Com a parábola do fariseu e do publicano Jesus mostrou como diante de Deus é abominável o egocentrismo e louvável a humildade (Lc 18, 9-14). Naquele tempo se podia identificar o fariseu pela prática de uma piedade ostensiva, um formalismo hipócrita, aquele que acreditava encarnar em si a perfeição moral e cujos julgamentos sobre o comportamento dos outros eram severos. O fariseu era obcecado por virtudes que julgava possuir em alto grau. O publicano, coletor de impostos, era tristemente associado aos pecadores (Mt 9,11). Jesus, porém, entrava em contato com eles, aceitava inclusive tomar com eles refeição (Mt 9,9-13). Chamou Mateus, um deles, para ser um dos doze apóstolos. Atitudes surpreendentes para os fariseus, cujo ritual de purificação merecia o repúdio de Cristo que dirá claramente que não era pelo exterior que alguém se purifica, mas pelo seu interior. Jesus apresenta um publicano como exemplo. o qual faz uma releitura humilde de sua vida e o seu “mea culpa” vinha do íntimo de seu coração que pedia a Deus misericórdia, “batia no peito”, dizendo “ó Deus, perdoa a mim que sou pecador”. O Deus do publicano era um Deus clemente que perdoa. Em cada um de nos hiberna um fariseu ou um publicano, mas a lição dada por Jesus é clara: “Quem se eleva será humilhado; quem se humilha será exaltado”. Na prece do fariseu pairava um desprezo com todas as suas agressividades, julgando que eram os escolhidos de Deus, sendo os outros excluídos do amor divino. Para eles o coração de Deus era assaz pequenino para amar até pecadores arrependidos. Enquanto o fariseu se gloria de sua religiosidade meramente exterior, o publicano fazia de Deus o confidente de sua miséria. Não ousava levantar os olhos porque sabia que Deus era o oceano de amor, mas amor que ele não merecia. Reconhecia a necessidade do perdão que o imergiria na compaixão sem limites do Criador. Não se julgava melhor do que os outros. Não se comparava com ninguém, mas sondava a si mesmo para poder reencontrar a bondade do Ser que é a benignidade infinita, três vezes santo. Diante de Deus ter senso do pecado não consiste em manifestar uma atitude de um arrependimento artificial, mas reconhecer humildemente as próprias falhas sem deixar que a falsidade esteja instalada no íntimo de si mesmo, impedindo um arrependimento sincero dos erros porventura cometidos, verificando até onde se deixou de praticar os mandamentos divinos e, sobretudo, de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta atitude leva à verdadeira conversão, afastando todo resquício de orgulho, fazendo cada um autêntico perante o Ser que tudo conhece. Então fica aberto o caminho da paz, situando-se o cristão diante de seu Senhor como criatura limitada, responsável pelas suas faltas que sinceramente aborrece e delas pede a anistia divina. Quem assim age contempla sempre maravilhas em torno de si. A humildade é a verdade sobre si mesmo e sobre Deus e daí a grandeza do publicano que se reconhecia como um pecador que implorava a comiseração divina. Esta deve ser a postura da criatura perante o Criador. Esta verdade deve se refletir nas relações de cada um com Ele. Se a humildade é a verdade então ela faz com que o ser humano reconheça a transcendência absoluta de Deus, manifestada na benevolência incomensurável de Cristo, o Redentor Esta é a realidade suprema e decisiva, a qual impede que haja vanglória das ações, julgando, como acontecia com o fariseu, que o mérito é fruto devido ao esforço pessoal. Sem a graça divina ninguém é justo, ninguém é santo e, assim sendo, não há porque se exaltar. Além disto, a humildade exige caridade a qual faltava também ao fariseu que se julgava melhor do que o publicano. Portanto, nada de se comparar com os outros, porque o julgamento é sempre de Deus que conhece as boas e más intenções de cada um e qual é o grau de amor que flui do íntimo do coração de quem Lhe quer ser fiel. A humildade é o fundamento da prece e esta é a elevação da alma a Deus. Do alto de seu orgulho o fariseu só enxergava em si virtudes, das quais faltava exatamente o alicerce essencial. Dos lábios do publicano fluía uma oração humilde e contrita. Aquele que se humilha é quem será exaltado por Aquele que tudo conhece e penetra fundo no coração do orante. Eis porque o humilde não exige nunca os favores de Deus, mas procura antes de tudo estar com a consciência limpa perante o Ser Supremo, doador de tudo. Como dizia Santo Agostinho, nós somos os mendigos de Deus e de si, por si mesmo, ninguém é virtuoso. Diz o Livro dos Provérbios: “Onde há humildade aí há sabedoria” (Prov. 11). É que Espírito Santo sempre busca o coração humilde.