encobrem com o termos como “politicamente correto”, assertiva. em si. certa, mas cujos desdobramentos levam a desvios lamentáveis. Pugna contínua contra um pacto social entre o bem e o mal. A fé do cristão ou é explícita ou é morta. A vitalidade da fé de um cristão depende de seu dinamismo manifestado nas suas obras, no seu modo de ser. Nada mais condenável do que ter Jesus nos lábios e o mundo no coração. A imagem do Cordeiro de Deus deve se refletir em todo o ser daquele que Ele redimiu, brilhar em todo seu comportamento, em toda sua mentalidade. Trata-se então do amor contagioso que salva, que arrasta, que ilumina os que estão nas trevas, porque não amam a verdade.  Esta verdade é o lugar de um combate contra o erro, contra o medo de testemunhar o Evangelho. O fiel ao Cordeiro de Deus é o lampadário de Sua luz salvífica. Os profetas do mal, porém, continuam através dos tempos a imolar o Cordeiro de Deus pregando anomalias que ferem a ordem estabelecida por Deus. É que o Cordeiro de Deus será, de uma maneira ou de outra, imolado através dos tempos por aqueles que não acatam sua redenção redentora lá no Gólgota. Entretanto, testemunhar a verdade vale a pena, pois apenas ela liberta. No fundo de si mesmo todo ser humano sabe disto, mas se deixa muitas vezes enganar. Deseja a verdade como bem supremo, mas o relativismo ilude os incautos  e acaba conduzindo ao desespero. Cumpre que todos os católicos não ajam por ingenuidade, ou por ignorância de sua fé, ou por indolência espiritual. Que não tenham medo de denunciar os erros dos arautos do ceticismo e do utilitarismo. Lutar e testemunhar se tornam a melhor homenagem que se faz ao Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.

     

    * Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, Professor durante 40 anos no Seminário de Mariana.